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    Turquia emite ordem de detenção a 42 jornalistas após tentativa de golpe

    DA FRANCE PRESSE

    25/07/2016 10h17

    As autoridades turcas anunciaram nesta segunda-feira (25) ordens de detenção contra mais de 40 jornalistas, em uma nova fase dos expurgos contra suspeitos de participar da tentativa fracassada de golpe no país.

    A Justiça turca ordenou a prisão de 42 jornalistas, poucas horas depois de decretar prisão preventiva para 40 militares em Istambul. Paralelamente e em um gesto a favor da unidade pouco habitual, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, planejava se reunir no palácio presidencial com os principais líderes da oposição nesta segunda.

    O objetivo era agradecê-los por sua "atitude determinada contra o golpe", embora o líder do partido pró-curdo HDP, acusado de apoiar o terrorismo por seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, rebeldes curdos), tenha ficado de fora do convite.

    Na véspera, o CHP (social-democrata), principal partido rival do islamita-conservador AKP (no poder), havia organizado uma grande manifestação em apoio ao governo na emblemática praça Taksim, em Istambul, para demonstrar rejeição ao golpe.

    Durante a manifestação, na qual não foram registrados incidentes, o chefe do CHP, Kemal Kiliçdaroglu, convocou o governo a respeitar o Estado de direito e "punir o quanto antes" os que lincharam soldados na noite do levante.

    A ONG Anistia Internacional afirmou no domingo (24) que havia reunido "provas confiáveis" de torturas e estupros de pessoas detidas após a tentativa de golpe de 15 de julho, que deixou ao menos 290 mortos.

    A magnitude do expurgo posterior –13 mil pessoas em prisão preventiva, 5.800 detidos e dezenas de milhares de funcionários demitidos ou suspensos provoca uma grande inquietação dentro e fora da Turquia.

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    "PAGARÃO O PREÇO"

    Entre os jornalistas que são alvos de uma ordem de detenção se encontra Nazli Ilicak, figura de destaque na Turquia, demitida do jornal pró-governo "Sabah" em 2013 por ter criticado ministros envolvidos em um escândalo de corrupção, informou a agência de notícias Anatolia.

    Até o momento, cinco foram detidos e 11 estavam supostamente no exterior, indicou a agência Dogan. A polícia buscava Ilicak no centro da cidade costeira de Bodrum.

    No dia 19 de julho, o regulador turco dos meios audiovisuais havia retirado a licença de transmissão de muitas redes de televisão e rádio suspeitas de apoiar a rede do pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos desde 1999 e acusado de instigar o golpe, embora ele desminta estas acusações.

    Umit Bektas/Reuters
    O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante anúncio de estado de emergência de três meses no país
    O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em anúncio de estado de emergência de 3 meses no país

    No sábado passado, o presidente Erdogan advertiu em uma entrevista à rede de televisão France 24 que se "os meios de comunicação apoiarem o golpe de Estado, sejam meios audiovisuais ou outros, pagarão o preço".

    Além disso, 31 intelectuais e professores foram detidos em uma operação em Istambul por seus supostos vínculos com Gülen. Erdogan deve receber nesta segunda-feira o líder do CHP, que jurou que nunca colocaria os pés no Palácio Presidencial, e o chefe do Partido de Ação Nacionalista (MHP, direita), Devlet Bahceli.

    Na quinta-feira (21), o estado de emergência foi instaurado pela primeira vez em 15 anos na Turquia, onde os dias de prisão preventiva legal passaram de quatro a 30 e mais de 2.000 instituições foram dissolvidas.

    Quem é quem -

    Detida na noite de sábado, a segunda mulher convertida em piloto militar na Turquia, Kerime Kumas, reconheceu ter pilotado um helicóptero que transportou golpistas, embora tenha garantido que na ocasião não sabia que se tratava de um golpe de Estado.

    O chefe do Estado-Maior do exército turco, Hulusi Akar, que enfrentou os golpistas e foi feito refém, afirmou aos investigadores em um comunicado que os generais rebeldes disseram que ele poderia falar pessoalmente com Gülen caso se unisse a eles.

    "Disse 'vocês estão no caminho errado'. Falei 'não façam isso, não derramem sangue', mas (o general rebelde) Mehmet Disli disse 'já tomamos esse caminho. Não voltaremos atrás'".

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