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    Mentora da versão 'light' de Trump, Kellyanne Conway ganha poder

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    31/08/2016 02h00

    Carlo Allegri /Reuters
    Kellyanne Conway, diretora de campanha de Trump, após evento com o candidato em Nova York
    Kellyanne Conway, diretora de campanha de Trump, após evento com o candidato em Nova York

    Donald Trump não é o primeiro político linguarudo polemista que Kellyanne Conway tenta tornar palatável para o eleitorado americano.

    Em 2012, a estrategista defendeu Todd Akin, republicano que causou celeuma ao dizer, sem base científica, que o corpo da mulher rejeitaria uma gravidez em caso de "estupro legítimo".

    O presidenciável que já chamou mulheres de "porca gorda" (a apresentadora Rosie O'Donnel) e "feia por dentro e por fora" (Ariana Huffington, do site que leva seu sobrenome) é o Everest na carreira de Conway, 49.

    Há três décadas, ela se dedica a amaciar a imagem dos republicanos sobretudo para as mulheres, historicamente inclinadas aos democratas.

    Trump promoveu Conway, que já o assessorava e a quem conheceu numa reunião de condomínio da Trump World Tower em 2006, a codiretora de sua equipe.

    Se a democrata Hillary Clinton diz que sua candidatura à Casa Branca provocou "uma rachadura no telhado de vidro que retém a ascensão feminina, a republicana trincou a barreira invisível em casa: é a primeira mulher a gerir uma campanha presidencial para seu partido.

    Quando Trump mudou o controle da campanha há duas semanas, após uma centopeia de polêmicas que desidratou sua performance nas pesquisas, os holofotes pairaram sobre seu novo diretor-executivo, Stephen Bannon, um tipo tão afeito ao belicismo eleitoral quanto o chefe.

    É a Conway, porém, que se atribui uma guinada no comportamento do candidato. Sob sua influência, dizem colegas, ele não se meteu em grande controvérsia, fez um inédito pedido de desculpas por nem sempre "escolher as palavras certas" e sugeriu que pode recuar de posições mais duras contra a imigração.

    O tema voltará à tona nesta quarta (31) em um discurso sobre o tema que tem sido promovido como definitivo pela campanha. Sua nova diretora ajudou a redigir um memorando de 2014 que defendia uma rota para a legalização dos 11 milhões de imigrantes ilegais que Trump prometeu deportar à força.

    SUPERVISÃO ADULTA
    Avessa a palavrões ("talvez seja a mãe dentro de mim"), Conway disse à rede de TV MSNBC que conseguiu o emprego porque o empresário "sabe que não adoço a realidade, mas sou muito educada ao passar a mensagem".

    "Trump sabia que precisava de um adulto respeitado na sala, e Conway é admirada por republicanos que não têm paciência para ele", diz à Folha Jeremy Carl, do conservador Instituto Hoover.

    Ela sabe lidar como poucos com o ego do patrão, evitando sentenças como "não faça isto" -prefere dizer que seria "desagradável" se dissesse assim ou assado.

    Coautora, ao lado de uma estrategista democrata, de um livro sobre o eleitorado feminino, fundou em 1995 um centro de pesquisas especializado nas tendências dessa metade da população. A clientela inclui uma liga de beisebol, o Departamento da Justiça e a influente Associação Nacional do Rifle.

    Em 2014, aconselhou republicanos a não tratar mulheres como um bloco monolítico e restrito a temas como aborto e direitos reprodutivos.

    O partido, disse à revista "Time", não deveria falar com elas "da cintura para baixo", e sim "da cintura para cima, com nossos cérebros".

    Antes de embarcar no time de Trump, ela ajudava um grupo pró-Ted Cruz, maior rival do bilionário nas prévias. Loira franzina, que em 1982 foi eleita a Princesa do Mirtilo num concurso de beleza em Nova Jersey, Conway tem quatro filhos crianças.

    Em 2015, num programa sobre "supermães", definiu a trinca que a guia: "Família, fé e movimento constante".

    Porta-voz do conservadorismo desde os anos 1990, quando atacava na TV o então presidente, Bill Clinton (1993-2001), diz que já fez a filha trocar uma blusa turquesa por outra azul para um feriado nacional. "Turquesa não estava disponível para Betsy Ross [costureira do primeiro pendão do país, em 1776] quando ela virou a noite cerzindo a bandeira."

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