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    Sob impasse, Espanha deve ter terceira eleição geral em menos de um ano

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    30/08/2016 02h00

    Susana Vera/Reuters
    Spain's acting Prime Minister Mariano Rajoy (L) and Spain's Socialist Party (PSOE) leader Pedro Sanchez talk as they pose for the media before their meeting at Spanish parliament in Madrid, Spain August 2, 2016. REUTERS/Susana Vera ORG XMIT: SVP102
    O premiê em exercício da Espanha Mariano Rajoy (à esq.) recebe o líder socialista Pedro Sánchez

    Se nesta semana os líderes políticos espanhóis falharem na aprovação de seu próximo governo, como é previsto, eleitores podem ter que voltar às urnas em dezembro. O país terá passado um ano sem governo definitivo.

    Mariano Rajoy (Partido Popular, conservador) atua como premiê em exercício. Seu governo tem diversas limitações. Mas, apesar da paralisia, a Espanha prospera.

    Após anos de retração, a economia espanhola está entre as que mais crescem na zona do euro. A previsão do governo em exercício é de que o PIB (Produto Interno Bruto) suba 2,9% em 2016.

    Especialistas se perguntam, no entanto, se a Espanha não poderia crescer mais caso vivesse uma situação política mais estável.

    O governo em exercício não pode apresentar projetos de lei, e tem atrasado investimentos na infraestrutura e a nomeação de cargos.

    O cenário pode complicar-se caso não haja um novo governo a tempo de aprovar o orçamento de 2017. Nesse caso, o orçamento deste ano passaria a valer automaticamente também no próximo.

    Esse é um ponto problemático, pois o país vive sob pressão da União Europeia para reduzir os seus gastos. A dívida pública espanhola corresponde hoje a 100,9% do PIB, maior valor desde 1909.

    ECONOMIA

    O crescimento espanhol se deve, segundo a análise do economista Emilio Ontiveros, à sua integração à União Europeia. Sem o apoio do bloco europeu, afirma à Folha, o país estaria em uma situação bastante mais complicada.

    "Se fizéssemos uma análise do que teria acontecido na economia espanhola sem a rede de segurança europeia, seria muito desastroso", diz.

    A Espanha se beneficia de uma série de outros fatores, como o baixo preço das matérias primas e do petróleo. Além disso, há as vantagens do câmbio do euro em relação ao dólar, o que favorece a competição espanhola.

    "A economia está se beneficiando do impulso que esses fatores externos tiveram", afirma. É uma situação que não deve perdurar sem limite. Setores que dependem de investimento público, como construção, seguem devagar.

    POLÍTICA

    O impasse espanhol é uma novidade. Até as últimas eleições, o país se dividia entre duas grandes siglas, o Partido Popular (PP, conservador) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, esquerda). Era mais fácil ter maioria no Congresso e aprovar um governo.

    Mas o pleito de 2015 registrou o surgimento de novas forças, o Podemos (esquerda) e o Cidadãos (centro-direita), complicando a conta.

    Tanto nas eleições de dezembro de 2015 quanto nas de junho de 2016, nenhuma aliança entre os partidos conseguiu chegar ao número necessário de 176 deputados.

    A espera dos últimos meses causa estafa em todo o espectro político. Se não se resolver o impasse, é possível que a Espanha volte às urnas em dezembro. A princípio o voto seria no dia 25, Natal, mas há movimentação para antecipá-lo para o dia 18.

    Para o cientista político Pablo Simon, do think tank espanhol Politikon, há crescente rechaço aos políticos.

    "Isso contrasta com o efeito em geral produzido após as eleições, quando a insatisfação popular cai e há uma lua de mel temporária, durante a expectativa em relação ao novo governo", diz.

    PARALELO

    O exemplo histórico para o impasse espanhol é a recordista Bélgica, paralisada entre junho de 2010 e dezembro de 2011 e sem governo por 589 dias. O recorde anterior era do Camboja, de 353 dias.

    A Bélgica cresceu acima da média da zona do euro, o desemprego caiu e as previsões ruins não se concretizaram.

    O que não quer dizer que a Bélgica tenha vivido dias tranquilos. O governo formado no fim de 2011 resultou, em parte, de pressão interna e externa. A agência de classificação de risco S&P havia rebaixado a avaliação do país até a formação da coalizão.

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