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    Conferência das Farc aprova acordo de paz com o governo colombiano

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

    23/09/2016 16h24 - Atualizado às 21h14

    Luis Acosta - 22.set.2016/AFP
    Guerrilheiros durante a conferência das Farc em Llanos de Yarí, na Colômbia
    Guerrilheiros durante a conferência das Farc em Llanos de Yarí, na Colômbia

    As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta sexta (23) que aprovam o acordo de paz a que chegaram as equipes negociadoras do governo colombiano e da guerrilha, no último mês, em Havana.

    "Informamos ao país, aos governos e povos do mundo que os guerrilheiros e guerrilheiras delegados a esta conferência deram respaldo unânime ao que foi acordado em Havana", disse Iván Márquez, um dos principais líderes da guerrilha.

    "É importante reforçar aqui que não há vencedores nem vencidos, foi a Colômbia quem venceu, e a América Latina", afirmou Márquez.

    John Vizcaino/Reuters
    O negociador das Farc, Iván Márquez anuncia que o acordo foi aprovado pela guerrilha em Llanos de Yarí
    O negociador das Farc, Iván Márquez anuncia que o acordo foi aprovado em Llanos de Yarí

    Agora, os próximos passos serão a assinatura formal do documento —em cerimônia a ser realizada em Cartagena nesta segunda-feira (26)— e o plebiscito, no domingo seguinte (2), quando os colombianos irão às urnas para decidir se o acordo deve ou não ser implementado.

    Reunidas desde o último sábado (17), num acampamento nos Llanos del Yarí, próximo a San Vicente del Caguán (sul), a guerrilha debateu os pontos do acordo.

    Também foram realizadas rodadas de esclarecimentos, em que os líderes explicaram à militância como será o deslocamento para as 20 "zonas de segurança" espalhadas pelo país e a entrega gradual das armas, com observação das Nações Unidas.

    As Farc decidiram também que, até maio de 2017, lançarão o partido com o qual pretendem disputar as próximas eleições legislativas e presidenciais, em 2018.

    Se o acordo for aprovado, a guerrilha poderá ocupar cinco cadeiras na Câmara de Deputados e cinco no Senado. Se não conseguir eleger essa quantidade de representantes por meio do voto direto, ainda assim poderá escolher membros para ocupar esses postos.

    Para esse processo, Márquez explicou que o Estado Maior Central, cúpula das Farc, passaria agora de 31 para 61 membros, para que possam estabelecer seu programa político, antes de apresentá-lo aos colombianos.

    O partido das Farc terá esse mesmo benefício das 10 cadeiras garantidas no Congresso também na legislatura seguinte, a que se inicia em 2022. Depois disso, apenas poderão ocupar postos que obtenham por voto direto.

    APREENSÃO

    Até a noite de quinta-feira (22), ainda havia apreensão com relação à decisão que seria tomada ao fim da conferência porque, em entrevistas à imprensa, alguns líderes haviam posto em dúvida alguns pontos do acordo.

    Um deles, conhecido como "Pastor Alape", disse que o dia da anistia, chamado por eles de "dia D", deveria ser o dia seguinte à aprovação do plebiscito. Porém, o que diz o documento é que as anistias somente ocorrerão depois de exame dos casos por parte dos tribunais especiais.

    Em outra entrevista, Márquez disse à CNN que seria difícil cumprir o prazo estipulado para a entrega gradual das armas —que, segundo o acordo, deve ocorrer dentro dos próximos 180 dias.

    Na própria sexta, o porta-voz Carlos Antonio Lozada acalmou os ânimos de todos ao afirmar que não existia "a menor possibilidade de que o que tenha sido acordado seja renegociado ou revisto".

    CRÍTICAS DA OPOSIÇÃO

    O ex-presidente Álvaro Uribe, opositor do acordo, disse que a cerimônia de segunda (26) em Cartagena é "um abuso" —pois, segundo ele, será usada por Santos para pressionar os colombianos a votarem pelo "sim".

    "O presidente está preparando esse show caríssimo, enquanto nós da oposição estamos esperando que venha debater, argumentar conosco sobre nossas críticas ao acordo", disse Uribe.

    Para a assinatura estão confirmadas as presenças do líder das Farc, Rodrigo "Timochenko" Londoño, do presidente Juan Manuel Santos e de outros 15 presidentes —a maioria da América Latina.

    O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, também comparecerão. O Brasil será representado pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra.

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