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    Opositores venezuelanos protestam contra Maduro nas ruas de Caracas

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    01/09/2016 12h14 - Atualizado às 14h42

    A oposição venezuelana foi às ruas de Caracas nesta quinta-feira (1º) para exigir a realização do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro neste ano.

    Logo após a manifestação, o presidente venezuelano ameaçou retirar a imunidade parlamentar de opositores e realizar prisões.

    Vestidos de branco, com bandeiras da Venezuela e faixas com as frases "Mudança" e "Revogatório já", os opositores se concentram no leste de Caracas, bastião antichavista.

    Segundo as agências de notícias AP e Reuters, o protesto foi uma das maiores demonstrações de força da oposição ao governo venezuelano na última década. De acordo com os organizadores da marcha "Tomada de Caracas", mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas contra Maduro. Maduro disse que o protesto opositor reuniu entre 25 mil a 30 mil pessoas.

    "Ou saímos para marchar ou morremos de fome, o governo já não nos assusta", afirmou à AFP Ana González, 53, que viajou 12 horas de ônibus para chegar à capital.

    Na rodovia Panamericana, que dá acesso a Caracas, policiais da GNB (Guarda Nacional Bolivariana) lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que se dirigiam à capital. Segundo o jornal local "El Nacional", a rodovia estava bloqueada pela GNB desde a noite de quarta-feira (31) e pessoas desciam dos veículos para seguir a pé até Caracas.

    Pelo Twitter, opositores afirmaram que estações de metrô de Caracas amanheceram fechadas nesta quinta-feira na zona leste, algo visto como manobra do governo para enfraquecer o protesto oposicionista. Diversos estabelecimentos comerciais nessa região da cidade não abriram.

    Ainda assim, milhares de pessoas tomaram quarteirões inteiros da capital venezuelana. Um pequeno grupo chegou a lançar pedras e coquetéis molotov contra a polícia que revidou com o uso de bombas de efeitos moral. O conflito, no entanto, foi localizado, de acordo com as agências de notícias.

    "Esta manifestação vai marcar o novo rumo da Venezuela. Hoje vamos demonstrar que o referendo deve acontecer este ano porque isso é um clamor popular", disse à AFP Jose Castillo, funcionário da PDVSA (petroleira estatal), afirmando não ter medo de represálias por marchar com a oposição.

    O opositor Leopoldo López, preso desde 2014, acredita que a manifestação convocada para esta quinta-feira conseguirá uma mudança política na Venezuela, segundo uma carta publicada pelo jornal espanhol "El País".

    "Estamos convencidos de que milhões participarão e que com esta pressão popular e pacífica e o acompanhamento dos democratas do mundo (...) conseguiremos a mudança política", afirma López.

    A oposição convocou nova marcha para o dia 7 de setembro. "Mostramos ao mundo que a Venezuela quer mudança e convocamos uma nova mobilização dentro de uma semana", afirmou o porta-voz da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Torrealba, que também pediu um panelaço na noite desta quinta em todo o país.

    O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) descartou antecipar a coleta de assinaturas para o referendo, prevista para o fim de outubro. A MUD pressiona para que a coleta ocorra o quanto antes, para que o referendo possa ser realizado ainda neste ano.

    Se a consulta for feita depois de 10 de janeiro de 2017, data que marca dois terços do mandato presidencial (quatro de seis anos), o vice, Aristóbulo Istúriz, assumiria em caso de destituição de Maduro, como prevê a Constituição.

    PROTESTOS NO EXTERIOR

    O jornal "El Nacional" publicou que venezuelanos nos Estados Unidos e no Canadá também protestaram contra o governo de Maduro. Nos Estados Unidos, os manifestantes se concentraram na Times Square, em Nova York, onde cantaram o hino venezuelano.

    O Canadá teve concentrações de venezuelanos em ao menos três cidades: Montreal, Calgary e Toronto. Em todas elas, houve o apoio à manifestação feita em Caracas e o pedido de referendo.

    MARCHA PRÓ-GOVERNO

    Em resposta ao ato da oposição, o governo convocou uma marcha pró-chavismo, cujos simpatizantes, vestidos de vermelho, se concentram no centro de capital, próximo ao palácio presidencial.

    Maduro esteve na marcha e ameaçou retirar a imunidade parlamentar de congressistas, já que acusa a maioria opositora no Legislativo de armar um golpe contra seu governo.

    "Tenho pronto um decreto para retirar a imunidade de todos os cargos públicos e para ninguém utilizar a imunidade para conspirar, fazer um complô, ir contra o povo e à paz", disse ele.

    "Vou com a mão de ferro que (Hugo) Chávez me deu. Que ninguém se equivoque comigo", advertiu o presidente, que ratificou que acusará diante da justiça o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, por incitação à violência.

    Maduro disse ainda que, na segunda-feira (29), o governo conseguiu desmantelou um "acampamento paramilitar" em um bairro próximo ao palácio presidencial. "Estamos atrás de vários criminosos e espero dar boas notícias nas próximas horas", avisou Maduro durante a marcha.

    Centenas de policiais formavam uma barreira na praça Venezuela, na região central da capital, para evitar que a marcha chavista se encontrasse com a marcha oposicionista.

    JORNALISTAS EXPULSOS

    O jornal francês "Le Monde" protestou nesta quinta-feira contra a expulsão de sua enviada especial à Venezuela e de vários outros jornalistas, que cobririam a manifestação da oposição contra Maduro.

    Marie-Eve Deltoeuf, que escreve sob o pseudônimo de Marie Delcas e é correspondente do jornal na Colômbia, foi expulsa na quarta-feira pelas autoridades venezuelanas no aeroporto de Caracas, medida considerada intolerável pelo diretor do jornal, Jérôme Fenoglio.

    "Foram obrigados a assinar um documento no qual declaram sua entrada não admissível, já que não estaria conforme as disposições da regulamentação migratória", informou o jornal francês.

    John Otis, da rádio americana NPR, e César Moreno, da rádio colombiana Caracol, tiveram o mesmo problema.

    O único autorizado foi o jornalista Keyal Vyas, correspondente do jornal americano "Wall Street Journal" em Caracas desde 2011 e que dispõe de visto de residente.

    Um correspondente do "Miami Herald" e a jornalista colombiana Dora Glottman também foram expulsos na noite de quarta. Na terça-feira (30), a equipe da emissora Al Jazeera teve o mesmo destino.

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