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    Manifestações tomam noites de Istambul após tentativa de golpe

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ISTAMBUL

    25/07/2016 02h00

    Istambul, 23h50 de sexta (22). Carros buzinam como se um time de futebol tivesse ganho a copa nacional. Uma van com a porta aberta passa por uma rua residencial com quatro cabeças e seis bandeiras da Turquia para fora.

    "A república é do povo!", gritam os ocupantes do veículo.

    Uma mulher de meia-idade abre a janela do primeiro andar de um prédio e grita: "E continuará sendo!".

    GURCAN OZTURK/AFP
    Manifestantes agitam os braços e bandeiras na praça Taksim, em Istambul, em ato pró-democracia
    Manifestantes agitam os braços e bandeiras na praça Taksim, em Istambul, em ato pró-democracia

    A cena ocorre uma semana depois de o Exército tentar tomar o país por meio de um golpe. A investida fracassada provocou a morte de ao menos 290 pessoas e a prisão de quase 9.000 pessoas.

    Desde que o golpe foi abafado e o país entrou em um estado de emergência de três meses, declarado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, milhares de pessoas se manifestam todas as madrugadas.

    "Faz quatro dias que durmo duas horas por noite", diz a estudante Gulsin Kadir, 31. "Mas não é hora de dormir, é hora de mostrar que o povo está aqui." Ela é uma das centenas de pessoas a ocupar uma praça em Aksaray, bairro de classe média baixa de Istambul.

    Na entrada do aeroporto Atatürk, onde ocorreu um atentado terrorista em junho, um grupo ocupa o lugar com bandeiras e megafones. "Foi o primeiro lugar que as tropas fecharam. Isso não vai ocorrer de novo", afirma o estudante de química Yunus Elmar, 24.

    Além de buzinas, as noites de Istambul também ganharam outro som. Mesquitas que não faziam rezas noturnas passaram a abrir após as 22h.

    Alguns clérigos mudaram o namaz, ritual repetido cinco vezes por dia, incluindo passagens do Corão que geralmente são reservadas para ocasiões como funerais. "Estamos celebrando a união dos vivos, que é necessária no momento, não rezando pelos mortos", diz o imã Serif Curmu.

    VITRINES

    Outra demonstração de resistência é estética. A bandeira do país, com a lua e a estrela, estampa vitrines de lojas de rua. Mesmo grifes estrangeiras como a holandesa Scotch & Soda, colocaram lábaros à frente dos manequins.

    Por toda a cidade se lê "hakimiyet milletindir". O slogan, que ocupa pontos de ônibus e outdoors, significa "a soberania pertence à nação" e foi divulgado pelo governo turco horas depois de evitar o golpe.

    A mensagem também envelopou o centro cultural Ataturk, próximo à praça Taksim, ponto que centralizou as manifestações populares contra o governo em 2013.

    Foi no mesmo local que ocorreu, na tarde deste domingo (24), uma manifestação pró-democracia que uniu líderes do Partido Republicano do Povo, de oposição, e do governista AKP, que há anos não dialogavam em público.

    Após um protesto tranquilo, o sol se pôs e as ruas de Istambul voltaram a ser tomadas por buzinas e gritos de "salvem a república".

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