• Mundo

    Sunday, 05-May-2024 12:06:52 -03

    Vantagem republicana entre brancos com nível superior cai com Trump

    LYNN VAVRECK
    DO "NEW YORK TIMES"

    04/08/2016 11h12

    Muitas pessoas acreditam que Donald Trump está prestes a refazer o Partido Republicano. Seu apelo não convencional entre os norte-americanos alienados das classes operária e média, que são atraídos pelo populismo, nativismo e protecionismo –a maioria deles, brancos–, levou a especulações de que ele não só está remodelando o partido, mas até mesmo, possivelmente, expandindo-o.

    O partido está mudando, mas dados destas eleições e das duas anteriores sugerem que algumas das alterações têm pouco a ver com a expansão de Trump em relação ao partido. Trump pode estar, pelo contrário, ajudando Hillary Clinton a expandir o Partido Democrata, remodelando seu próprio partido ao encolhê-lo.

    Ao comparar o eleitorado republicano de Trump com configurações anteriores do partido, como a de Mitt Romney em 2012 ou a de John McCain em 2008, surge um padrão: a chamada expansão do partido já tinha começado em 2012, com um movimento de homens brancos sem diploma universitário em direção a Romney –algo que antecede Trump.

    Ao utilizar dados de pesquisas do Pew Research Center coletados em junho de 2008, 2012 e 2016, é possível comparar como os candidatos se saíram entre diferentes grupos de eleitores. Deixando de lado por um momento as mudanças demográficas na população e como isso afeta as coalizões partidárias, há um resultado contundente entre os eleitores brancos.

    Clinton está indo muito melhor entre as mulheres brancas em 2016 do que Barack Obama em 2008 ou 2012. Nas duas eleições de Obama, ele perdeu entre as mulheres brancas por um dígito (por três pontos percentuais e depois por seis). As pesquisas mostram que Clinton está liderando nesse grupo –por 10 pontos.

    Poderia-se dizer que isso tem mais a ver com Obama do que com Clinton, mas perder o apoio das mulheres brancas de acordo com o grau de educação ajuda a ilustrar o papel que Trump pode estar desempenhando nessa mudança.

    ESTADOS-PÊNDULO - Saiba como estão os candidatos em Estados decisivos, em %

    Os grandes ganhos entre as mulheres brancas, para Clinton, vêm daquelas com educação universitária, embora mesmo mulheres brancas sem educação universitária tenham se deslocado um pouco em direção aos democratas em 2016.

    O grupo com nível universitário preferia Obama a McCain em 3 pontos, em 2008, e o presidente a Romney por um ponto em 2012, segundo dados do Pew. Mas elas estão preferindo Clinton a Trump por uma diferença de 31 pontos. Esse é um número sobre o qual vale a pena refletir.

    Clinton está ganhando o voto feminino branco de educação universitária por cerca de 30 pontos a mais do que os democratas nas duas últimas eleições presidenciais. De acordo com qualquer padrão, essa é uma mudança muito grande na opinião pública.

    Algo semelhante está ocorrendo entre os homens brancos, que normalmente preferiam os republicanos nas eleições presidenciais. Trump está deixando escapar um número significativo de homens brancos de nível universitário.

    McCain venceu entre esse grupo por 20 pontos, e Romney, por 11, de acordo com a série de pesquisas de junho, de anos eleitorais, do Pew. Mas Trump tem apenas uma vantagem de 7 pontos, de acordo com pesquisas.

    Ele vem afastando tanto homens como mulheres de nível educacional superior, enviando-os ao Partido Democrata em proporções maiores do que em anos de eleições presidenciais anteriores. Em outras palavras, ele ampliou o outro partido.

    Delegados - Número de delegados em cada um dos Estados-pêndulo

    Não é difícil entender por que isso está acontecendo. As eleições de 2016 se tornaram uma disputa entre a primeira mulher a concorrer como a candidata de um partido importante e um oponente do sexo masculino que tem, entre outras coisas, feito comentários explicitamente ofensivos sobre as mulheres e sua aparência.

    Mas nem todos estão reagindo assim. Os ganhos para os democratas entre os eleitores de nível universitário são apenas uma parte da história. Os dados da pesquisa também mostram que Trump está angariando modestas conquistas entre homens brancos, em geral, em cerca de cinco pontos a mais do que em 2012.

    O aumento vem de homens brancos sem educação universitária; ele chega a uma diferença de 10 pontos nesse grupo em relação a Romney, e a até 20 em relação às cifras de McCain em 2008.

    Isso faz com que a vantagem de Trump entre homens brancos sem educação universitária chegue a enormes 37 pontos de diferença em relação a Clinton. Isso também pode ser uma reação às palavras e ações de Trump, mas a tendência em direção ao Partido Republicano entre esses homens começou antes da candidatura de Trump, em ganhos registrados para Romney nas eleições de 2012.

    Se o partido está se expandindo dessa forma, os dados sugerem que Trump pode ser mais o resultado desse movimento do que a sua causa.

    Entre mulheres brancas, no entanto, a mudança em direção a Clinton parece mais pontual. Em ambos os grupos de educação, houve um afastamento de Obama em 2012 em relação a 2008.

    A volta deles à candidatura democrata em 2016 é apenas uma reação ao fato de Clinton ser a primeira mulher nomeada por um grande partido norte-americano ou é uma reação a Trump?

    Dado o grau de dificuldade que Clinton enfrentou ao lutar pelos votos femininos nas primárias do próprio partido contra o senador Bernie Sanders, parece improvável que as mulheres estejam inclinadas a ela, em termos gerais, por conta do gênero que compartilham. É mais provável que Trump as tenha levado a ela.

    Os cientistas políticos falam muito sobre o quanto condições fundamentais como o estado da economia, o número de gestões em que um partido esteve no comando e a taxa de aprovação do presidente conduzem os resultados eleitorais e o quão difícil é para as campanhas mudar o resultado quando ambos candidatos estão batalhando pelo cargo.

    Mas 2016 parece um grande lembrete de que também importa quem são os candidatos –especialmente quando um partido faz uma escolha não convencional.

    Tradução de DENISE MOTA

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024