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    Apoio a Donald Trump entre mulheres republicanas cai 13% após convenções

    MICHAEL BARBARO
    AMY CHOZICK
    DO "NEW YORK TIMES"

    11/08/2016 17h32

    De todas as dificuldades que Donald Trump está enfrentando, nenhuma desperta mais ansiedade no comando da sua campanha do que a perda acelerada de apoio entre as mulheres republicanas, um dos pilares eleitorais dos candidatos passados do partido, e que parece estar começando a desmoronar.

    Em uma série notável de deserções, mulheres republicanas conhecidas estão deixando para trás décadas de lealdade ao partido e declarando oposição a Trump, a quem definem como emocionalmente despreparado para a presidência e como ameaça à segurança nacional.

    Mas um fator ainda mais poderoso é a queda do apoio a Trump entre as mulheres republicanas comuns, por conta das declarações provocativas do candidato sobre todo tipo de coisa, do silêncio da mãe de um soldado muçulmano que morreu em combate defendendo os Estados Unidos à forma pela qual as mulheres deveriam reagir a assédio sexual no trabalho.

    "Para pessoas como eu, que são republicanas mas razoáveis e ainda usam o cérebro, é difícil ver Trump como um republicano são e razoável", disse Dina Vela, gerente de projeto em San Antonio, que disse que sempre vota no Partido Republicano e que sempre encarou Hillary Clinton com cautela. Mas, para sua surpresa, ela começou a visitar o site da campanha de Hillary e planeja votar nela.

    Desde que os dois partidos realizaram suas convenções para indicar oficialmente seus candidatos, a vantagem de Trump sobre Hillary junto às eleitoras republicanas caiu em 13 pontos percentuais, de acordo com pesquisas conduzidas pelo "New York Times" e pela rede de TV CBS.

    No final de julho, 72% das mulheres republicanas declaravam que votariam em Trump: uma saudável maioria, mas porcentagem bem inferior à conquistada pelos três últimos candidatos republicanos à presidência. Em 2012, Mitt Romney obteve o voto de 93% das mulheres republicanas. Em 2008, John McCain obteve 89%; quatro anos antes George W. Bush conquistou 93% dos votos das simpatizantes de seu partido.

    ESTADOS-PÊNDULO - Saiba como estão os candidatos em Estados decisivos, em %

    Em Estados moderados e nos quais a eleição costuma ser disputada palmo a palmo, como a Pensilvânia, que assessores de Trump definem como crucial para sua vitória, o apoio a Trump entre as mulheres é perigosamente baixo, entre as eleitoras registradas. Apenas 27% das mulheres o apoiam, ante 58% para Hillary, de acordo com uma pesquisa do Franklin & Marshall College.

    Debbie Walsh, diretora do Centro da Mulher Americana e Política, na Universidade Rutgers, disse que as táticas divisivas e combativas de Trump, que parecem ter sido intensificadas desde que ele garantiu a indicação republicana, são encaradas como especialmente preocupantes pelas eleitoras dos Estados Unidos.

    Em entrevista na terça-feira (9), Walsh citou uma controvérsia que Trump havia causado momentos antes, quando pareceu ter sugerido que os proprietários de armas que se preocupam com a preservação da emenda constitucional que lhes garante esse direito agissem contra Hillary caso ela seja eleita. Os democratas imediatamente denunciaram suas declarações como um apelo irresponsável a que seus partidários recorram à violência.

    "Esse tipo de retórica é inflamatória, e acredito que estejamos testemunhando que as mulheres, em especial, veem problemas graves nisso", disse Walsh.

    A preocupação quanto ao temperamento de Trump cruza as linhas demográficas. Mas décadas de pesquisa das ciências sociais sobre questões de gênero na política sugerem que as mulheres têm uma perspectiva única quanto ao governo e seus líderes, e que esta muitas vezes diverge da masculina: uma perspectiva, disse Walsh, calcada em sua expectativa de vida mais longa, seus salários mais baixos e na expectativa de que o governo desempenhe papel significativo em suas vidas.

    Delegados - Número de delegados em cada um dos Estados-pêndulo

    Essa dinâmica, disse ela, reflete-se no número de mulheres que votam. Há quatro anos, o número de mulheres que foram às urnas foi 10 milhões mais alto que o de eleitores homens.

    Para Hillary, a alienação das eleitoras republicanas com relação a Trump oferece uma rara oportunidade de capturar um grupo demográfico muito cobiçado. Mas também representa um dilema.

    Os progressistas céticos já estão procurando sinais de traição da parte de Hillary, o que torna perigoso que ela apele diretamente ou em termos ideológicos às mulheres republicanas. Em lugar disso, ela está apresentando seus argumentos por meio de ênfase em questões mais simples, como a criação de empregos e a expressão de dúvidas sobre o temperamento de Trump.

    É revelador que a direção de sua campanha tenha recentemente veiculado em oito Estados indecisos um comercial dirigido às mães. O comercial, que mostrava crianças de pernas cruzadas assistindo às declarações mais controversas de Trump nos televisores de suas casas, perguntava, em tom sombrio: "Nossos filhos estão assistindo. Que exemplo lhes daremos?"

    Os democratas reconhecem que, em última análise, pode ser que a repulsa que Trump desperta nas eleitoras republicanas seja um fator tão forte quanto o interesse despertado por Hillary.

    "Acho que isso é alimentado, antes de tudo, pelo voto anti-Trump", disse Tracy Sefl, estrategista do Partido Democrata. "Mas isso não faz diferença para mim, e estou certo de que tampouco faz diferença para a campanha".

    Mas nem todas as eleitoras que estão abandonando Trump estão prontas a aderir a Hillary. Em entrevistas, diversas mulheres republicanas, ou de inclinações republicanas, pareciam angustiadas quanto à escolha: Trump as assusta, mas ainda não se sentem confortáveis com relação a Hillary.

    "Simplesmente não confio nele", disse Carol Hillenbrand, moradora de Nova York que diz ter votado em candidatos republicanos nas duas últimas eleições presidenciais. Ela se sente cética com relação a Hillary, e está pensando em votar em Gary Johnson, que se candidatará defendendo uma plataforma libertária.

    Os especialistas em pesquisa eleitoral do Partido Republicano há muito baseiam seus cálculos em uma referência clara para seus candidatos presidenciais. Eles precisam conquistar pelo menos 90% dos votos republicanos se desejam chegar à Casa Branca.

    Mas algumas pesquisas demonstram que Trump enfrenta dificuldades para atrair nem que seja apenas 75% do voto feminino de seu partido, e portanto essa tarefa pode se tornar impossível.

    "É um desempenho incomumente ruim", disse Whit Ayres, especialista em pesquisas eleitorais que trabalhava para a campanha do pré-candidato republicano Marco Rubio. "Não existem votos masculinos suficientes para contrabalançar esse fator".

    Trump atrai seu apoio mais forte dos homens brancos, especialmente os desprovidos de curso superior. Mas alienou número crescente de mulheres brancas, especialmente as que tiveram educação universitária, constatam pesquisas. Hillary agora lidera nesse grupo demográfico.

    "O que Trump está fazendo nunca foi feito antes: está perdendo o voto das mulheres brancas com educação universitária", disse Stuart Stevens, que foi o principal estrategista da campanha de Romney em 2012 e critica a campanha de Trump.

    O perigo para Trump é que a erosão se acelere, à medida que mais e mais mulheres republicanas importantes rompem com ele, sob o argumento de que o interesse nacional deve se sobrepor à lealdade partidária.

    Nas últimas semanas, vem ocorrendo anúncios constantes de repúdio à candidatura de Trump por mulheres republicanas importantes na política e nos negócios. Entre elas: a senadora Susan Collins, do Maine; Sally Bradshaw, importante assessora e estrategista de Jeb Bush quando este governou a Flórida; e Maria Comella, que foi importante assessora do governador Chris Christie, de Nova Jersey.

    É claro que ainda há muitas mulheres nos comícios de Trump, e muitas republicanas continuam fiéis à sua candidatura, convencidas de que levá-lo à presidência melhorará suas vidas, e confusas quanto às deserções das líderes do partido.

    Elizabeth Gonzalez, partidária de Trump que vive na Carolina do Norte, questiona os motivos das mulheres republicanas que agora falam contra ele. "Elas provavelmente se sentem ameaçadas porque ele não é parte do sistema", ela afirmou.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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