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    Sarkozy alimenta medo da população francesa mirando volta à Presidência

    ADAM THOMSON
    DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS

    06/08/2016 16h55

    Christophe Ena/Associated Press
    O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, líder do partido de centro-direita Os Republicanos
    O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, líder do partido de centro-direita Os Republicanos

    Em 2012, ao falhar em se reeleger presidente da França, Nicolas Sarkozy prometeu virar a página. Hoje, o centro-direitista de 61 anos está de volta à linha de frente.

    Pesquisas de opinião mostram que Sarkô, como é chamado, se aproxima de seu rival no partido Os Republicanos, Alain Juppé, na disputa para ser o candidato da legenda à Presidência em 2017 —as prévias, em novembro deste ano, podem produzir o próximo chefe de Estado da França.

    Quatro anos após deixar o cargo sob escândalos de financiamento partidário, as pesquisas indicam que ele ainda é impopular entre boa parte dos franceses. Juppé, ex-premiê, é mais bem visto em questões econômicas e trabalhistas, principais preocupações do eleitor local.

    Mas o clima de ansiedade que tomou a França após os atentados terroristas dos últimos 18 meses, que deixaram mais de 230 mortos, mudaram a equação, afirma Jérôme Fourquet, especialista em pesquisas no Instituto Francês de Opinião Pública.

    A população pede medidas duras para frear os ataques de inspiração islâmica, e dois terços dos franceses perderam confiança na capacidade do governo de lidar com o terrorismo, diz pesquisa.

    "O terrorismo virou o tema dominante para os próximos meses, e Sarkozy se adaptou mais rapidamente à nova realidade", afirma Fourquet.

    NOVOS TEMPOS

    Horas após um padre ser degolado na Normandia por extremistas islâmicos, no fim de julho, Sarkozy criticou a política de contraterrorismo regida por "benesses legais".

    "Isso mostra como temos que mudar a dimensão de nossa resposta ao terror islâmico", disse ao jornal "Le Monde". "Não podemos lidar com essa realidade com argumentos intelectuais do passado."

    Sarkozy e Juppé dividem propostas como regular mesquitas, aumentar o efetivo da polícia e dar mais poder aos serviços de inteligência.

    Mas Juppé insiste no respeito integral da lei. Já Sarkozy diz que tempos extremos pedem medidas extremas —entre outras coisas, ele defende deter 10 mil pessoas identificadas por autoridades locais como possíveis radicais.

    Sarkozy precisa se declarar candidato, o que deve fazer neste mês, e ter cautela ao criticar o presidente François Hollande em segurança.

    "Hollande retém a dignidade [do cargo], e isso é problema para Sarkozy", alerta Dominique Moïsi, conselheiro especial do Instituto Francês de Relações Internacionais. "Como atacar um símbolo do país em um momento de tanto sofrimento?"

    O ex-presidente é ainda uma figura divisora, algo que seu discurso enfatiza. "Ele é um polarizador em um momento em que os franceses pedem união", diz Moïsi.

    Qualquer eleitor pode participar das prévias dos Republicanos, e Fourquet prevê que, com a popularidade de Hollande minguando e as pesquisas indicando que a ultradireitista Marine Le Pen pode chegar ao segundo turno em 2017, os centristas e esquerdistas votarão para impedir um duelo Le Pen-Sarkozy.

    Nesse cenário amplo, Juppé tem dez pontos de vantagem sobre o rival. Com três meses até a votação e o temor de novos ataques, porém, o momento é de Sarkozy.

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