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    Veto ao uso do 'burquíni' nas praias chega a 12 cidades da França

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI
    SARAH BAZIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SÃO PAULO

    19/08/2016 02h00

    Chegou a 12, nesta quinta (18), o número de cidades na França que vetaram o uso do chamado "burquíni" em suas praias. Outras duas debatem a proibição, vista com simpatia pelo governo francês.

    A medida impede que mulheres usem a peça, que cobre todo o corpo exceto rosto e mãos e cujo nome une as palavras "biquíni" e "burca". A controvérsia reacende o debate sobre secularismo e liberdade religiosa no país.

    17.ago.2016/Reuters
    Vestida com o 'burquíni', mulher muçulmana leva seus filhos para nadarem em praia de Marselha
    Vestida com o 'burquíni', mulher muçulmana leva seus filhos para nadarem em praia de Marselha

    Na última semana, ao menos dez mulheres foram repreendidas pela polícia por usarem a vestimenta.

    "Não gosto do burquíni, mas não aceito que seja usado para manipular o debate público", disse à Folha o empresário franco-argelino Rachid Nekkaz, que tem se oferecido para pagar as multas recebidas pelas mulheres que se banham de burquíni.

    Para Nekkaz, proibir a peça revela "rechaço da visibilidade do islã e dos muçulmanos no espaço público".

    Críticos consideram a medida inconstitucional, e o Coletivo Contra a Islamofobia na França (CCIF) afirma que "a decisão afronta as liberdades individuais e discrimina as muçulmanas, pondo-as no mesmo patamar que grupos terroristas, sob o abrigo de uma laicidade pervertida".

    O governo do presidente socialista François Hollande, porém, apoia a medida.

    A ministra dos direitos das mulheres, Laurence Rossignol, disse ao jornal "Le Parisien" que "o burquíni não é uma nova linha de roupas de banho, e sim uma versão praiana da burca". "Os dois seguem a mesma lógica : esconder o corpo das mulheres para controlá-las."

    A tensão social em torno do burquíni coincide com debates sobre o islã na França e como integrar a população muçulmana, imigrante ou nativa, à sociedade do país, após uma série de atentados ao longo dos últimos meses deixar mais de 200 mortos.

    Franceses não muçulmanos ouvidos pela Folha questionam a medida. "Ela vai estigmatizar uma população que já sofre preconceito", disse a mestranda em ciências políticas Héloyse Fayet. "Aceitamos o topless em praias não nudistas, então por que proibir uma peça que cobre mais o corpo?"

    Para a especialista em teoria da moda e formação de identidades religiosas Heather Akou, da Universidade de Indiana (EUA), "a vestimenta é uma área em que governos tradicionalmente tentam controlar as pessoas". Mas Heather lamentou à Folha que políticos tentem associar uma peça de roupa ao terrorismo.

    MULTAS

    Nekkaz, que já foi chamado de "Zorro do Niqab", diz ter pagado nos últimos anos centenas de multas a mulheres que cobriram o rosto, algo proibido na França desde 2010. O niqab é outro tipo de vestimenta islâmica, revelando só os olhos.

    Em Cannes, onde o veto temporário foi instituído em 28 de julho, a multa é de 38 euros (R$ 140) e limitada a uma autuação por dia. Mulheres de burquíni não podem ser retiradas da praia.

    Economicamente, há temor de que o veto afugente turistas muçulmanos, como os sauditas (não há dados confiáveis sobre a participação deles no turismo no país).

    Também nesta quinta, o governo da Áustria disse que debaterá o tema em 2017.

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