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    Mexicanos criticam maneira como Peña Nieto tratou reunião com Trump

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

    01/09/2016 14h26

    "São as braçadas de um afogado", concluiu o ex-chanceler e acadêmico Jorge Castañeda ao tentar responder à pergunta que os mexicanos, atônitos, faziam entre si na última quarta-feira (31): "O que Enrique Peña Nieto estava pensando quando convidou Donald Trump para visitar o México.

    Para Castañeda, o mandatário mexicano simplesmente "deu a Trump uma oportunidade inédita de fazer campanha, tratando quase como um chefe de Estado alguém que, além de estar insultando os mexicanos todos os dias, está caindo nas pesquisas", disse.

    Analistas ouvidos pela Folha consideram que o presidente mexicano hoje tem pouco a perder, pois sua popularidade caiu de 40% para 20% no último ano devido à retração econômica, os escândalos de corrupção envolvendo ele e sua mulher e ao aumento da taxa de homicídios relacionados à guerra ao narcotráfico, que cresceu 16% em um ano.

    Yuri Cortez/AFP
    O candidato republicano, Donald Trump, se encontra com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto
    O candidato republicano, Donald Trump, se encontra com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto

    Nesse contexto, o encontro poderia passar uma imagem de que Peña Nieto seria um governante conciliador, disposto a desculpar os impropérios com os quais Trump vem atacando o país –chamando os mexicanos de estupradores e narcotraficantes, propondo ummuro na fronteira a ser pago pelo México e a deportação dos mais de 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA.

    "A questão é que ninguém entendeu o encontro dessa maneira. E mesmo se funcionasse para esse propósito, ainda assim ficaria a sensação de humilhação e de resignação diante dos insultos pelos quais Trump, ao final, não pediu desculpas", diz à Folha o cientista político Jean François Prud´homme, do Colegio de México.

    Para o escritor e jornalista Diego Fonseca, Peña Nieto "falhou em cada centímetro do script que tinha planejado. "Escolheu mal as palavras ao chamar de 'mal-entendidos' as qualificações brutais dos mexicanos feitas por Trump e ao deixa-lo ir sem um mínimo de reclamação, tipo de coisa que está contemplada pela diplomacia internacional."

    Na conferência de imprensa após o encontro particular dos dois, um jornalista perguntou sobre o muro, ao que Trump respondeu: "Falamos do muro, mas não sobre o seu pagamento".

    "Nesse momento, Peña Nieto não reagiu, ficou quieto, e apenas horas depois escreveu um tuíte dizendo que, sim, tinha dito a Trump que não pagaria pelo muro. No mesmo momento em que Trump dizia, no Arizona, que o México pagaria pelo muro 100%. Ficaram essas versões contraditórias que expõem ainda mais a fraqueza de Peña Nieto. O sentimento geral aqui é de indignação", afirma Prud´homme.

    As contradições também foram apontadas pelo jornalista Guillermo Osorno, editor do site "Horizontal", para quem "Peña Nieto saiu da reunião falando de coincidências enquanto Trump reafirmou as diferenças: a construção do muro, a necessidade de revisar o tratado de livre-comércio e de colocar um freio na imigração ilegal".

    "A visita foi muito mal recebida pela sociedade mexicana. Peña Nieto ainda ficou mais desmoralizado horas depois, quando Trump, no Arizona, falou com muito mais ênfase sobre a questão migratória."

    Num programa de televisão, o historiador Enrique Krauze disse que o convite de Peña Nieto foi "um erro histórico, afinal, você confronta os tiranos, não os adula."

    Já o escritor Antonio Ortuño apontou para o que considera uma visão estreita dos assessores do presidente. "Montezuma convida Hernán Cortés para almoçar e tudo sairá bem, foi o que seus funcionários lhe disseram", referindo-se ao imperador asteca e o conquistador espanhol que destruiu seu império.

    Já a romancista Ángeles Mastretta resumiu, por meio de uma mensagem nas redes sociais, como terminou a quinta-feira (31): "Vamos dormir com a vergonha e a tristeza. Não merecemos o que aconteceu no dia de hoje."

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