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    Mercosul chega a acordo para marginalizar Venezuela

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    13/09/2016 21h54

    Os quatro sócios fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) decidiram nesta terça-feira (13) marginalizar a Venezuela e criar uma presidência colegiada do bloco até o dia 1º de dezembro de 2016.

    É esse também o prazo para que a Venezuela cumpra todos os compromissos que assumiu há quatro anos, ao ser admitida no conglomerado. Se não o fizer, será suspensa.

    Boris Vergara - 5.ago.2016/Xinhua
    Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas para marcar presidência do bloco
    Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas para marcar presidência do bloco

    O Itamaraty trabalha com a certeza de que o país, mergulhado em uma crise de proporções inéditas, não terá condições de incorporar à sua legislação interna todas as regras impostas aos membros do bloco.

    Se essa expectativa se comprovar na prática, a marginalização da Venezuela será completa.

    A decisão desta terça-feira não foi unânime: Argentina, Brasil e Paraguai votaram a favor de uma presidência colegiada, mas o Uruguai preferiu abster-se. Acontece que, no minueto diplomático, o consenso se dá também quando há uma abstenção, em vez de um voto contrário.

    Consenso é a regra de ouro para a tomada de decisões no Mercosul.

    A proposta de presidência colegiada foi inicialmente lançada pela Argentina e logo encampada por Brasil e Paraguai, assim que o Uruguai abandonou a presidência de turno do Mercosul, no final de julho.

    A presidente seguinte deveria ser a Venezuela, pela ordem alfabética, mas Argentina, Brasil e Paraguai se opuseram à transferência, usando o pretexto de que a Venezuela não havia adotado, no prazo de quatro anos que venceu no dia 12 de agosto, todas as regras do bloco a que se comprometera.

    REGRAS DEMOCRÁTICAS

    Na verdade, a oposição dos três sócios não era tanto técnica como política: alegam que a Venezuela não respeita as regras democráticas e viola os direitos humanos.

    "País que tem presos políticos não é democrático", repetia sempre o chanceler brasileiro, José Serra. Aliás, Serra emitiu nota, também nesta terça, expressando preocupação pela nova onda de "prisões arbitrárias" ocorridas na Venezuela, citando especificamente o jornalista chileno Braulio Jatar.

    O Uruguai, pela boca do chanceler Rodolfo Nin Novoa, chegou a admitir que a Venezuela era uma "democracia autoritária", uma contradição em termos. Mas, mesmo assim, insistia em transferir a presidência para Caracas.

    O governo uruguaio está nas mãos da Frente Ampla, uma coligação de diferentes grupos de esquerda. Um deles, o Movimento de Participação Popular, é formado principalmente pelos antigos guerrilheiros "tupamaros" e apoia o governo da Venezuela.

    A abstenção uruguaia é uma maneira de atender à pressão de seus sócios no Mercosul sem votar contra um governo aliado de um de seus grupos internos.

    O efeito, no entanto, é o mesmo de um voto a favor da presidência colegiada: a Venezuela fica marginalizada temporariamente e ainda ameaçada de suspensão.

    Como a notícia do acordo entre os quatro só foi conhecida depois de 21h, até as 21h50 não havia reação da Venezuela, mas é óbvio que será dura.

    A presidência colegiada permite que o Mercosul volte a funcionar, inclusive para dar andamento a negociações comerciais com outros países/blocos, em especial a União Europeia.

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