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    Trump defende americanismo e é criticado por querer isolar o país

    JOHANNA NUBLAT
    DE SÃO PAULO

    07/08/2016 02h00

    Acordos assinados pelos Estados Unidos são um desastre ou estão obsoletos. É preciso erguer um muro entre o país e o México, para barrar a migração irregular.

    Os americanos gastam um dinheiro que não têm para agir como polícia em países ricos sem ganhar muito em troca —e o mundo ainda leva vantagens econômicas em cima dos EUA.

    Os Estados Unidos devem vir em primeiro lugar. O credo é americanismo, não globalismo.

    Agrupadas, essas ideias, lançadas por Donald Trump nos últimos meses, renderam ao candidato republicano na corrida à Casa Branca o carimbo de "isolacionista".

    "Se a palavra 'isolacionista' tem algum sentido, ele se qualifica como um", descreve em um artigo de março Thomas Wright, do centro de estudos Brookings e diretor do Projeto sobre Ordem Internacional e Estratégia.

    "A mensagem de Trump é que os EUA estão em declínio, e a razão é que os outros países estão se aproveitando de nós", afirma Wright à Folha. "Sua visão do [plano] doméstico está ligada à do internacional."

    O próprio Trump nega a alcunha: "Não seremos isolacionistas", disse ao "New York Times" em março, em uma das primeiras longas falas sobre política externa. "Acho que teremos ampla visão de mundo, mas não seremos mais explorados por todos esses países", completa.

    Mesmo que Trump não seja tachado de isolacionista, com ele eleito, a política externa do país daria um giro.

    "É claro que ele quer que os EUA mantenham um papel no mundo, mas seria muito diferente de qualquer outro papel já desempenhado. Ele não respeita instituições internacionais ou alianças tradicionais. Nada disso estaria seguro", afirma Paul Musgrave, professor de ciência política na Universidade de Massachusetts (Amherst).

    Estudo do Centro de Pesquisas Pew divulgado em maio —quando a corrida eleitoral não tinha os candidatos definidos— mostra como o pensamento de Trump ressoa em parte do eleitorado.

    Para 57% dos ouvidos, os EUA deveriam cuidar de seus próprios problemas e deixar os demais resolverem suas questões da melhor maneira possível. E, para 37%, o país deveria colaborar com a solução de problemas no exterior.

    Wright explica que o republicano fala para "pessoas que se sentem desrespeitadas ou desiludidas com o status quo. Talvez se sintam deixadas para trás pela globalização ou o mundo moderno, e querem respostas simples para remediar a situação".

    Com Trump, emenda Musgrave, acharam o porta-voz.

    ILHA

    Uma avaliação das propostas econômicas lançadas por Trump (abrangendo impostos, imigração e comércio exterior), feita pela agência Moody's e divulgada em junho, aponta para uma "economia mais isolada e diminuída".

    O relatório sustenta que a ameaça de aumentar tarifas comerciais com países parceiros e a crítica aos grandes acordos comerciais sinalizam uma inversão do longo histórico de expansão de trocas e investimentos do país.

    Uma versão do mesmo relatório, lançada no final de julho, se debruçou sobre as propostas da rival democrata de Trump, Hillary Clinton.

    O resultado é bem diferente. O documento conclui que as propostas de Hillary vão resultar em uma economia mais forte, com PIB maior e mais empregos —com benefícios maiores para pessoas de renda média ou baixa.

    Segundo o "New York Times", um dos autores dos dois relatórios, Mark Zandi, está registrado como democrata, mas atuou na campanha presidencial do republicano John McCain, em 2008.

    Thomas Wright, do Brookings, diz que a grande preocupação é se seria possível recuperar, no futuro, a atual ordem internacional caso ela seja abandonada pelo vencedor das eleições deste ano. "Se quebrar, talvez não seja possível consertar."

    IDEIAS DE TRUMP

    • Pague ou se arme

    Os EUA não têm mais dinheiro para ser "a polícia do mundo". Trump sugeriu que não seria má ideia o Japão ter armas nucleares para se defender da Coréia do Norte, e disse que retiraria forças americanas de posições no mundo se não houver contrapartida com os aliados.

    • Sozinhos na guerra

    Sugeriu que daria apoio militar a países da Otan desde que eles contribuíssem adequadamente com as operações.

    • Acordos mal assinados

    Ele acha a Otan (aliança militar ocidental) obsoleta frente ao terrorismo e que não é justo o quanto os EUA desembolsam por ela. Diz que o Nafta é "um desastre" e levou empresas e empregos para o México. "A China, e muitos outros" se aproveitam dos EUA com nossos terríveis acordos comerciais".

    • Fronteiras altas

    Trump defende suspender, por enquanto, a entrada de imigrantes de "regiões ligadas ao terrorismo" e erguer um muro para barrar a entrada de migrantes mexicanos.

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