• Mundo

    Sunday, 28-Apr-2024 18:32:12 -03

    Campanha de Hillary procura biógrafo de Trump em preparação para debate

    PATRICK HEALY
    MATT FLEGENHEIMER
    DO "NEW YORK TIMES"

    31/08/2016 17h00

    Os assessores de Hillary Clinton estão conversando com o ghostwriter de "A Arte da Negociação", de Donald Trump, para compreender quais são as inseguranças mais profundas de Trump, enquanto traçam estratégias para atingi-lo e prejudicá-lo a quatro semanas do primeiro debate presidencial, o mais esperado da história política recente.

    Sua equipe também está recebendo conselhos de especialistas em psicologia que estão ajudando a criar um perfil da personalidade de Trump, para avaliar como ele deve responder a ataques e lidar com uma mulher como seu único adversário no palco do debate.

    Eles estão fazendo uma análise de estilo forense sobre as aparições de Trump nos debates das primárias republicanas, catalogando pontos fortes e fracos, bem como fatores disparadores que o levaram a agir agressivamente, de modos menos presidenciais.

    Enquanto Hillary se debruça sobre essa ampla investigação com sua equipe para o debate, mais recentemente durante várias horas na sexta-feira, e seus assessores continuam à procura de alguém que possa provocá-la como um dublê de Trump durante os debates simulados, Trump está tomando o rumo oposto.

    Apesar de ter passado horas com sua equipe de debate nos últimos dois domingos, as sessões têm sido mais livres do que especialmente focadas, e ele mal consegue esconder o seu desdém por sessões cansativas e de treinamento frente às câmaras.

    "Eu acho que você pode se preparar demais para essas coisas", disse Trump em uma entrevista na semana passada. "Pode ser perigoso. Pode parecer que você é falso ou que está recitando um roteiro –como se estivesse tentando ser alguém que não é."

    Raramente os preparativos para um debate são tão esclarecedores sobre os candidatos como o debate em si, mas as atitudes flagrantemente diferentes de Hillary e Trump em relação ao enfrentamento de 26 de setembro são mais reveladoras sobre seus egos e instintos no campo de batalha do que a maioria dos outros momentos da campanha.

    Hillary, uma debatedora profundamente competitiva, quer esmagar Trump na TV ao vivo, mas não com uma avalanche de detalhes políticos; ela busca maneiras de dar-lhe iscas para cometer besteiras. Trump, um comunicador extremamente autoconfiante, quer que os espectadores o vejam como um outsider da política que diz verdades e crê poder desestabilizar Hillary quanto à sua ética e honestidade.

    Ele vem sendo particularmente resistente às sugestões dos seus assessores de que participe de debates simulados com um dublê de Hillary. Na sua primeira sessão dedicada ao debate, no clube de Trump em Bedminster, Nova Jersey, em 21 de agosto, a apresentadora de rádio conservadora Laura Ingraham esteve à disposição para oferecer conselhos e, se Trump desejasse, fazer as vezes de Hillary, de acordo com assessores de Trump que falaram sob a condição de anonimato, porque os preparativos para o debate deveriam ser mantidos em sigilo. Ele recusou.

    Em vez disso, Trump pediu uma bateria de perguntas sobre tópicos de debate, sobre as habilidades de Hillary e possíveis moderadores, mas pessoas próximas a ele disseram que relativamente pouca coisa foi feita.

    Naquele encontro, e em outro em Bedminster no domingo sem Ingraham, Trump foi acompanhado por Roger Ailes, o presidente da Fox News deposto no mês passado após acusações de assédio sexual. Trump, na entrevista, disse que via pouca utilidade em ficar de pé no púlpito e fingir debater com seu adversário.

    "Sei quem eu sou, e isso me trouxe aqui", disse Trump, gabando-se do sucesso em suas 11 aparições nos debates das primárias e ao conquistar a nomeação republicana, em relação a políticos veteranos e debatedores refinados. "Não quero apresentar uma falsa fachada. Quero dizer, é possível que façamos um debate simulado, mas não vejo uma necessidade real disso."

    A certeza de Trump –"Sei como lidar com Hillary", disse ele– reflete sua crença de que os debates serão vencidos ou perdidos não por pontos relacionados à política ou ao domínio de detalhes, que são os pontos fortes de Hillary, mas sim por conta da autenticidade, ousadia e liderança que os candidatos demonstrem no palco.

    Disputa em três dos Estados-pêndulo* mais importantes -

    Média das pesquisas de opinião* -

    Trump tem a certeza de que possui vantagens nesse terreno, ao dizer que é provável que Hillary apareça como um típico político, cheia de frases ensaiadas.

    Para Hillary, que pode parecer mais tranquila com um compêndio de dados em suas mãos, preparação nunca é demais. Ela se reuniu na sexta-feira com os principais integrantes da sua equipe de debate –o operador democrata de longa data Ron Klain, o advogado de Washington Karen Dunn e seu estrategista sênior, Joel Benenson– e mergulhou em extensos dados da campanha sobre Trump e nos prováveis temas e perguntas do debate, de acordo com dois assessores de campanha que pediram anonimato para falar sobre a dinâmica interna da campanha.

    Ao fazer uma pesquisa em busca de dados para auxiliar na preparação de Hillary, seus assessores lançaram uma ampla rede. Entraram em contato com Tony Schwartz, coautor de "A Arte da Negociação", para que lhes desse conselhos sobre Trump nos últimos meses –apesar de a imersão de 18 meses de Schwartz na vida e nas casas de Trump haver terminado em meados dos anos 80.

    Mas os assessores de Hillary disseram que Schwartz e outros escritores que haviam observado Trump de perto –bem como especialistas em psicologia que não foram identificados–, e com quem falaram, foram fundamentais para compreender a personalidade de Trump.

    Esses assessores de Hillary concordam com a crença de Trump de que o debate não será lembrado como o confronto entre uma especialista em política e um outsider em Washington. Em vez disso, sua campanha está preparando modos para fazer com que Hillary irrite Trump e o provoque a perder as estribeiras.

    A equipe de Hillary acredita que Trump possui maior insegurança quanto à sua inteligência, seu patrimônio líquido e sua imagem como um homem de negócios bem sucedido, e essas são as áreas que estão trabalhando para ser o alvo de Hillary.

    Schwartz, em uma entrevista, recusou-se a comentar sobre conversas com a campanha de Hillary, mas disse que Trump ficaria vulnerável se Hillary se mostrasse calma, calculista e implacável ao atacar o caráter de Trump, sua volatilidade e disposição para ser o comandante-em-chefe.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024