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    Ministério da Educação francês proíbe dissecação de animais em escolas

    DA RFI

    29/07/2016 09h58

    Richard Bouhet/AFP
    Students react after viewing the results of the baccalaureat exam (high school graduation exam) on July 5, 2016 at the Moulin Joli high school in La Possession, in the French overseas department of La Reunion. / AFP PHOTO / RICHARD BOUHET
    Estudantes franceses não poderão mais dissecar animais nas escolas

    Depois de uma longa batalha entre Ongs de defesa de direitos animais, sindicatos de professores e governo, o Ministério da Educação da França anunciou nesta semana que a dissecação de vertebrados para fins científicos está proibida nas escolas do país. A maioria dos estabelecimentos de ensino ainda utilizam a prática nas aulas da disciplina Ciências da Vida e da Terra (SVT). Os animais mais comuns utilizados para o estudo da anatomia são camundongos, rãs e coelhos.

    A circular do Ministério francês da Educação é clara: a dissecação de animais nas aulas de SVT, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio do país, para fins científicos está proibida. Mais de 2 milhões de animais são sacrificados por ano na França em nome da ciência.

    No entanto, vertebrados que não foram mortos com a única finalidade de serem dissecados em sala de aula ou órgãos dos mesmos, ainda poderão ser utilizados pelas escolas. Ou seja, a legislação ainda permite que animais utilizados na alimentação, como rãs, continuem sendo dissecados em sala de aula.

    "Os professores, dentro de sua liberdade pedagógica, julgarão qual a melhor forma de trabalhar as competências científicas com seus alunos, dentro da preocupação de enriquecer o conhecimento dos alunos, mas também de sensibilizá-los para respeitar os seres vivos", escreve a ministra da Educação Najat Vallaud-Belkacem em comunicado. A recomendação é que as escolas favoreçam a utilização de modelos anatômicos, vídeos, animações e programas de simulação de organismos de animais.

    Um dos principais sindicatos de professores da França, o SNE-FSU, defensor da permanência das dissecações no programa escolar, alega, em vários comunicados publicados em seu site, que as alternativas propostas pelo governo para substituir os animais nas aulas de ciência são ineficazes porque não permitem a manipulação e o contato com os seres vivos. A decisão é um "entrave suplementar à liberdade pedagógica e que favorece o desaparecimento de trabalhos práticos nas aulas de SVT", publica o órgão em sua página na internet*.

    ONGS COMEMORAM DECISÃO

    "A circular do Ministério da Educação é um boa notícia para nós", diz Arnaud Gavard, porta-voz da associação Pro Anima, que realiza há vários anos a campanha "Dissecação Objeção". Segundo ele, a decisão mostra aos alunos que é preciso respeitar os seres vivos e motiva os professores e alunos a encontrar alternativas de ensinar e aprender sem matar os animais.

    Para Gavard, a posição de alguns sindicatos e professores é incompreensível, "uma afronta ao progresso", classifica. Ele ressalta que há inúmeras alternativas para ensinar anatomia, sem que seja necessário matar os animais. "Não há razões para interromper a vida de milhares de seres vivo apenas para uma aula que vai durar cerca de meia hora", reitera.

    Já o diretor da Ong Antidote Europe, André Ménache, lamenta que alguns animais ainda continuarão sendo dissecados, mas espera que a decisão do governo vá estimular os estabelecimentos de ensino a colocar um fim à prática. "No mundo inteiro, observamos que os estabelecimentos de ensino utilizam cada vez mais outros métodos que não seja a dissecação nas aulas de Ciências e Biologia", enfatiza. Por isso, a campanha da organização, "Ensinar sem Animais", terá seguimento.

    Ménache também lembra que muitos professores são contra a prática e que alguns alunos, mais sensíveis, se sentem mal durante as aulas. O ativista sugere que os bichos sejam estudados vivos, na natureza. "É desta forma que a noção de respeito à vida será repassada aos alunos", diz. Além disso, preconiza, "os tempos mudam e precisamos acompanhar a evolução de comportamentos e de ideias".

    MOBILIZAÇÃO

    No blog da Pro Anima, multiplicam-se os depoimentos de pais e alunos que protestam contra a dissecação de animais. Há três anos, o caso de uma garota de 12 anos da cidade de Rouen, no norte da França, comoveu o país. Ela liderou uma petição contra o métodos para estudar anatomia nas escolas e escreveu uma carta aberta ao governo francês, pedindo o fim da prática. "Será que precisamos massacrar os bichos para aprender?", diz, descrevendo o mal estar que sentiu ao ver colegas se divertindo ao retalhar um peixe morto na aula de Ciências.

    Já para o estudante Elie Straumann, de 15 anos, a dissecação serve para ir além das teorias das aulas de SVT. Ele conta que a maioria de seus colegas aprecia a aula "porque é uma maneira diferente de aprender", mas lembra que alguns tiveram problemas com a prática. "Como trabalhamos em dupla, quem não queria fazer a dissecação, deixava o outro colega fazer", diz, ressaltando que os animais utilizados em sua escola já estavam no final do ciclo vital.

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