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    Uruguai atrasa definição sobre presidência rotativa do Mercosul

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    23/08/2016 20h56

    O governo uruguaio pediu a seus sócios no Mercosul um prazo de alguns dias para decidir se aceita ou não a fórmula proposta por Argentina, Brasil e Paraguai para acabar com a acefalia que paralisa as atividades do bloco.

    A proposta é criar uma presidência colegiada para substituir o comando da Venezuela, país ao qual caberia a presidência de turno neste segundo semestre, hipótese totalmente vetada por argentinos, brasileiros e paraguaios.

    Carlos Lebrato/Anadolu/Getty Images
    Fachada do prédio que abriga sede do Mercosul, em Montevidéu, onde países se reuniram
    Fachada do prédio que abriga sede do Mercosul, em Montevidéu, onde países se reuniram

    O Uruguai sempre defendeu a transferência para Caracas e acabou sendo o responsável pela paralisia do bloco, ao abandonar a presidência no fim de julho sem fazer a transferência formal para o país seguinte na ordem alfabética (a Venezuela).

    Os coordenadores dos quatro sócios originais do Mercosul passaram a terça-feira (23) reunidos em Montevidéu, sem a presença da Venezuela, apesar de ter sido convidada. "Sentimos um pouco de falta deles", ironizou Rigoberto Gauto, coordenador paraguaio.

    VENEZUELA

    A reunião serviu para a comprovação, compartilhada pelos quatro participantes, de que a Venezuela não cumpriu, no prazo encerrado no último dia 12, o compromisso de adotar internamente todo o compêndio de normas do Mercosul.

    Passou-se, em consequência, a um debate, que durou todo o dia, sobre as implicações do não cumprimento. Argentina, Brasil e Paraguai insistiram na tese, que já vêm defendendo faz tempo, de que a Venezuela não tem condições de assumir a presidência do bloco.

    Propuseram, por isso, que se criasse uma novidade: a presidência colegiada até o fim do ano, para que, em 2017, se voltasse à ordem alfabética, passando o comando para a Argentina.

    O Uruguai insistiu, no entanto, em que a Venezuela tem o direito de presidir o Mercosul, mesmo não tendo condições para tanto.

    Pediu, por isso, um tempo para consultas internas, no mais alto nível de governo.

    Explica-se a hesitação uruguaia: o MPP (Movimento de Participação Popular, formado pelos remanescentes da guerrilha "tupamara", e hoje parte da Frente Ampla, a coalizão governante) apoia a Venezuela e, por isso, não aceita o veto dos demais parceiros a Caracas.

    A reunião foi suspensa à espera da definição uruguaia, que, no entanto, acabou não vindo. Ficou prometida para esta quarta-feira (24) ou para o dia seguinte -enfim, para os próximos dias.

    A aceitação uruguaia é indispensável porque as decisões no bloco têm que ser tomadas por consenso. Se isso não ocorrer, o Mercosul continuará sem presidência, o que significa uma completa paralisia. Não há como nem sequer convocar reuniões de instâncias superiores e, pior, não há como negociar novos acordos comerciais -uma prioridade para os novos governos de Argentina e Brasil.

    Para aumentar a confusão, a Venezuela, que assumiu por sua conta a presidência de turno, convocou uma reunião dos coordenadores para a quinta-feira (25), sempre em Montevidéu, que é a sede da secretaria-geral do bloco.

    Mas Argentina, Brasil e Paraguai já avisaram que não comparecerão, como é natural, na medida em que não reconhecem a atual chefia.

    Se o pretexto para o veto é o de que a Venezuela não se adequou às normas do Mercosul, o motivo real é político: os três sócios dizem que a Venezuela não é uma democracia plena. "País que tem presos políticos não é democrático", repete sempre o chanceler José Serra -e a Venezuela tem presos políticos.

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