• Mundo

    Saturday, 18-May-2024 01:22:37 -03

    Crise síria domina cúpula sobre refugiados nas Nações Unidas

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    21/09/2016 02h00

    Com quase um quarto dos refugiados do mundo, a Síria dominou o debate no maior dos encontros de chefes de Estado, a Assembleia Geral da ONU.

    No dia em que as Nações Unidas suspenderam seus comboios de ajuda humanitária no país, após ataque a um deles que deixou ao menos 20 mortos, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez um apelo a seus colegas: coloquem-se na pele dos 21,3 milhões de refugiados do mundo.

    Prestes a deixar o posto, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, abriu a sessão, condenando o bombardeio "doentio, selvagem e aparentemente deliberado".

    Omar haj kadour/AFP
    Caminhão de comboio da ONU que levava ajuda humanitária destruído perto de Aleppo, no norte da Síria
    Caminhão de comboio da ONU que levava ajuda humanitária destruído perto de Aleppo, no norte da Síria

    Em seguida, Obama —também de saída do cargo— pediu a líderes mundiais que imaginassem "como seria se o inenarrável acontecesse com a gente", e suas famílias fossem obrigadas a deixar sua terra às pressas.

    "Esta crise é um teste da nossa humanidade", disse Obama, em cúpula que convocou para tratar do tema, horas mais tarde.

    "A história nos julgará severamente se não fizermos nada agora, assim como o fracasso em agir no passado, recusando judeus que fugiam da Alemanha nazista, é uma mancha coletiva em nossa consciência."

    Além de palavras, o americano propôs números: quer que 50 nações aceitem 360 mil refugiados no próximo ano. Os EUA concordaram em receber 110 mil deles até 2017, 25 mil a mais do que acolheram nos últimos 12 meses.

    A meta, contudo, não chega a um quinto do que organizações humanitárias veem como ideal para solucionar a diáspora forçada daqueles que fogem de guerras ou perseguições —achar um novo lar para 10% dos refugiados ao ano.

    Essa era a proposta inicial de Ban Ki-moon, mas várias nações se recusaram a selar o compromisso.

    BRASIL

    Michel Temer desmarcou sua participação na cúpula e foi representado pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Ele, porém, não discursou —a honraria é restrita a chefes de Estado.

    Um dia antes, em discurso a líderes mundiais, Temer inflou o número de refugiados no Brasil: 95 mil, numa conta que somou 85 mil haitianos que vieram após o terremoto de 2010. A ONU, porém, não inclui afetados por desastres naturais na definição.

    Moraes afirmou à Folha que o Brasil concordou em receber 3.000 refugiados sírios até 2017, o dobro dos que já vivem no país.

    Segundo o ministro, o governo pode fechar convênios com ONGs sob consulta pública: R$ 1,2 milhão neste semestre e o mesmo valor em 2017, "para auxílio social e psicológico dos refugiados", fora R$ 1 milhão para reassentamento dos recém-chegados até o fim do ano que vem.

    GOTA NO OCEANO

    Diretor da Anistia Internacional, Thomas Coombes afirmou à Folha que a sugestão de Obama "é uma gota no oceano".

    "A realidade dura e fria", afirma, "é que os governos devem realocar bem mais de 1 milhão de pessoas até o fim de 2017 se quiserem que a crise termine".

    A súplica de Obama, em breve ex-presidente e em busca de um legado, foi feita no mesmo dia em que a agência de assistência humanitária da ONU suspendeu todos os seus comboios na Síria.

    Do país, há cinco anos em guerra civil, saíram 4,9 milhões de refugiados, recorde global (depois vêm Afeganistão e Somália).

    A medida se seguiu ao bombardeio de caminhões com suprimentos, destinados a 78 mil moradores de uma área controlada por rebeldes contrários ao ditador Bashar al Assad, segundo a ONU.

    A Casa Branca responsabilizou a Rússia pelo ataque -seja porque Moscou tenha enviado aviões ou apenas apoiado forças do aliado Assad.

    O secretário-geral da ONU foi duro em sua crítica ao episódio: "Justo quando você pensa que não pode ficar pior, o limite da depravação afunda mais um pouco".

    Damasco respondeu, afirmando que a ONU "se desviou de seu papel em encontrar soluções justas para problemas internacionais".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024