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    Argentina condena 28 repressores à prisão perpétua após 40 anos

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    25/08/2016 20h29

    Com a condenação de 28 pessoas à prisão perpétua e de outras dez a penas mais leves, a Justiça argentina reconheceu pela primeira vez, nesta quinta (25) que foram cometidos crimes contra a humanidade na democracia.

    Segundo a decisão do caso conhecido como "La Perla", houve atos de violência e bebês foram roubados de forma sistemática antes mesmo do golpe militar de 1976. Dois anos antes, na Província de Córdoba, a polícia tirou o governador do poder e desencadeou uma onda de violência contra militantes que reagiram ao governo instaurado.

    Laura Lescano/Telam/AFP
    Ativistas protestam em Córdoba durante julgamento ligado à prisão de La Perla, mantida na ditadura
    Ativistas protestam em Córdoba durante julgamento ligado à prisão de La Perla, mantida na ditadura

    "La Perla" –"a pérola", nome do principal centro de detenção clandestino da província– foi a última grande ação judicial por crimes de lesa-humanidade do país.

    Esses processos gigantes foram impulsionados pelos ex-presidentes Néstor (2003-07) e Cristina Kirchner (2007-15) e defendidos pelas testemunhas para que elas não precisassem comparecer a dezenas de julgamentos em diferentes datas e locais.

    O caso "La Perla" envolvia 43 réus e 716 vítimas, das quais 279 estão desaparecidas. O julgamento começou em dezembro de 2012.

    VEREDICTO TARDIO

    Filha de um desaparecido que figurava como vítima no processo, Silvia Di Toffino, 44, disse à Folha que a sentença lhe dá a sensação de que é possível viver em uma sociedade com direitos. "Lamentavelmente, o resultado chega apenas 40 anos depois dos crimes", destacou.

    Para Emiliano Salguero, 40, sobrinho de uma vítima sequestrada pelo Estado em 1975 e filho de um sobrevivente do centro clandestino de Córdoba, o processo era um compromisso que sua família tinha com desaparecidos.

    Salguero e cerca de 10 mil pessoas acompanharam o anúncio da sentença em um telão instalado do lado de fora do tribunal de Córdoba (700 km de Buenos Aires).

    Alguns parentes das vítimas, como Di Toffino, puderam assistir à sessão de dentro e festejaram o resultado aos gritos de "assassinos" e "acontecerá com vocês como com os nazistas, aonde forem, iremos buscá-los".

    O condenado Arnoldo José López, civil que trabalhava no serviço de inteligência do Exército, respondeu: "Nós também [vamos buscá-los]" e apontou o governador de Córdoba, Juan Schiaretti: "Vamos te sequestrar", gritou ao ser levado do tribunal.

    Schiaretti foi militante na ditadura e se exilou no Brasil à época. "A Justiça deu a todos esses assassinos a chance de se defenderam, o que eles não deram às vítimas", afirmou o governador.

    Um dos condenados mais conhecidos é Luciano Benjamín Menéndez, 89, que já cumpre outras dez prisões perpétuas. General destituído, ele comandou ações de repressão da ditadura em dez províncias.

    Cinco réus foram absolvidos. A associação Hijos, de parentes de vítimas, estuda recorrer.

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