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    Cidade venezuelana na divisa com Brasil é oásis durante crise

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    AVENER PRADO
    ENVIADOS ESPECIAIS A SANTA ELENA DE UAIRÉN (VENEZUELA)

    25/07/2016 02h00

    Na Venezuela de Santa Elena de Uairén, cidade que faz fronteira com Pacaraima, no Estado de Roraima, não se vê filas nos supermercados -comuns no país assolado por grave crise de abastecimento.

    Favorecida pelo comércio com o Brasil, de onde vêm os alimentos que estão em falta no resto do país, e pelo dinheiro do garimpo e outras atividades fronteiriças, a cidade é considerada pelos venezuelanos um "oásis".

    "É a 'sucursal do céu'", diz o vendedor de carnes Rody Morales, em frente a um caminhão frigorífico que leva mercadorias a uma venda local.

    Avener Prado/Folhapress
    Mercado com gôndolas abastecidas de produtos brasileiros, em Santa Elena do Uairén, na Venezuela
    Mercado com gôndolas abastecidas de produtos brasileiros, em Santa Elena do Uairén, na Venezuela

    Natural de Mérida, no noroeste venezuelano, ele e toda a família se mudaram para a fronteira. É na sua cidade natal que são criados os bois que vende –uma média de 400 por semana. "Mas lá ninguém compra, não há dinheiro", diz. O pai, psicólogo, e a mãe, professora, largaram as profissões para trabalhar no ramo.

    "Aqui se toma café com açúcar. No norte, só vai açúcar quando tem", afirma o feirante Victor Villamizar, 30.

    Ele vende frutas e verduras no mercado municipal de Santa Elena. Lá, há alimentos em quantidade, especialmente itens como melão, banana, abacate e mandioca. A maioria é produzida na cidade.

    Já o arroz, a farinha, o açúcar e o óleo vêm quase todos do Brasil, e são mais caros -mas estão disponíveis, diferentemente do que ocorre em outras regiões.

    Mesmo em pequenos mercados, as prateleiras estão cheias dos produtos.

    Muitos moradores ouvidos pela Folha repetem a mesma frase, sobre os preços: "É caro, mas é um privilégio".

    "Aqui eu como três vezes ao dia. Minha família, só uma", diz Héctor Miranda, 48, que se mudou de Ciudad Bolívar, a 700 km ao norte, para Santa Elena há seis anos.

    FILAS RARAS

    Filas em lojas, só nas de pneus: o produto está em falta no resto do país, mas, graças à proximidade com a fronteira, ainda se encontra em Santa Elena, que importa a mercadoria do Brasil.

    Os países são ligados por uma rodovia, vigiada por algumas barreiras policiais. A ida até cidades fronteiriças é livre, e não precisa de autorização do governo. Muitos viajam ao Brasil para comprar comida.

    A crise, no entanto, ainda se faz presente: em vez de pão, feito do escasso trigo, come-se massa de casabe (feita de mandioca) ou cachapa (de milho).

    "O nosso prato principal virou a sopa", diz a comerciante Suzana Perez, 37, dona de um mercado. Misturam-se alguns vegetais, e pronto.

    Pelas ruas, moradores fazem fila com botijões, à espera do caminhão de gás. O produto é barato e abundante, mas controlado e distribuído pelo governo –assim como a gasolina. Nos postos, pessoas passam horas esperando pelo combustível.

    A crise, ainda que menos severa do que no resto do país, também desaqueceu o turismo. Brasileiros enchiam a cidade para comprar eletrônicos, autopeças e produtos importados, mais baratos devido ao câmbio favorável.

    O comércio fronteiriço diminuiu, e lojas fecharam –mas a cidade continua a atrair novos moradores, especialmente venezuelanos.

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