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    eleições nos eua

    Rejeitado, o republicano Trump acena a negros para ampliar eleitorado

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    27/08/2016 02h00

    Em Anacostia, bairro de população 90% negra da capital dos EUA, não é fácil achar voz favorável a Donald Trump. A antipatia das ruas confirma as pesquisas nacionais, com índices de apoio esquálidos entre os afroamericanos ao candidato presidencial republicano, visto pela maioria como racista.

    Trump tem tentado mudar essa imagem, com apelo aos negros e encontros com líderes da minoria. Perdendo nas pesquisas para a rival democrata, Hillary Clinton, o empresário sabe que precisa ampliar seu apoio para além do eleitorado majoritariamente branco que fez dele o candidato republicano.

    A 73 dias da eleição, porém, a impressão geral é que é muito pouco e tarde demais.

    "Não vou negar, entendo por que Trump toca o homem comum. Muito do que ele fala é verdade", diz Anthony Weldon, 56, que nos últimos anos pulou de emprego em emprego e hoje trabalha numa lanchonete. "Mas não posso votar num racista."

    Na avenida Martin Luther King Jr., a principal de Anacostia, em cem metros há três igrejas e uma instituição muçulmana. A população dos EUA é altamente religiosa, e isso é especialmente verdade entre os negros.

    O principal argumento de Trump para atrair o voto das minorias é econômico. Segundo o censo americano, embora os negros sejam 13% da população do país, eles perfazem 26,2% dos pobres. "Vocês vivem na pobreza", disse num comício em Michigan sem negros à vista. "Que diabos vocês tem a perder?".

    A generalização ofendeu muitos que não se reconhecem na descrição de Trump. O bilionário partiu então para o ataque, acusando Hillary e o Partido Democrata, na quarta (24), de tirar proveito político do eleitor negro.
    Hillary "vê as pessoas de cor apenas como votos, não seres humanos que merecem um futuro melhor", disse.

    No dia seguinte, em Nevada, a democrata disse que "Trump construiu sua campanha com preconceito e paranoia" e abraçou uma "franja radical" do eleitorado.

    HISTÓRICO

    As duas campanhas alimentaram a batalha racial com anúncios para a TV feitos sob medida, ambos usando as palavras do adversário para atacá-lo. "O que você tem a perder?", aparece Trump no anúncio de Hillary. "Tudo", diz a legenda sob fundo preto. Já Trump resgatou um vídeo de 1994, em que Hillary era primeira-dama e usou o termo "superpredadores" para definir jovens negros que caem na criminalidade. Em seguida aparece o senador Bernie Sanders, que perdeu a candidatura democrata para Hillary, chamando a frase de racista.

    Há anos os afroamericanos preferem o Partido Democrata, mas o desempenho de Trump nas pesquisas fica abaixo dos dois últimos candidatos republicanos, que enfrentaram um oponente negro, Barack Obama. Em 2008, John McCain teve 4%, Em 2012, Mitt Romney teve 6%.

    O joalheiro Bruce LeVell representa a minoria pró-Trump, mas ficou marcado pelas críticas de outro negro na TV, por apoiar um candidato "intolerante".

    A Folha contatou a página on-line Negros por Trump, e o porta-voz identificou-se como reverendo Jackson. "As pesquisas não refletem a realidade. Muitos afroamericanos têm medo de dizer que votarão em Trump", disse ao telefone. O discurso é maduro para alguém de 16 anos. "Sou pastor desde os 13."

    Para o cientista político Darren Davis, especialista em política racial da Universidade de Notre Dame (Indiana), embora a economia seja importante para os eleitores negros, o antagonismo é grande demais.

    A imagem de racista vem de 2011, quando o bilionário liderou uma campanha questionando se o presidente Barack Obama havia nascido nos EUA.

    Além disso, diz Davis, afroamericanos foram expulsos com violência de comícios de Trump, e ele recusou vários convites de organizações negras.

    "Trump não será capaz de atrair um número significativo de eleitores afroamericanos, não mais que 5%", prevê.

    Com 91% de aprovação entre os negros (contra 51% na população geral, segundo o Gallup), Obama ajuda Hillary, mas quando a questão é se sua Presidência melhorou a vida da minoria, as opiniões se dividem. Como positivas, são citadas a reforma do sistema de saúde, que ampliou o acesso, e a melhora da economia. Já tensão racial e a violência policial aumentaram.

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