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    Governo britânico separa presos radicalizados de outros detentos

    DO "NEW YORK TIMES"

    25/08/2016 07h41

    Detentos no Reino Unido que pregam o terrorismo e ideologias extremas a seus companheiros de cárcere serão mantidos em unidades de segurança máxima e de "especialistas", de acordo com anúncio do governo na segunda-feira (22), em meio a esforços para combater a radicalização islâmica nas cadeias.

    O anúncio reflete uma tendência emergente na Europa de isolar presos por terrorismo e extremistas influentes do resto da população carcerária.

    As prisões são frequentemente consideradas potenciais terrenos férteis para terroristas, particularmente jovens infratores que cumprem penas por crimes que não estão relacionados com o terrorismo, mas que, apesar disso, são influenciados por detentos mais velhos e carismáticos.

    Leon Neal - 14.set.2012/AFP
    Clérigo britânico muçulmano Anjem Choudary (em foto de 2012), acusado de conclamar apoio ao Estado Islâmico
    Clérigo britânico muçulmano Anjem Choudary, acusado de conclamar apoio ao Estado Islâmico

    Na semana passada, Anjem Choudary, um dos ativistas islâmicos mais conhecidos do Reino Unido, foi considerado culpado de conclamar apoio para o Estado Islâmico. Ele pode ser condenado a um longo tempo de prisão.

    "Há um pequeno número de indivíduos, indivíduos muito subversivos, que precisam ser mantidos em unidades separadas", disse à BBC Elizabeth Truss, que assumiu no mês passado como secretária de Justiça e fez o anúncio.

    De acordo com o plano, diretores de presídio, ou administradores, também serão orientados a remover literatura extremista e tornar mais rígido o veto a clérigos na prisão.

    EXTREMISMO

    O anúncio foi uma resposta a um estudo governamental sobre o extremismo islâmico nas prisões, cujo resumo foi publicado também na segunda-feira.

    O estudo, coordenado por Ian Acheson, ex-diretor carcerário, recomendou alojar em unidades especializadas um "pequeno subgrupo de extremistas que apresentam um risco particular e permanente para a segurança nacional, por conta de seu comportamento subversivo, crenças e atividades."

    A legislação antiterrorismo aprovada depois dos atentados a bomba de 7 de julho de 2005 em Londres, que mataram 56 pessoas, incluindo quatro atacantes, criminalizava "aqueles que glorificam o terrorismo, os envolvidos em atos de preparação ao terrorismo e os que o defendem sem estarem diretamente envolvidos", assinalou o estudo.

    O documento identificou os modos em que o extremismo islâmico pode se manifestar na prisão, incluindo a cultura de gangue e presos por terrorismo que pregam apoio ao Estado Islâmico, e prisioneiros carismáticos que "agem como 'emires' autoproclamados".

    "O apoio agressivo a conversões ao islamismo, orações coletivas sem supervisão, tentativas de evitar averiguações dos funcionários sob alegação de que a vestimenta é religiosa, intimidação de sacerdotes muçulmanos na prisão e a exploração dos funcionários, devido ao medo de serem tachados de racistas" também são indicadores, de acordo com o estudo.

    O material concluiu que "a sensibilidade cultural" dos membros da equipe carcerária em relação aos detentos muçulmanos inibia a capacidade dos carcereiros de combater pontos de vista e comportamentos extremistas.

    No final dos anos 90, o Reino Unido utilizou uma "política de dispersão" destinada a integrantes presos do IRA (sigla em inglês para Exército Republicano Irlandês), de acordo com o governo. Mas eles eram relativamente poucos e tinham pouca influência sobre outros prisioneiros. Desde então, essa política não foi modificada em resposta à ameaça vinda do extremismo islâmico, segundo o governo.

    OUTROS PAÍSES

    Os autores do estudo disseram que visitaram prisões na Holanda, na França e na Espanha, que também isolam extremistas em relação à população carcerária principal e os mantêm em condições de segurança máxima.

    Neste ano, as autoridades francesas deram início a um programa, em pelo menos cinco prisões, de alojar presos selecionados, por extremismo e terrorismo, em blocos separados, geralmente em grupos de 20.

    Peter Dawson, diretor do Fundo de Reforma Prisional, organização sediada em Londres, disse que os prisioneiros não devem ser mantidos de forma permanente em unidades pequenas e isoladas.

    "O objetivo deve ser devolver as pessoas à comunidade principal da prisão, para que possam ser observadas mudanças em seus comportamentos", ele disse. "Qualquer outra coisa é simplesmente criar um problema ainda mais difícil para quando forem finalmente soltos."

    Os clérigos muçulmanos das prisões também precisam de apoio total do governo, disse Dawson. "Eles são parte da solução, não do problema."

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