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    Série de ataques terroristas incentiva extremistas a imitar ações anteriores

    DANIEL BUARQUE
    DE SÃO PAULO

    27/07/2016 02h00

    Enquanto a facção terrorista Estado Islâmico perde terreno no Oriente Médio, a Europa enfrenta com ansiedade uma onda de atentados que gera uma forte sensação de insegurança e alimenta radicalismos e intolerância entre a população.

    Parece um paradoxo, mas é a estratégia bem-sucedida encontrada pelo EI para continuar a "mobilizar suas tropas, transmitir sua propaganda e recrutar mais 'soldados'", explica a professora do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade Stanford Cécile Alduy.

    Geoffroy van der Hasselt/AFP
    Moradores de Paris prestam homenagens às vítimas dos últimos ataques terroristas na França nesta terça
    Moradores de Paris prestam homenagens às vítimas dos últimos ataques terroristas na França nesta terça

    "Cada ataque terrorista leva outros candidatos a radicais a partirem para a ação", disse à Folha, por e-mail.

    "Há um efeito de imitação. Indivíduos radicalizados fascinados pela violência e ideologia radical islâmica usam ataques anteriores como modelos para suas próprias ações terroristas", explicou.

    Segundo ela, mesmo que a sequência de atentados ocorra de forma espalhada e caótica, e que haja poucas evidências de uma ligação real deles com o EI, há algo que liga esses atentados.

    "O denominador comum que as pessoas não deixam de perceber é o radicalismo islâmico, bem como o perfil sucinto dos terroristas: imigrantes ou descendentes de imigrantes, agora refugiados sírios. Isso parece o suficiente para validar o discurso da extrema-direita", disse.

    Violência em Julho

    DISCURSO POLÍTICO

    Alduy atualmente desenvolve um projeto de pesquisa sobre políticas de identidade e a extrema-direita na França. Este tema, ela explica, se reflete fortemente na reação social e política da Europa à recente onda de atentados.

    "Quando o medo, a tristeza, a raiva e a confusão prevalecem —e quem pode culpar os europeus por se sentirem assim neste momento?—, as pessoas querem soluções rápidas e radicais", explicou, indicando o que impulsiona a resposta política radical.

    "Minutos após o ataque em Nice, políticos franceses aproveitaram o momento para lançar polêmicas gratuitas", disse, criticando a escalada violenta da retórica e as medidas propostas contra imigrantes e refugiados muçulmanos, "todos vistos como potenciais terroristas".

    Segundo ela, há pouco espaço e nos discursos públicos para análises com nuances. "É importante lembrar que 99% dos muçulmanos na França são cidadãos pacíficos que também estão com medo e tristes", diz.
    refugiados

    A pesquisadora diz que a avaliação vale também para os refugiados, que acabam sendo associados à escalada de ataques. "A Europa recebeu mais de um milhão de refugiados ao longo dos últimos 2 anos. Assim, a proporção de envolvidos em terrorismo é infinitesimal", diz.

    Para ela, entretanto, a opinião pública não dá atenção a este dado. "O que importa é a percepção de uma ameaça pelo fluxo de refugiados, e apenas um ou dois acontecimentos irão confirmar as opiniões de quem já está convencido de que isso é um perigo", explica.

    Além disso, ela complementa, o próprio EI se aproveita dos refugiados para criar medo e divergência na Europa. "Isso está alimentando sua retórica bem", diz.

    A resposta, ela defende, deveria ser diferente. "Em um Estado de Direito, não se pode punir preventivamente, e não se pode ter como alvo as comunidades, minorias étnicas ou religiosas", explica.

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