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    Turismo turco tem queda de 40% após atentados em Ancara e Istambul

    FERNANDA CASTELHANI
    DA RFI

    01/08/2016 10h36

    Murad Sezer/Reuters
    Tourists enter the Byzantine-era monument of Hagia Sophia as they pass by an armoured police vehicle in the Old City of Istanbul, Turkey, July 13, 2016. Picture taken July 13, 2016. REUTERS/Murad Sezer ORG XMIT: GGGIST02
    Turistas em frente à basílica de Santa Sofia passam por veículo da polícia em Istambul

    A crise no setor do turismo teve início ainda no verão passado, quando foi finalizado o cessar-fogo entre as autoridades turcas e o grupo armado curdo, PKK.

    Em seguida, houve, em outubro, um atentado que matou mais de cem pessoas em Ancara. No mês seguinte, a Turquia abateu um caça russo que invadiu o espaço aéreo e os dois países cortaram relações em diversos setores, entre eles, o turismo.

    Mas a fuga significativa de visitantes foi sentida pouco a pouco a partir de janeiro deste ano, depois que um homem-bomba causou a morte de 12 estrangeiros no coração histórico de Istambul, Sultanahmet. Em março, o alvo foi o centro de compras mais movimentado, a avenida Istiklal, quando quatro turistas morreram.

    Kaan Soyturk/Reuters
    Tourists enjoy a beach in the Mediterranean resort city of Antalya, a popular destination for German tourists, in Turkey, July 25, 2016. REUTERS/Kaan Soyturk ORG XMIT: ANK01
    Turistas em praia do Mediterrâneo na cidade de Antália, destino popular entre alemães

    Outros dois graves ataques foram registrados em junho em Istambul: um perto de uma importante estação de metrô, a um quilômetro do famoso Grand Bazaar, e o outro no aeroporto internacional Atatürk, matando 42 pessoas.

    O país, que recebeu 37 milhões de turistas em 2014, viu, até o fim do primeiro semestre de 2016, uma queda de 40% no número de visitantes, de acordo com o Instituto Turco de Estatísticas. Os dados, divulgados recentemente, referem-se, no entanto, a um período anterior à tentativa de golpe militar, ocorrida em 15 de julho, e de o governo decretar estado de emergência.

    A crise não se deve somente ao terrorismo, mas também à instabilidade política. Por isso, para até o fim deste ano, os analistas preveem perdas próximas a US$ 5 bilhões no turismo, levando a uma redução de 0,5% no PIB do país.

    PREJUÍZOS AO COMÉRCIO LOCAL

    Diversos países têm divulgado cada vez mais alertas de segurança aos seus próprios cidadãos sobre viagens à Turquia. É o caso dos alemães, que eram os que mais viajavam à Turquia. Em um ano, contudo, um terço já desistiu da viagem.

    Os números mostram que o declínio dos gastos dos turistas é ainda maior do que a diminuição no número de visitantes. Nesse aspecto, a perda principal vem dos russos que, apesar de serem número dois na lista, são os que mais gastam na Turquia.

    Eles costumavam lotar Antália, na costa mediterrânea da Turquia, onde a maioria dos estabelecimentos até fala russo para atender aos turistas. Mas um dos principais hotéis de luxo da região, o Garden Resort Bergamot, por exemplo, deveria estar mais de 70% ocupado nesta época, sendo que apenas um em cada dez quartos do estabelecimento foi preenchido.

    Por isso, em todo país, a força de trabalho diretamente ligada ao setor está sendo atingida: na média, cerca de 10% dos funcionários da área hoteleira foram demitidos. Ruas mais tranquilas nessas regiões costeiras e também aqui em Istambul, onde as filas são visivelmente menores nas atrações turísticas, em plenas férias de verão, afetam também o comércio local.

    Na Capadócia, por exemplo, lojistas das famosas lojas de tapetes, cerâmicas e joias relatam o pior faturamento das últimas duas décadas. Não há informações oficiais sobre a redução de brasileiros, mas a Embaixada do Brasil também alerta para que os turistas evitem aglomerações e, claro, manifestações políticas.

    REAPROXIMAÇÃO ENTRE TURQUIA E RÚSSIA É ESTRATÉGIA IMPORTANTE

    Há um mês, o governo turco se reconciliou com Israel e agora está se reaproximando da Rússia. Fazer as pazes na região faz parte da estratégia de tentar reativar o turismo e de melhorar a economia como um todo, com parcerias comerciais e energéticas.

    Depois do atentado de março, em Istambul, quando três israelenses morreram, Israel foi um dos que alertaram os próprios cidadãos a não viajarem mais à Turquia. Já a Rússia, em novembro de 2015, havia proibido as agências locais de viagem de venderem pacotes para a Turquia.

    Mas, há dez dias, as autoridades do Kremlin autorizaram a retomada dos voos. O encontro do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com o presidente russo, Vladimir Putin, na próxima semana, deve selar essa reconciliação.

    A tática aqui tem sido fomentar o turismo doméstico e reduzir os preços. A expectativa das grandes associações é que as regiões praianas tenham um retorno mais rápido de turistas estrangeiros do que as grandes cidades. Por enquanto, é a vizinha Grécia a alternativa número um de quem desistiu de conhecer a Turquia neste verão.

    Mas a Federação Hoteleira Turca mesmo já afirmou que a principal lição a ser aprendida é que o turismo vive de mãos dadas com a paz, tanto interna quanto com os vizinhos. Essa imagem não deve ser revertida tão rapidamente nos próximos anos.

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