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    Com propostas paralelas da Venezuela, Mercosul se torna bloco-fantasma

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    25/08/2016 02h00

    Carlos Lebrato/Anadolu/Getty Images
    Fachada do prédio que abriga sede do Mercosul, em Montevidéu, onde países se reuniram
    Fachada do prédio que abriga sede do Mercosul, em Montevidéu, onde Venezuela fez reunião esvaziada

    O Mercosul virou uma entidade fantasma: sem presidência, desde que o Uruguai abandonou a que lhe correspondia, no final de julho, sem fazer a transferência formal para a Venezuela, à qual caberia, pela ordem alfabética.

    Argentina, Brasil e Paraguai não aceitam a presidência venezuelana, mas, assim mesmo, Caracas faz de conta que a exerce. Tanto é assim que convocou para esta quarta-feira (24), em Montevidéu, uma reunião dos chamados coordenadores nacionais (os negociadores do grupo).

    Os três adversários da Venezuela não compareceram, como anteciparam, mas o representante da Venezuela, Héctor Constant, não se acanhou em convocar a mídia para uma declaração (sem aceitar perguntas) diante de um pequeno cartaz com o logotipo do Mercosul e a inscrição "Presidência".

    Nem o coordenador uruguaio, que foi à reunião com o venezuelano e o delegado da Bolívia, em processo de adesão, apareceu para o "comunicado da presidência".

    Evitou o vexame de aparecer em uma foto em que, em meio à mais séria crise dos 25 anos do grupo, o venezuelano anunciasse o plano de criar o "Mercosul Musical", usando a experiência bem-sucedida das orquestras infantil e juvenil da Venezuela.

    Constant anunciou outras prioridades, como aprofundar contatos com Cuba, China e Rússia, sem se preocupar em saber se os demais sócios têm idêntica prioridade.

    A "presidência" venezuelana quer também continuar as negociações com a União Europeia, em busca de um acordo de livre comércio. Aí, sim, coincide com todos os outros quatro sócios.

    Só esqueceu de dizer que, para negociar com quem quer seja, é necessária uma presidência aceita por todos os cinco membros plenos, até porque o Tratado de Ouro Preto, que define a estrutura do Mercosul, estabelece que as decisões têm que ser tomadas por consenso.

    Ou seja, nem a reunião de terça (23), entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sem a Venezuela, nem a da quarta, com Venezuela e Uruguai, mas sem os outros três, têm validade -o que faz do Mercosul entidade-fantasma.

    Para voltar à vida, depende de o Uruguai aceitar a "gambiarra" proposta pelos três outros (a presidência colegiada até o fim do ano), com a Venezuela na geladeira.

    Enquanto isso, prevalece a opinião de Heber Arbuet-Vignali, membro do Conselho Uruguaio para as Relações Internacionais, à Deutsche Welle: "Se os sócios criam armadilhas para eles mesmos, como outros Estados vão confiar nesses países?"

    Colaborou LUCIANA DYNIEWICZ, de Buenos Aires

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