• Mundo

    Friday, 03-May-2024 13:47:34 -03

    eleições nos eua

    Como Trump e Obama colocaram os republicanos em uma encruzilhada

    JENNIFER STEINHAUER
    DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

    04/08/2016 07h00

    Quando Donald Trump abaixa o nível, os republicanos no Congresso fazem silêncio.

    A tolerância deles em relação a Trump, mesmo correndo o risco de serem humilhados, vem de um misto complexo de cálculos que diferem um pouco no caso de líderes do Partido Republicano ou políticos republicanos que querem ser reeleitos.

    Mas todos concordam em relação a um ponto: nunca antes viram uma situação comparável à atual, com um presidenciável em estado de guerra aberta com líderes partidários depois da convenção que o nomeou candidato.

    E as provocações de Trump estão enfraquecendo o controle dos republicanos sobre o Senado, possivelmente até sobre a Câmara dos Deputados.

    Muitos republicanos, mesmo aqueles cujo desprezo por Trump só não perde para sua má vontade em relação ao presidente Barack Obama, ainda enxergam a escolha entre Trump ou Hillary Clinton como sendo uma opção binária que terá consequências de longo prazo para todas as áreas de política pública que interessam a eles, desde as nomeações judiciais até a economia e a imigração.

    Eles acreditam que Trump, guiado pelo Congresso sob controle republicano, vai favorecê-los mais do que Hillary jamais faria.

    Para outros, a vaga aberta na Suprema Corte —com seu potencial de moldar e mudar as decisões da Corte por anos ainda— pesa mais que praticamente qualquer outra coisa, mesmo as declarações cada vez mais erráticas de seu candidato e seu domínio tênue de informações básicas.

    "A Suprema Corte é provavelmente a escolha que terá o maior efeito isolado de longo prazo sobre o país", disse o deputado republicano Jason Chaffetz, de Utah, onde Trump está tendo dificuldade em conquistar o apoio de um Estado de grande maioria republicana.

    REELEIÇÃO

    Republicanos candidatos à reeleição —especialmente os poucos como os senadores John McCain, do Arizona, e Kelly Ayotte, de New Hampshire, que ainda têm primárias pela frente— fizeram um cálculo básico. Criticaram Trump, mas não revogaram seu endosso ao candidato.

    E também os líderes do Partido Republicano decidiram que, quando mais se distanciarem de Trump, maior é a probabilidade de perderem suas maiorias no Congresso.

    Incorrer no desagrado dos partidários de Trump lhes custaria votos suficientes para fazê-los perderem suas vagas no Congresso. Seus temores em relação a esse ponto parecem justificados.

    Pesquisa feita pela CBS News na última semana de julho concluiu que o apoio dos eleitores republicanos a Trump subiu de 79% para 81%. Por isso, os líderes, em sua maioria, reagiram aos ataques de Trump fingindo indiferença.

    "Os líderes republicanos eleitos estão numa situação difícil", comentou Nathan L. Gonzalez, editor do boletim não partidário "The Rothenberg & Gonzalez Political Report".

    "São criticados por não ouvirem as bases e por não denunciarem o escolhido pelas bases. Alguns relutam em atacar Trump porque, se o fizessem, correriam o risco de perder o apoio de 35% a 40% do partido que o apoiou nas primárias."

    Na terça-feira (2), Trump fez questão de se negar a dar apoio ao presidente da Câmara, Paul D. Ryan, e chegou perto de expressar oposição aberta a McCain e Ayotte, horas apenas depois de Obama ter desafiado os republicanos a rejeitarem seu candidato nomeado.

    ENCRUZILHADA

    Tanto Obama quanto Trump colocaram os republicanos numa posição inviável: criticar seu candidato poderia ser visto como dar ouvido aos conselhos de um presidente que seus eleitores de base rejeitam fortemente, com isso correndo o risco de afastar as pessoas de quem eles precisam para se reeleger.

    Mas ficar passivos enquanto Trump os ataca e faz declarações incendiárias pode provocar a rejeição de eleitores mais moderados.

    "Se vocês estão sendo obrigados a dizer e repetir que o que ele (Trump) disse é inaceitável, por que ainda o estão apoiando?", Obama perguntou durante entrevista coletiva à imprensa na terça (2).

    O porta-voz de Paul Ryan respondeu bruscamente que o presidente da Câmara nunca pediu o endosso de Trump.

    Enquanto isso, Kelly Ayotte, falando de sua defesa de um capitão do Exército morto cuja família Trump ironizou, mais ou menos fez pouco caso do assunto, dizendo apenas "falo o que eu vejo que é verdade".

    Enquanto muitos republicanos esperam que haja eleitores que talvez votem pela candidata democrata à Presidência, mas votem em candidatos republicanos para todos os outros cargos, não é fácil analisar todas as reações.

    Os líderes republicanos também sabem que, em um ciclo eleitoral anti-Washington, é mais provável que a base do partido esteja disposta a rejeitar candidatos que encarnam o establishment de Washington.

    Foi essa a lição que Ted Cruz aprendeu quando foi vaiado durante a Convenção Nacional Republicana, no mês passado, por ter-se negado a apoiar Trump.

    E é essa parte da explicação das críticas feitas ao senador Ben Sasse, do Nebraska, fundador do movimento Never Trump (Trump Jamais), por seu partido em seu Estado.

    E há a oposição veemente a Hillary Clinton, especialmente pela visão que os republicanos têm do papel dela nos ataques de Benghazi, assunto que domina a discussão entre republicanos há anos.

    "Eu, por acaso, considero que mentir para o povo americano é muito mais grave que o discurso decepcionante de Donald Trump", disse Chaffetz, presidente do Comitê de Fiscalização da Cârama. "Nada uniu os republicanos mais que Hillary Clinton."

    Tradução de CLARA ALLAIN

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024