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    Maior grupo fora do Reino Unido, britânicos na Espanha temem 'brexit'

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ORIHUELA (ESPANHA)

    07/08/2016 02h00

    Do reumatismo ao enfisema, passando por uma ampla gama de doenças crônicas, o sol da Espanha é considerado remédio certeiro por milhares de britânicos que escolheram se aposentar junto às praias do Mediterrâneo.

    Remédio certeiro e gratuito, já que, como cidadãos da União Europeia, eles têm acesso sem custos ao sistema público de saúde espanhol, considerado por eles mesmos melhor que o NHS britânico.

    Com o "brexit", no entanto, o temor tomou conta dos expatriados —eles não se consideram imigrantes, palavra que reservam a outros— britânicos na Espanha. "Se perdermos o tratamento de saúde gratuito, muitos terão que ir embora", diz Robert Donnelly, 76, líder informal da comunidade em Orihuela, na região de Alicante (litoral leste da Espanha), onde vive há 29 anos.

    Fernanda Godoy/Folhapress
    Britânicos no Clube San Miguel, em Orihuela, na Espanha; expatriados no país temem futuro pós-'brexit
    Britânicos no Clube San Miguel, em Orihuela, na Espanha; expatriados no país temem futuro pós-'brexit'

    A saída da União Europeia ameaça os interesses de 253 mil britânicos que vivem na Espanha, país europeu que abriga o maior número de expatriados dessa nacionalidade, atraídos pelo clima cálido, pelos imóveis baratos e pela qualidade de vida. Esse número chega perto dos 800 mil quando se inclui a população flutuante que passa temporadas no país ibérico.

    Os destinos preferidos deles são as praias em Alicante (leste) e Málaga (sul).

    NOVA VIDA

    Donnelly é o diretor da federação de "bowling", espécie de bocha jogada sobre grama artificial, um dos hobbies preferidos dos aposentados britânicos que vivem em Orihuela, cidade praiana com cerca de 80 mil habitantes, dos quais ao menos 13 mil são ingleses.

    Editoria de Arte/Folhapress

    As partidas são disputadas no clube San Miguel, anexo ao Cheers Bar. A maioria dos frequentadores já passou dos 65 anos.

    Alegram-se em contar que trocaram um pequeno apartamento em Londres ou Manchester por uma casa com piscina próxima a uma das 11 praias de Orihuela. Vivem em guetos, com comércio britânico, jornais e estações de rádio em inglês, e mantêm pouco contato com os espanhóis.

    "Começamos a vir para passar férias e fomos ficando. Espero que Espanha e Reino Unido cheguem a um acordo, porque não queremos voltar para casa", diz a aposentada Jan Bright, 64. O acordo a que ela se refere terá que ser negociado entre o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, e os líderes do bloco.

    Pelo convênio em vigor, há 23 mil britânicos registrados junto à Comunidade Valenciana (governo do Estado) como residentes que recebem tratamento de saúde gratuito. Entre eles se encontra o militar aposentado Michael Evans, que ganha do Estado até os medicamentos de uso contínuo para tratamento de diabetes tipo 2 e hipertensão.

    "A saúde não foi fator determinante para escolhermos a Espanha. Mas, uma vez estando aqui, ela pesa de forma considerável na decisão de ficar", conta Evans, que mora há 17 anos na Costa Branca.

    A segunda maior preocupação dos britânicos que vivem na região de Alicante, e também dos comerciantes alicantinos, é a queda da cotação da libra esterlina após o "brexit".

    Os ingleses respondem por 7% da economia de Alicante, e são os maiores investidores do setor imobiliário. No último ano, compraram mais de 3.000 casas e apartamentos, movimentando 375 milhões de euros (R$ 1,3 bilhão). Os preços vão de 100 mil euros (R$ 350 mil) e podem chegar a 7 milhões de euros (R$ 24,5 milhões). Estrangeiros garantem metade da arrecadação do IPTU da cidade.

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