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    Autor de sucesso de autoajuda, pastor é referência evangélica de Trump

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    18/09/2016 02h14

    George Etheredge/The New York Times
    Marble Collegiate Church in Manhattan, where Donald Trump was first wed and attended Sunday services off and on for almost 50 years, Aug. 26, 2016. Marble is one of AmericaÕs oldest and most famous churches, long a favorite of business leaders due to the late Rev. Norman Vincent Peale, whose books made Òthe power of positive thinkingÓ into a national catchphrase. (George Etheredge/The New York Times)
    A Marble Collegiate Church, em Nova York, igreja que Donald Trump frequentou e onde se casou

    Se alguém perguntar o livro predileto de Donald Trump, ele responderá: a Bíblia. Em segundo lugar virá "A Arte da Negociação", autoajuda corporativa que lançou em 1987.

    Depois de Deus e si mesmo, o presidenciável republicano tem uma terceira referência literária na ponta da língua: o pastor Norman Vincent Peale, "um dos melhores oradores que já conheci".

    Uma folheada rápida em "O Poder do Pensamento Positivo", best-seller de 1952 que perdurou por 186 semanas na lista de mais vendidos do "New York Times", basta para entender por que o autor exerce tanto fascínio em Trump. O livro começa recomendando: "Acredite em si mesmo! Tenha fé em suas habilidades!".

    Desde criança, o republicano que já disse "quase nunca perder" foi exposto à oratória de Peale, conhecido como "o vendedor de Deus".

    Aos domingos, Fred e Mary Trump costumavam levar o filho Donald à igreja, uma das mais antigas congregações protestantes dos EUA (fundada em 1628) e onde Peale ministrou por 52 anos.

    Jack Manning/The New York Times
    FILE -- The Rev. Norman Vincent Peale, the famous self-help author, in New York in 1988. Peale's presence once made Marble Collegiate Church in Manhattan popular with business leaders; Donald Trump attended services here off and on for almost 50 years and married his first wife there. (Jack Manning/The New York Times)
    O pastor Norman Vincent Peale, autor do best-seller 'O Poder do Pensamento Positivo', em NY, em 1988

    Na Marble Collegiate Church, na ilha de Manhattan (Nova York), Trump se casou, em 1977, com a ex-modelo tcheca Ivana Trump. Também lá conheceu sua segunda mulher, a atriz Marla Maples, com quem traiu a primeira -ao menos foi a versão de seu relações-públicas à época, estampada no tabloide "New York Post" em letras garrafais: "ELES SE CONHECERAM NA IGREJA".

    Na congregação de Peale ocorreu também, em 1999, o funeral de Fred Trump, empresário do setor imobiliário, posto que o filho seguiria.

    Peale morreu seis anos antes, aos 95, mas sua influência sobre Trump persiste. É ele o líder religioso mais citado pelo bilionário, batizado presbiteriano (outro galho do protestantismo).

    Casado três vezes, empresário de cassinos e com tiradas pouco cristãs sobre mulheres e deficientes, Trump foi visto como o menos crédulo entre os pré-candidatos à Casa Branca, num país onde 70% da população reverencia Jesus Cristo.

    É o que mostra sondagem de janeiro do Centro de Pesquisa Pew, na qual ele ficou atrás de todos os republicanos e também dos democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders: só 30% o achavam "muito ou algo religioso".

    Trump, contudo, ganhou o apoio de religiosos influentes, como o presidente da universidade evangélica Liberty, e republicanos costumam levar a melhor no voto protestante -o democrata Barack Obama perdeu para John McCain (por nove pontos, em 2008) e Mitt Romney (15 pontos, em 2012) no grupo.

    Para Mark Valeri, professor de religião da Universidade de Washington, o empresário cativa essa audiência em parte porque "agora tem 70 anos e família estável, a imagem de playboy é um passado distante".

    Mas evangélicos conservadores têm interesse, diz Valeri à Folha, em não fazer um escarcéu sobre a moral pessoal do candidato, que compensaria com "seu desdém pela atual Suprema Corte", que se posicionou pró-aborto e casamento gay.

    Ozier Muhammad/The New York Times)
    FILE - The Rev. Arthur Caliandro at Marble Collegiate Church in Manhattan, which he led after the death of the Rev. Norman Vincent Peale, Feb. 1, 2009. Donald Trump attended this church, long popular with business leaders, for almost 50 years, but hasn't been there since Caliandro died in December 2012. (Ozier Muhammad/The New York Times)
    O pastor Arthur Caliandro na Marble Collegiate Church, que ele dirige desde a morte de Norman Peale

    HUMILDADE

    Peale foi próximo da família de um presidente, o republicano Richard Nixon. Já o democrata John Kennedy era um mal a ser combatido -em 1960, Peale assinou um manifesto questionando se um católico poderia respeitar a separação entre Estado e igreja.

    Gostava de Trump, que julgava ter "um profundo traço de humildade". O empresário, por sua vez, afirmou que o pastor o via "como o melhor estudante de todos os tempos". Hoje, o bilionário se descreve como "uma pessoa da igreja aos domingos".

    O Poder Do Pensamento Positivo
    Norman Vicent Peale
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    O atual pastor sênior da Marble, Michael Brown, afirma que o candidato republicano não é mais um "membro ativo" da congregação. Inclusiva, com folhetos para a comunidade LGBT, a igreja não discrimina candidato x ou y, diz Brown. "Aqui é a casa do pensamento positivo."

    Ao "Washington Post", John Peale, 79, filho do pastor preferido de Trump, é menos diplomático. "Eu tremo", disse ele, sobre sua reação quando o presidenciável evoca o nome do pai. "Não respeito muito o sr. Trump. Não o levo muito a sério. Ressinto a publicidade pela sua conexão. É um problema para a família Peale."

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