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    Republicano anti-Trump defende voto em Hillary em convenção democrata

    MARCELO NINIO
    ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA

    28/07/2016 19h14 - Atualizado às 00h03

    A última noite da convenção democrata teve um estranho no ninho. O consultor político Doug Elmets, republicano a vida inteira e um dos porta-vozes do governo de Ronald Reagan (1981 -1989), subiu ao palco para o que achava impensável: atacar o candidato de seu partido.

    Assustado com a possibilidade de Donald Trump chegar à Presidência, Elmets iniciou um movimento de republicanos por Hillary Clinton e se resignou a apoiar o Partido Democrata pela primeira vez desde que começou a votar, há 40 anos.

    Divulgação/Divulgação
    Doug Elmets, que integra grupo de republicanos pró-Hillary e discursa na convenção democrata
    Doug Elmets, que integra grupo de republicanos pró-Hillary e discursa na convenção democrata

    "Trump é um astro de reality show petulante, perigoso e desequilibrado, que afaga tiranos e aliena aliados", disse diante dos delegados democratas. "Embora Hillary tenha muitas posições que diferem das minhas, suas qualificações são inegáveis."

    O fogo amigo contra Trump foi reforçado por Jennifer Pierotti Lim, co-fundadora do grupo Mulheres Republicanas por Hillary, que falou logo em seguida.

    A decisão de discursar na convenção do partido rival teve um custo pessoal, contou Elmets à Folha. Vários amigos republicanos consideraram o apoio a Hillary "uma heresia", mas ele não cedeu à pressão.

    "Trump não representa o melhor dos EUA, nem os valores básicos do Partido Republicano", disse à Folha ao chegar à Filadélfia, onde ocorre a convenção. Ele acusa o bilionário de "sequestrar" a legenda para seus próprios fins. "O Partido Republicano virou o Partido de Trump".

    Mas não houve só críticas entre os republicanos. Ele conta que recebeu centenas de emails de apoio.

    Dono de uma consultoria política na Califórnia, Elmets dedicou as últimas décadas a derrotar os democratas, até Trump entrar na história. "Quatro anos de Hillary são preferíveis a um dia de Trump", diz.

    Além do desgosto político, há também uma motivação pessoal para que Elmets se volte tão ativamente contra Trump, que debochou de um repórter deficiente físico durante sua campanha.

    "Tenho uma linda e engajada sobrinha que é deficiente, e Donald Trump me ofendeu quando tentou fazer com que ela se sentisse pior do que os outros. Que tipo de pessoa faz isso?", afirma. "Danielle dá mais duro todo dia para fazer as coisas simples da vida do que Trump jamais trabalhou a vida inteira. E ela faz isso com graça e humildade".

    DEMOCRATAS POR REAGAN
    Ainda que sem o ressentimento provocado por Trump e em menor escala, o movimento de republicanos por Hillary tem um paralelo no outro lado do espectro, os chamados "democratas de Reagan", que ajudaram a eleger o republicano duas vezes, em 1980 e 1984 —na segunda vez, em 49 dos 50 Estados americanos.

    Alguns comparam Trump a Reagan, hoje um ícone republicano, mas que na época de sua campanha presidencial também foi apontado como uma estrela do show business sem capacidade de comandar a maior potência do mundo. Para Elmets, que conviveu com Reagan, a comparação é absurda.

    "Acredite, Donald Trump não tem nada de Ronald Reagan", diz. "Reagan era o candidato da esperança. Trump é o candidato do medo."

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