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    Rival de Sarkozy acena a muçulmanos antes de prévia eleitoral

    MICHAEL STOTHARD
    DO "FINANCIAL TIMES", EM CHATOU E PARIS

    29/08/2016 19h01

    Alain Juppé, o favorito na eleição presidencial francesa do ano que vem, apelou ao país para que abrace sua população muçulmana, em lugar de estigmatizá-la, em uma tentativa de tirar a iniciativa de seu principal rival político em um momento de debate intenso sobre o lugar do Islã na sociedade francesa.

    Em seu primeiro discurso antes de o Republicanos, o principal partido francês de centro-direita, votar em eleições primárias em novembro, Juppé disse que desejava ver uma França mais inclusiva, e que apoia o direito dos imigrantes aos seus costumes culturais tradicionais.

    Reconhecendo que estava assumindo um "risco político", o prefeito de Bordeaux disse aos seus partidários que ele desejava "se aproximar dos muçulmanos".

    Lionel Bonaventure-27.ago.16/AFP
    O prefeito de Bordeaux e pré-candidato de centro direita à Presidência da França Alain Juppé participa de comício em Chatou
    O prefeito de Bordeaux e pré-candidato de centro direita à Presidência da França Alain Juppé participa de comício em Chatou

    "Para mim, os muçulmanos que praticam a religião e respeitam nossas leis e valores têm lugar na República", ele declarou.

    Os comentários dele eram um claro ataque ao seu principal rival, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que lançou sua campanha pela candidatura dos Republicanos com promessas de adotar regras mais severas de cidadania e imigração, bem como uma postura mais dura quanto à integração dos muçulmanos.

    As visões contrastantes dos dois destacam em que medida as atitudes quanto ao Islã serão um campo de batalha ideológico crucial, antes da eleição presidencial de abril de 2017.

    A França foi vítima de uma série de ataques de extremistas islâmicos e a decisão de cerca de 30 prefeitos de proibir o chamado burquíni, um traje de banho que cobre o corpo inteiro, exceto o rosto, para mulheres muçulmanas, deflagrou um acalorado debate nacional sobre o laicismo e a integração.

    As proibições provocaram protestos internacionais e foram criticadas por muitos grupos de defesa dos direitos humanos e por algumas feministas, que argumentaram que elas alimentam a intolerância.

    O principal tribunal administrativo francês determinou que a proibição fosse rescindida em uma cidade, na sexta-feira, o que provavelmente servirá como precedente para que as demais proibições sejam derrubadas. O tribunal afirmou que a proibição "violava o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei... e era manifestamente ilegal".

    No entanto, muita gente na esquerda e na direita políticas da França já havia expressado apoio às proibições. Manuel Valls, o primeiro-ministro socialista do país, disse que os burquínis refletiam uma visão de mundo baseada na "escravização da mulher".

    Sarkozy descreveu o burquíni como uma "provocação" que sustenta o islamismo radical, e argumentou que seu uso deveria ser proibido em todo o país.

    Juppé, 71, disse no final de semana que desejava ser um presidente que "unisse, em lugar de tentar dividir, a sociedade", e que não "excluiria e estigmatizaria" pessoas.

    Ele não mencionou o debate sobre o burquíni diretamente, no sábado, mas em entrevista ao diário de centro-direita "Le Figaro" disse que o país "faria bem em parar de jogar gasolina na fogueira... dadas as tensões e sofrimentos na sociedade francesa".

    Seu discurso na Île des Impressionnistes, nas imediações de Paris, onde ele foi recebido com gritos de "Juppé presidente!" e pessoas usando bonés com o logotipo "AJ! 2017", tinha por objetivo entusiasmar seus partidários antes da primária.

    "Dizem que sou duro demais ou mole demais; esquerdista demais ou centrista demais; estatista demais ou ultraliberal; gaullista ou pró-americano. Mas posso lhes garantir que estou satisfeito com as minhas políticas", ele disse. "Sou o homem certo para o posto".

    A disputa pela indicação dos republicanos deve produzir o próximo chefe de estado francês, dadas a impopularidade recorde do presidente François Hollande e a força da Frente Nacional, de extrema direita, nas recentes eleições locais.

    Uma pesquisa de opinião pública divulgada no sábado mostrava que Juppée obteria 38% dos votos no primeiro turno da primária republicana, ante 24% para Sarkozy. Em um segundo turno entre eles, Juppé ficaria com 63% dos votos e Sarkozy com 37%.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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