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    Exclusão agrava radicalismo islâmico, afirma psicóloga americana

    DANIEL BUARQUE
    DE SÃO PAULO

    06/08/2016 23h00

    A onda de atentados terroristas na Europa nas últimas semanas levou a uma escalada da retórica política de direita, em países como França e EUA.

    Enquanto o governo francês discute uma regulamentação da comunidade islâmica, o candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, chega a falar em banir os muçulmanos e proibir sua entrada no país.

    Esse tipo de política excludente pode ser contraproducente, segundo estudos sobre a psicologia relacionada ao radicalismo.

    Ao invés de tornar os países ocidentais mais seguros, a discriminação pode levar mais pessoas a abraçar a ideologia de grupos extremistas, como o Estado Islâmico, diz a psicóloga americana Sarah Lyons-Padilla, 30, em entrevista à Folha.

    Divulgação
    A pesquisadora Sarah Lyons-Padilla, de Stanford, especialista em psicologia da radicalizacao de muculmanos. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A psicóloga e pesquisadora americana Sarah Lyons-Padilla, 30, da Universidade de Stanford (EUA)

    Segundo ela, pesquisas indicam que a religião não é um fator tão importante para a radicalização de possíveis terroristas, e o que mais pesa é o fato de que grupos como o EI oferecem um propósito para pessoas que sentem que suas vidas não têm sentido.

    Pesquisadora da Universidade de Stanford e autora de um estudo sobre a radicalização de muçulmanos, ela diz que o Ocidente pode estar em um círculo vicioso, no qual os governos e a sociedade reagem com preconceito e políticas de exclusão, o que leva muçulmanos a se sentirem excluídos e potencialmente mais atraídos por radicais.

    "A psicologia tem estudado o que leva as pessoas ao terrorismo, e a teoria predominante é de que o principal motivador é a busca por significado, propósito de vida. Quando as pessoas sentem que o sentido da sua vida está sendo ameaçado, organizações extremistas ajudam a restaurar este sentido, oferecendo um sentimento de pertencimento, de significado, no trabalho feito em nome do grupo", afirma, minimizando a importância da motivação religiosa.

    MINORIAS

    Segundo ela, é por isso que as minorias são particularmente vulneráveis, pois elas tentam conciliar múltiplas identidades.

    "A maioria dos imigrantes consegue se sentir parte do país onde vivem, mas percebemos que há um grupo que se sente culturalmente sem teto —sem estar ligado ao país onde vive, nem à cultura da sua origem", diz. "A discriminação é uma ameaça ao sentido de propósito na vida das pessoas."

    Violência em Julho

    Enquanto as pessoas se sentem excluídas e discriminadas por esse tipo de política em países do Ocidente, o EI demonstra habilidade em psicologia e marketing para atraí-las ao radicalismo.

    "Eles formam mensagens de recrutamento bem fortes, dão a entender que os muçulmanos não são bem-vindos. O EI está tentando atingir muçulmanos no Ocidente com sua ideologia", afirma.

    Para ela, essa ação do EI ajuda a explicar por que os muçulmanos acabam se destacando entre os radicais, enquanto há preconceito e discriminação contra outras minorias no Ocidente.

    "Outros grupos não estão sendo atingidos por ideologias radicais assim."

    O caminho para a segurança do Ocidente contra os terroristas, segundo ela, está na integração das minorias, e não na exclusão.

    "O governo tem que deixar claro que é aceitável ter a nacionalidade local e se identificar como minoria ao mesmo tempo. É possível ser americano e muçulmano, por exemplo", diz.

    Por esse princípio, as pessoas não devem ser forçadas a deixar sua identidade cultural original ao mudar de país. "Integração é diferente de assimilação. Precisamos ajudar as minorias a se integrarem sem serem necessariamente assimiladas. Imigrantes se dão melhor quando conseguem manter os pés nos dois mundos, sem precisar deixar de lado sua cultura original", afirma.

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