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    Por que não se deve apostar que Donald Trump perderá de lavada

    JEREMY W. PETERS
    GIOVANNI RUSSONELLO
    DO "NEW YORK TIMES"

    24/08/2016 11h00

    Donald Trump, depois de semanas de estragos causados por ele mesmo à sua campanha, viu o apoio à sua candidatura cair à casa dos 30%, nas pesquisas nacionais –um marco de insucesso semelhante do de Barry Goldwater e Walter Mondale [candidatos derrotados em 1964 e 1984, respectivamente]–, enquanto Hillary Clinton ampliou sua vantagem para a marca dos dois dígitos em diversos Estados indecisos importantes.

    Hora de declarar uma grande vitória, certo? Não tão rápido. A votação real pode ser mais favorável a Trump do que os prognósticos pessimistas sugerem, e por um motivo simples: não existem mais vitórias esmagadoras em eleições presidenciais.

    Já faz 32 anos desde que um presidente venceu uma eleição por margem de dois dígitos. Isso aconteceu quando Mondale perdeu para Ronald Reagan com 18 pontos percentuais de desvantagem, em 1984. Também foi a última ocasião em que houve uma derrota esmagadora em termos de Estados conquistados –Mondale venceu apenas na capital e no Estado de Minnesota.

    Existem diversos fatores que provavelmente impediriam que um candidato atual obtivesse imensas maiorias, da ordem de 60 pontos percentuais, como as que conduziram Franklin Roosevelt à Casa Branca em 1936, Lyndon Johnson em 1964 e Richard Nixon em 1972.

    O país está fragmentado demais e a temperatura política está superaquecida demais para que uma pessoa surja como escolha de consenso para dois terços dos eleitores. E esse clima levou os partidos políticos a se tornarem muito mais uniformes ideologicamente do que costumava ser o caso.

    Sondagem The New York Times/CBS -

    "A maior diferença entre a situação atual e a de, digamos, 1936 ou 1964, é a composição dos dois partidos", disse Jonathan Darman, autor do livro " "Landslide: LBJ and Ronald Reagan at the Dawn of a New America". "A identificação com um partido costumava ser mais fluida, o que tornava menos difícil para o eleitor pensar em apoiar alguém da afiliação oposta".

    "Os partidos republicano e democrata eram muito mais heterogêneos do que aquilo que temos hoje", acrescentou Darman. "A identificação com partidos tinha muito mais a ver com laços regionais e tradições familiares do que com a ideologia".

    Os dados demonstram o quanto é menos provável, hoje, que um eleitor vote no outro partido. Noventa por cento dos republicanos e dois terços dos eleitores que se declaram independentes encaram Hillary desfavoravelmente, de acordo com a mais recente pesquisa McClatchy/Marist.

    Disputa em três dos Estados-pêndulo* mais importantes -

    E muitas das pessoas que estão desertando por causa da indicação de Trump como candidato vão optar por votar em candidatos independentes, o que também contribui para a incapacidade de Hillary de ultrapassar os 50% de votos nas pesquisas nacionais. (Somados, os candidatos independentes estão se aproximando dos 15% das intenções de voto, o que indica descontentamento vigoroso quanto aos indicados dos dois grandes partidos.)

    De acordo com Amy Mitchell, diretora de pesquisa de jornalismo no Pew Research Center, cerca de 20% dos eleitores hoje têm crenças políticas que os posicionam nos polos ideológicos de seus respectivos partidos –uma proporção que dobrou entre 2004 e 2014. E essas pessoas tendem a reforçar mutuamente suas posições.

    "As pessoas nos extremos do espectro político têm maior probabilidade de se cercarem de quem pensa exatamente como elas", disse Mitchell. Esse nível elevado de polarização pode contribuir para um fenômeno eleitoral curioso, e capaz de custar apoio a Clinton: se as pessoas começarem a acreditar que ela vencerá a eleição com folga, podem optar por um voto de protesto simplesmente para lhe negar uma vitória convincente.

    "Se surgir uma situação de 'voto livre', creio que isso possa se tornar problema para ela", disse Peter Hart, especialista democrata em pesquisas eleitorais. "Se tudo parecer fácil demais, confortável demais, pode haver eleitores que venham a dizer que preferem que ela não vença por margem esmagadora".

    Média das pesquisas de opinião* -

    A vitória do presidente Barack Obama em sua primeira eleição é vista como a maior margem possível de vantagem, tendo em vista as divisões do país. Mas se comparada às vitórias esmagadoras vitórias de Johnson, Roosevelt e Reagan, ela foi modesta: Obama obteve apenas 53% dos votos.

    As eleições recentes foram mais divididas –George W. Bush teve 48% dos votos em 2000, perdendo no voto popular mas vencendo no colégio eleitoral– e 51% em 2004.

    A margem de vitória é mais importante do que uma simples questão de orgulho. Se a inquietação dos eleitores não se atenuar, uma vitória menor poderia limitar a capacidade de Hillary de obter o mandato de que ela e seus colegas democratas no Congresso gostariam.

    "Um mandato é alguma forma de plataforma de questões que você tenha advogado e que se torne a base de sua vitória", disse Lee Miringoff, diretor do Marist Institute for Public Opinion.

    "O medo da pessoa que terminou derrotada não se qualifica, e creio que seja essa a principal motivação do pessoal de Clinton: o medo de Trump. O mesmo pode ser dito sobre os eleitores de Trump: o medo de Clinton".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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