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    eleições nos eua

    Convenção democrata, que começa nesta segunda, focará tensão racial

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL À FILADÉLFIA

    25/07/2016 02h00

    O presidente da Câmara, Paul Ryan, decidiu tirar uma selfie com a nova turma de estagiários do Congresso -quase todos eles eram republicanos brancos, assim como ele.

    Em seguida, estagiários de um diretório democrata responderam com outra selfie, na qual negros eram maioria num time de várias cores.

    O episódio é um retrato da tensão racial que ronda os Estados Unidos no mês em que os principais partidos do país realizam convenções para apontar seus presidenciáveis.

    Spencer Platt/Getty Images/AFP
    Ativistas do Black Lives Matter protestam na Filadélfia neste domingo (24), véspera da convenção
    Ativistas do Black Lives Matter protestam na Filadélfia neste domingo (24), véspera da convenção

    O evento do Partido Democrata, que começa na Filadélfia, no Estado da Pensilvânia, nesta segunda (25), com discursos da primeira-dama Michelle Obama e do candidato derrotado nas prévias Bernie Sanders, promete ser o avesso da contrapartida republicana, encerrada na última quinta-feira (21).

    Hillary Clinton não foi o único saco de pancadas na convenção realizada em Cleveland (Ohio) e que chancelou Donald Trump como o candidato do partido à Presidência.

    Na mira, também estava o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam).

    Oradores negros e brancos se revezaram para defender a polícia, alvo de recentes atentados no Texas e na Louisiana, e condenar o movimento que, segundo Trump, "está dividindo a América" com seus protestos contra agentes vistos como racistas.

    "Alguém com um belo bronzeado precisa dizer isto: todas as vidas importam", afirmou o candidato a senador Darryl Glenn. Também negro, o xerife David Clarke usou manifestações em Ferguson, Baltimore e Baton Rouge -cidades onde policiais mataram negros em situações em que aparentemente não ofereciam risco- para acusar o Black Lives Matter de provocar o "colapso da ordem social".

    MÃES

    O partido de Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, vai na direção oposta. Convidou para falar, ao lado do ex-presidente Bill Clinton, mães de vítimas negras: Eric Garner (asfixiado com uma chave de braço), Trayvon Martin (que usava um capuz "suspeito") e Michael Brown (acusado de roubar US$ 50 em cigarros). Nenhum deles estava armado.

    O palco dos republicanos também recebeu mães. No caso, de soldados mortos na Líbia quando Hillary era secretária de Estado e de vítimas de imigrantes ilegais -estes, responsáveis pela criminalidade, segundo Trump, candidato "da lei a da ordem.

    Entre os republicanos, há dúvidas se vale a pena investir no eleitorado afroamericano, historicamente inclinado à legenda rival. Em público, o magnata diz que é benquisto por essa base. Em comício, em junho, exclamou ao ver um único simpatizante negro num mar de brancos: "Veja meu afroamericano!".

    As pesquisas o contradizem. Só 1% dos negros votaria em Trump, segundo a Universidade Quinnipiac. Em sondagem da NBC, o apoio cai para zero na Pensilvânia e em Ohio, Estados-pêndulos (que preferem ora republicanos, ora democratas) e sedes das reuniões partidárias.

    "Não é redundância dizer que a convenção republicana de 2016 foi a mais branca das convenções mais brancas", escreveu em seu site o analista político Earl Hutchinson.

    Dos 2.472 delegados que representavam seus Estados, só havia 18 (0,7%) negros. O país tem 13% de afroamericanos.

    Suplente na delegação da Geórgia e negra, Vivian Childs diz à Folha que o problema é o desinteresse de muitos de seus pares em ser representante republicano. "Nem sempre foi assim." Verdade. Até meados do século 20, eram os democratas que repeliam a comunidade.

    Na convenção da legenda em 1868, o slogan era: "Este é um país de homens brancos. Deixem um homem branco comandá-lo".

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