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    Governar por pesquisas é ceder a clima de inquisição, diz chanceler argentina

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    14/08/2016 02h08

    Entre as posições duras do presidente Mauricio Macri e a ponderação da diplomacia, equilibra-se a ministra de Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, 61.

    Enquanto seu chefe diz claramente que a Venezuela não tem direito de assumir a Presidência do Mercosul, a chanceler afirma que é preciso analisar o assunto.

    Palavras medidas para evitar indisposição com qualquer governo são essenciais para a candidata à secretária-geral da ONU –Ban Ki-moon deixa o posto no fim deste ano–, que precisa do apoio do maior número de países e aval dos membros do Conselho de Segurança.

    Na quinta (11), em conversa com a Folha e outros jornais estrangeiros, Malcorra voltou a falar que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff está dentro da legalidade e que a transferência da Presidência do Mercosul, sem chefia há 15 dias, deve ser feita de forma oficial.

    *

    Folha - Macri disse que a Venezuela não é um membro pleno do Mercosul. Há uma contradição com a Chancelaria, que dizia que o problema era de procedimento?

    Susana Malcorra - Parte da solução do problema é avaliar se a Venezuela está em condição de assumir a Presidência. Isso faz parte do trabalho que fazemos.

    Qual a posição argentina?

    Esse não é um problema da posição. Em 12 de agosto [última sexta], completam-se quatro anos que a Venezuela entrou no bloco, o que impulsiona uma avaliação [se o país cumpriu as regras de acesso ao bloco]. Tento tornar esse processo objetivo. Quando se consideram posições políticas, fica-se sem solução.

    Mas há uma questão ideológica de fundo...

    O Mercosul é um mercado comum, não é como a Unasul, onde se discutem políticas. No Mercosul, as coisas são objetivas -tratados, acordos, procedimentos. Mas não sou inocente de acreditar que não haja.

    Todos sabem que a Venezuela não cumprirá com todas as normas dentro do prazo...

    As instituições têm prazos e pautas estabelecidos. Não posso assumir que você vá cumprir algo em 48 horas, ainda que seja 99,99% provável que não irá. Pode ocorrer um milagre. Não estou em condições de dizer a priori: "não cumpriram com o que se devia".

    Outros países também não cumprem todos os requisitos.

    Isso é uma avaliação e estamos trabalhando nisso. Vocês querem uma resposta de algo que está sendo avaliado. Não vou fazer isso. Prejulgar atenta contra a institucionalidade do Mercosul.

    Como o governo recebeu a afirmação de Maduro de que Macri é um fracassado?

    Minha visão é que não se discutem essas questões pela imprensa, e sim que é preciso manter um diálogo.

    Na última semana, houve denúncias de que seu colega brasileiro, o chanceler José Serra, recebeu dinheiro de forma ilegal. O mesmo foi dito do presidente interino, Michel Temer. Isso afeta as relações?

    O fato de que existem denúncias contra membros de alto nível do governo é preocupante em qualquer país. Esperamos que a Justiça avalie. Denúncias existem, mas nem sempre são comprovadas. Estamos observando o que acontece.

    Existe um acordo no Mercosul para se investigar casos de corrupção de forma conjunta. O governo de Macri tem como uma de suas bandeiras o combate à corrupção. Não seria a hora para retomar esse acordo e discutir o assunto?

    Não conheço essa ferramenta. O Mercosul é um mercado que nos interessa, que protegemos e queremos desenvolver, mas não podemos transformá-lo em um sistema de supervisão cruzada. O compromisso de luta contra a corrupção é fundamental. Temos tido resposta rápida quando juízes argentinos pedem informações a brasileiros.

    O processo de impeachment de Dilma Rousseff está chegando ao fim. Como o analisa?

    Estamos acompanhando. Sabemos como foi a última votação, que houve um número maior de senadores privilegiando a ideia de avançar com o impeachment, o que nos leva a pensar que as coisas estão ficando difíceis de serem revertidas. Acreditamos que o Brasil tenha instituições fortes e que tem que sair fortalecido disso.

    O presidente Temer tem uma popularidade baixa. Isso enfraquece o país?

    Sou muito cautelosa em relação a esse assunto, porque um governo estaria em processo de inquisição permanente se governasse com base em pesquisas. Esperamos que, finalizado o processo de impeachment, as pessoas entendam que a institucionalidade está estabelecida, que já não é mais um governo de transição. Há medidas para serem tomadas, e elas precisam de apoio.

    Macri disse que prefere ver Hillary Clinton vencedora nas eleições dos EUA. Se Donald Trump vencer, isso prejudicará a relação entre os países?

    O presidente pode falar o que quer. Quando chegar o momento, a chanceler se encarregará do assunto (risos).

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