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    Economista conservador PPK assume presidência do Peru nesta quinta

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    28/07/2016 02h00

    Em fevereiro, a performance de Pedro Pablo Kuczynski na corrida presidencial do Peru era tão ruim –com 9% das intenções de voto e em queda– que sua própria equipe desistiu da campanha.

    A uma semana do segundo turno, PPK, como é chamado, ainda perdia por pelo menos cinco pontos para a então favorita, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), hoje preso por crimes de direitos humanos e corrupção.

    É por essas e outras razões que os peruanos assistirão ainda com certa surpresa a passagem da faixa presidencial de Ollanta Humala para PPK, nesta quinta-feira (28).

    "Nenhum analista esperava, mas o contexto foi sendo construído, com a saída de dois candidatos impugnados, o apoio de última hora da esquerda e as manifestações antifujimoristas pouco antes da votação", diz à Folha o analista Alberto Vergara.

    Tendo ganhado com 50,1% dos votos (uma diferença de 50 mil votos sobre a adversária) e com apenas 18 deputados em sua base de apoio no Congresso (contra 73 fujimoristas e 20 da Frente Ampla, ambas forças de oposição) as primeiras tarefas de PPK, 77, serão construir um diálogo no Parlamento e ganhar popularidade nas ruas.

    A favor do novo presidente joga uma economia que não anda tão mal para a média da região. Apesar de ter crescido apenas 2,7% em 2015 (após picos de 8% e 9% no boom das commodities) a perspectiva é de uma ligeira retomada ainda neste ano devido a uma ampliação nos investimentos em mineração.

    Com inflação e desemprego estagnados em 4% e 7%, respectivamente, PPK pretende implementar suas propostas de incentivar investimentos, flexibilizar leis trabalhistas e aumentar a arrecadação por meio do combate à informalidade.

    Essas são as ideias que tem veiculado desde a campanha e por meio de seu escolhido para comandar a pasta da economia, Alfredo Thorne.

    MINISTÉRIO

    A maior parte de seu ministério tem perfil parecido ao seu: economistas ou administradores com muita experiência no setor privado. Poucos passaram pela vida pública.

    No posto de primeiro-ministro (espécie de ministro-chefe do gabinete), PPK colocou Fernando Zavala, seu vice na pasta de economia durante a gestão Alejandro Toledo (2001-2006) e até então presidente-executivo da principal cervejaria peruana. Por ser mais jovem (tem 45) e com bom trânsito com o empresariado fujimorista, PPK acredita que Zavala pode construir uma ponte com a oposição.

    O presidente eleito também chamou mulheres para postos-chave do ministério, como Marisol Pérez Tello, que assumirá a Justiça, Cayetana Aljovin (Desenvolvimento), Elsa Galarza (Ambiente) e Ana María Romero-Lozada (Mulher).

    "PPK precisa continuar atuando como candidato um pouco mais, construir sua legitimidade, mostrar contato com a sociedade. E está fazendo isso bem, dialogando e viajando", diz Vergara.

    Raio-x Peru

    Segundo pesquisa divulgada nesta semana pelo instituto GFK, 75% dos peruanos esperam que PPK anuncie medidas contra a violência e a falta de segurança, principais preocupações no país.

    Ollanta Humala, seu antecessor, deixa o cargo com 23% de aprovação. As pesquisas destacam, em sua gestão, a reforma da educação e o fato de ter mantido a economia em um bom patamar diante da desaceleração global.

    PERFIL

    Aos 77, PPK será um dos presidentes mais velhos a conquistar o cargo na história recente da América Latina. Nascido no Peru, seus críticos gostam de chamá-lo de "gringo" devido ao sotaque.

    Tendo estudado economia e filosofia na Universidade de Princeton, ele passou nos EUA boa parte da vida adulta, trabalhando para o Banco Mundial, bancos privados e a própria empresa de financiamento e gerenciamento de investimentos.

    Apesar de manter um perfil discreto, a trajetória de PPK tem algo de cinematográfico. Seu pai foi um médico alemão que deixou a Alemanha hitlerista para se embrenhar na selva peruana e estudar a lepra. Foi ele que fundou o leprosário em que o jovem Ernesto Che Guevara fez um de seus primeiros discursos sobre a injustiça na América Latina.

    Outro detalhe interessante da vida de PPK é o parentesco próximo com artistas.

    Por parte da mãe, a franco-suíça Madeleine Godard, PPK é primo-irmão do cineasta Jean Luc Godard. Além disso, sua mulher, a norte-americana Nancy Lange, é prima da atriz Jessica Lange, de "American Horror Story" e "Céu Azul".

    Antes de se envolver com a política, PPK também tentou virar artista. Estudou no Royal College of Music, de Londres, e aprendeu a tocar piano e flauta.
    Em sua casa, em Lima, uma mansão no bairro nobre de San Isidro chamada de PPKasa, está um piano que pertenceu a Noël Coward.

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