O presidente Barack Obama já disse que, depois de deixar a Casa Branca, quer tornar-se capitalista de investimentos, ser dono de parte de uma franquia da NBA e evitar a obrigação de tirar os sapatos nas revistas de segurança em aeroportos comerciais.

Sérias ou não, todas essas metas podem estar ao seu alcance em breve se Obama e sua mulher, Michelle, assinarem contratos para a publicação de livros após a Presidência por valores que, segundo agentes literários e grandes editoras, podem chegar a entre US$ 20 milhões e US$ 45 milhões —mais do que o bastante para pagar o aluguel mensal, estimado em US$ 22 mil, da casa de nove quartos que vão ocupar no bairro de Kalorama, Washington, e cobrir o custo de viagens em jatinhos particulares (Obama já disse que, depois que deixar de usar o avião presidencial, gostaria de evitar viajar em voos comerciais).

"A autobiografia presidencial de Obama será tranquilamente a que vai valer mais dinheiro que qualquer outra", disse Raphael Sagalyn, da agência literária ICM/Sagalyn, prevendo que Obama pode receber até US$ 30 milhões com um contrato para dois ou três livros. "E acho que Michelle Obama tem a oportunidade de vender o livro mais valioso da história de memórias de uma primeira-dama."

Outros agentes aventaram valores semelhantes, mas publishers —aqueles que de fato assinam os cheques pagos aos autores— rejeitaram essas avaliações altas; vários disseram que é pouco provável que Barack Obama receba mais que US$ 12 milhões e Michelle Obama, US$ 10 milhões.

Robert B. Barnett, que foi agente de Obama em um contrato de livro de 2004, e representantes da editora Crown, que publicou os três livros anteriores do presidente, se negaram a comentar. A Casa Branca, também.

"Depois da Presidência haverá tempo de sobra para falar de livros e contratos para livros. Por enquanto, o importante é o presidente e a primeira-dama arrancarem cada gota possível de progressos nos próximos cinco meses", falou Jen Psaki, diretora de comunicações da Casa Branca.

Obama pode ser o autor presidencial mais bem-sucedido desde Theodore Roosevelt, que escreveu 42 livros, incluindo o popular "Hunting Trips of a Ranchman", publicado em 1885, e "The Wilderness Hunter", de 1893.

Mas todo candidato presidencial vencedor desde 1952 escreveu pelo menos um livro antes de chegar à Casa Branca. John F. Kennedy teve sucesso como autor com "Retratos de Coragem", best-seller que lhe valeu um Prêmio Pulitzer. Sua autoria do livro foi posta em dúvida posteriormente.

Os três livros de Obama —"A Origem dos Meus Sonhos", "A Audácia da Esperança" e "Of Thee I Sing"— já venderam mais de 4 milhões de exemplares, segundo listas de publicação, e, de acordo com declarações financeiras, renderam US$ 10 milhões ao presidente.

HABILIDADE LITERÁRIA

Editores esperam que a habilidade literária de Obama possa garantir que sua autobiografia seja lucrativa não apenas nos primeiros anos depois de publicada, mas por décadas ainda. Entre as autobiografias de presidentes, apenas a de Ulysses S. Grant, lançada em 1885, é vista por muitos historiadores como sendo atemporal.

O primeiro livro de Obama, "A Origem dos Meus Sonhos", é elogiado por seu valor literário, e, desde que chegou à Presidência, Obama passou a ser visto amplamente como um dos mais hábeis redatores de discursos que já houve no Gabinete Oval. A esperança é que ele se disponha a revelar algo a seu próprio respeito, como fez em seu primeiro livro.

"Quando a autobiografia de Obama for lançada, vai vender muito. Mas é possível que também continue a vender muitas cópias para os filhos de nossos filhos", disse David Black, agente literário em Nova York. "Isso não acontece com frequência, mas tem boas chances de acontecer aqui, porque Obama é escritor de verdade."

EX-PRESIDENTES

Escrever livros e fazer palestras pagas tornaram-se ocupações favoritas de ex-presidentes. Depois de perder a reeleição, em 1976, Gerald Ford fez centenas de discursos e palestras. Ronald Reagan recebeu US$ 2 milhões por oito dias de palestras no Japão. Bill e Hillary Clinton ganharam US$ 153 milhões entre 2001 e 2015 com palestras pagas, segundo estimativa da CNN, e George W. Bush vem ganhando dezenas de milhões de dólares com isso, sem fazer alarde do fato.

Mas livros são a maneira preferida de ganhar dinheiro porque geralmente vendem bem e não carregam sugestões de algo possivelmente não totalmente elogiável.

Apesar de seu segundo mandato tê-lo feito um dos presidentes mais impopulares da história ao encerrar seu mandato, o livro "Decision Points", de Bush, foi sucesso editorial, tendo vendido cerca de 2 milhões de cópias e valido estimados US$ 10 milhões a Bush. A autobiografia de Bill Clinton, "Minha Vida", tornou-se best-seller; pelo menos 1,4 milhão de exemplares foram impressos.

PRIMEIRAS-DAMAS

Os livros de memórias de primeiras-damas também podem ser sucessos de vendas. Hillary Clinton recebeu um adiantamento de US$ 8 milhões por "Vivendo a História" depois de deixar a Casa Branca, e Laura Bush recebeu milhões por "Spoken From the Heart".

O agente literário Georges Borchardt, de Nova York, disse que a popularidade de Barack Obama fora dos EUA também vai garantir que os direitos de seus livros no exterior valham mais que os de qualquer presidente anterior. "E a mesma coisa se aplica a Michelle Obama", ele disse. "Ela pode escrever o que quiser."

Por um contrato de US$ 1,9 milhão que assinou em 2004 com a Crown, Barack Obama tem a obrigação de escrever outro livro de não ficção para a editora. Mas Barnett disse que esse livro não será autobiográfico, e nenhum dos entrevistados para esta reportagem achou que Obama escreverá esse livro para a Crown segundo os termos acordados em 2004.

Agentes e editores especularam que o livro de memórias de Obama pode sair em dois volumes, um para cada mandato presidencial. Ele também pode escrever um livro sobre as relações interraciais nos Estados Unidos; era esse o plano original para "A Origem dos Meus Sonhos", antes de ele converter esse livro em autobiografia.

"Acho que podemos ter uma grande surpresa vinda de Michelle", opinou a agente literária Sandra Dijkstra, de San Diego. "Mas uma coisa é certa: os Obama vão poder comprar a casa que estão alugando em Martha's Vineyard."

Tradução de CLARA ALLAIN