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    Corte francesa suspende proibição do burquíni em cidade na Riviera

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    26/08/2016 10h30 - Atualizado às 14h56 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    O Conselho de Estado, a mais alta instância jurídica administrativa da França, suspendeu nesta sexta-feira (26) a proibição do burquíni na cidade de Villeneuve-Loubet, na Riviera.

    A decisão pode estabelecer um precedente legal para suspender proibições similares instituídas em cerca de 30 cidades do país, entre elas Cannes e Nice.

    A decisão da corte é provisória e depende de um julgamento definitivo. No sistema legal francês, uma decisão temporária pode ser proferida enquanto o colegiado analisa o caso com mais tempo para então julgá-lo em definitivo.

    Vantagenews.com/theguardian
    Políciais confrontam uma mulher em Nice nesta terça-feira e falam sobre a proibição de burquíni nas praias francesas
    Policiais abordam mulher em Nice devido ao banimento do burquíni nas praias francesas

    Municípios proibiram recentemente o uso do burquíni, traje que une em seu nome o biquíni e a burca. A veste, porém, não esconde a face da mulher e é hoje associada, na França, ao islã radical e à submissão da mulher.

    O Conselho de Estado afirmou que o decreto que proibiu o burquíni em Villeneuve-Loubet "feriu, seriamente e claramente de forma ilegal, as liberdades fundamentais de ir e vir, a liberdade de crença e a liberdade individual".

    "Na ausência de risco, a emoção e os temores provocados pelos atentados terroristas (...) não bastam para justificar legalmente a proibição" do burquíni decidida em Villeneuve-Loubet, a primeira localidade onde a medida foi implantada, ressaltou o Conselho de Estado.

    Duas organizações humanitárias, a Liga de Direitos Humanos e o Comitê Contra a Islamofobia na França, haviam entrado com ações questionando a decisão de 22 de agosto de uma corte de Nice, que validava o veto municipal de Villeneuve-Loubet ao traje muçulmano.

    O prefeito da cidade de Sisco, na Córsega, porém, afirmou que não suspenderá a proibição que impôs no dia 13 de agosto após uma briga na praia. "A tensão está muito, muito, muito alta aqui, e eu não vou recuar", disse Ange-Pierre Vivoni ao canal BFM-TV.

    Assim como Vivoni, diversos prefeitos de cidades francesas disseram à agência de notícias AFP nesta sexta que manterão a proibição do burquíni. A prefeitura de Nice divulgou que "continuará multando" as mulheres que usem o traje enquanto o decreto municipal não seja invalidado.

    O prefeito de Villeneuve-Loubet, Lionnel Luca, disse que a decisão aumentaria a tensão já grande.

    "Precisamos decidir se queremos uma versão sorridente e amigável da sharia [lei islâmica] nas nossas praias ou se queremos a implementação das leis [francesas]", disse.

    Após a decisão, a direita e a extrema-direita anunciaram sua intenção de votar uma lei que proíba definitivamente o burquíni.

    PRECEDENTE LEGAL

    O advogado da liga, Patrice Spinose, afirmou à imprensa que a decisão pode estabelecer um precedente legal para todo o país. "Hoje todas as portarias devem estar de acordo com a decisão do Conselho de Estado. Logicamente os prefeitos devem retirar essas portarias [que proíbem o burquíni]. Caso contrário, medidas legais podem ser tomadas [contra essas cidades]."

    Spinose disse ainda que mulheres que já receberam multas relacionadas ao uso do burquíni podem recorrer da cobrança com base na decisão desta sexta.

    Em Cannes, onde o veto temporário foi instituído em 28 de julho, a multa é de 38 euros (R$ 140) e limitada a uma autuação por dia. Mulheres de burquíni não podem ser retiradas da praia.

    Fethi Belaid/AFP
    A Tunisian woman wearing a "burkini", a full-body swimsuit designed for Muslim women, walks in the water with a child on August 16, 2016 at Ghar El Melh beach near Bizerte, north-east of the capital Tunis. / AFP PHOTO / FETHI BELAID ORG XMIT: 3058
    Mulher tunisiana vai à praia nas proximidades de Tunis usando o polêmico burquíni, este mês

    TENSÃO SOCIAL

    A tensão social em torno do burquíni coincide com debates sobre o islã na França e como integrar a população muçulmana, imigrante ou nativa, à sociedade do país, após uma série de atentados ao longo dos últimos meses deixar mais de 200 mortos.

    O governo do presidente François Hollande tem apoiado as decisões dos prefeitos, argumentando que o burquíni viola as leis e o secularismo. Após a decisão, o premiê, Manuel Valls, disse que a denúncia do burquíni "não coloca em questão a liberdade individual".

    "O burquíni não é um símbolo religioso, é a afirmação do islã político em locais públicos", disse nesta sexta (26).

    Já o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, afirmou esta semana que o banimento do traje não pode levar a uma estigmatização nem fazer com que exista um choque entre comunidades do país.

    O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy disse que o burquíni é uma "provocação" e que se uso expressa apoio ao islã radical. Uma das figuras mais importantes da oposição, Sarkozy anunciou nesta semana que vai concorrer à Presidência outra vez. Antes, no entanto, precisa vencer as eleições primárias dentro de seu partido, Os Republicanos, de centro-direita.

    Caso seja eleito, Sarkozy prometeu banir todo símbolo religioso nas universidades francesas. A expectativa é que a plataforma de sua campanha seja baseada em imigração e questões que envolvem segurança.

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