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    Milhares vão às ruas de Istambul em demonstração de força de Erdogan

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    07/08/2016 11h20 - Atualizado às 21h05 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Osman Orsal/Reuters
    A woman reacts as she attends the Democracy and Martyrs Rally, organized by Turkish President Tayyip Erdogan and supported by ruling AK Party (AKP), oppositions Republican People's Party (CHP) and Nationalist Movement Party (MHP), to protest against last month's failed military coup attempt, in Istanbul, Turkey, August 7, 2016. REUTERS/Osman Orsal ORG XMIT: INK202
    Multidão forma um mar vermelho com bandeiras turcas em manifestação pró-governo, em Istambul

    Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, reuniu centenas de milhares de pessoas neste domingo (7) para uma demonstração de força após a tentativa fracassada de golpe contra seu governo em julho e críticas externas à dureza da reação, que inclui o expurgo e a detenção provisória de milhares de servidores, militares, jornalistas e educadores.

    Durante o evento, Erdogan afirmou que, se a população quiser a pena de morte no país e o assunto for votado pelo Parlamento, os partidos políticos irão seguir sua vontade.

    A pena de morte foi abolida na Turquia em 2004. Seu retorno pode frustrar os planos de esse país fazer parte da União Europeia.

    Apesar de não haver uma estimativa independente do número de participantes, agências de notícias estrangeiras noticiaram mais de um milhão de pessoas.

    Entusiastas de Erdogan têm organizado, nas últimas semanas, diversas manifestações a seu favor. Uma passeata foi realizada em Colônia, na Alemanha, como mostra do extenso apoio da comunidade turca alemã —a maior em toda a Europa.

    A manifestação deste domingo, em Istambul, incluiu um minuto de silêncio pelos mortos durante a tentativa de golpe —mais de 240— e o hino nacional turco, além de rezas. As imagens registravam manifestantes vestidos de vermelho e bandeiras do país.

    Esta foi a primeira vez em anos em que os principais partidos de oposição uniram-se para apoiar o governo. O evento foi transmitido em todo o país em telões.

    As siglas de oposição secular e nacionalista compareceram ao evento, assim como líderes muçulmanos e judaicos. O partido pró-curdo HDP (Partido Democrático do Povo) não foi convidado devido a supostos vínculos com os militantes curdos, combatidos por Erdogan.

    O apoio da oposição pode ser entendido como a afirmação de que o governo atual, apesar de crescentemente repressivo, é internamente visto como opção melhor do que o retorno do país a um ciclo de intervenções militares, como em décadas passadas.

    O Exército tentou tomar o poder na Turquia em 15 de julho. O golpe foi frustrado, em parte pela população que foi às ruas em apoio ao governo. Desde então Erdogan tem promovido um expurgo.

    Ao público Erdogan afirmou: "O mundo está olhando para vocês agora". "Vocês deveriam estar orgulhosos. Cada um de vocês lutou pela liberdade e pela democracia. Todos vocês são heróis."

    Editoria de Arte/Folhapress

    ATRITO

    Erdogan alega que a tentativa de golpe foi orquestrada pelo clérigo Fetullah Gülen, exilado nos EUA. Güllen, ex-aliado do presidente, nega participação, e Erdogan pede sua extradição, o que tem tensionado as relações com o governo norte-americano.

    O presidente turco defende o fim da extensa rede criada por Güllen, que inclui escolas e centros culturais.

    A Turquia também tem entrado em atrito com líderes europeus, nos últimos meses, com declarações contra seu governo vindas de países como Áustria e Alemanha.

    Há constante crítica internacional pela severidade com que Erdogan tem recrudescido seu controle no país. Ele é acusado, também, de se aproveitar da crise política para reforçar sua posição.

    Mais de 10 mil militares foram presos, 2.745 juízes foram afastados e 8.777 funcionários de segurança pública foram exonerados.

    Os partidos - Veja o que significa cada sigla

    Para a Turquia, espectadores externos não compreendem a seriedade da situação interna do país. Há desgosto com as críticas, e a sensação de que as potências ocidentais não denunciaram a tentativa de golpe o suficiente.

    O contexto internacional é grave. A vizinha Síria está desde 2011 em guerra civil, uma ameaça para as extensas fronteiras turcas ao sul. Só recentemente a Turquia reaproximou-se de Israel e Rússia, de quem tinha se afastado nos últimos anos.

    A Turquia é um parceiro importante à Europa. O país é parte da Otan, a aliança militar ocidental, e faz campanha há anos para entrar na UE.

    Erdogan deve se reunir nesta terça (9) com Vladimir Putin, presidente da Rússia, de quem estava afastado desde novembro, quando a Turquia derrubou um caça do país perto da fronteira síria e a Rússia reagiu com sanções.

    O gesto coincide com a reaproximação com Israel e com esforços turcos de deixar seu isolamento regional.

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