O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, afirmou que o presidente Tabaré Vázquez ficou "muito incomodado" com uma proposta do governo brasileiro para, segundo Novoa, "comprar o voto do Uruguai" no debate que envolve a presidência venezuelana do Mercosul.
As informações foram reveladas pelo jornal uruguaio "El País" nesta terça-feira (16).
"Não nos agradou muito que o chanceler [José] Serra tenha vindo ao Uruguai nos dizer —publicamente, por isso eu digo— que vinham com a pretensão de suspender a transferência [da presidência do Mercosul do Uruguai para a Venezuela] e que, se suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai", afirmou Novoa durante um encontro da Comissão de Assuntos Internacionais do Congresso uruguaio, no último dia 10, de acordo com o jornal.
Boris Vergara/Xinhua | ||
Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas apesar de impasse no bloco |
Serra chegou ao Uruguai no dia 5 de julho para se reunir com seu homólogo uruguaio e o presidente Vázquez. Em uma entrevista coletiva, o chanceler brasileiro afirmou que o Brasil faria "uma grande ofensiva" comercial na África subsaariana e no Irã e que desejava levar o Uruguai como "sócio".
Segundo disse Novoa ao Parlamento uruguaio, essa atitude "incomodou muito" Vázquez: "O presidente disse clara e firmemente: o Uruguai vai cumprir com a norma e vai convocar a mudança da presidência".
Procurado, o Itamaraty não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
CRISE
O Mercosul está sem um líder há 15 dias, desde que o Uruguai (único país que defende a Venezuela) deu por encerrado seu período na presidência do bloco.
Brasil, Paraguai e Argentina se opõem ao presidente venezuelano Nicolás Maduro com a justificativa de que seu governo não respeita direitos humanos, mantendo presos políticos de oposição.
Esses três países avaliam ainda a possibilidade de "rebaixar" a Venezuela dentro do Mercosul para impedir que o país assuma a presidência.
Serra já defendeu uma "presidência-tampão" até que a Argentina —a próxima, pela ordem alfabética— assuma o bloco.
Enquanto não tiver um líder, o Mercosul poderá ter suas negociações internacionais com terceiros atrasadas, a implementação de acordos firmados com outros países congeladas e não fechar novas parcerias.