Trinta e cinco anos após o lançamento nos Estados Unidos, o livro "Mulheres, raça e classe", de Angela Davis, é traduzido no Brasil pela primeira vez. Apesar do intervalo entre a publicação original e a versão brasileira, a obra segue atual e necessária.
Atual porque a chamada "primavera das mulheres", série de movimentos feministas recentes, reavivou o debate no país; necessário porque escancara que a opressão sofrida pelas mulheres negras é ainda maior e com origem histórica na escravidão.
O título do livro fornece uma síntese das ideias da ativista. Davis faz uma intersecção entre conceitos: gênero (mulheres), raça (negra) e classe (trabalhadoras).
A abordagem continua inovadora porque não é incomum que grupos de esquerda alinhados ao marxismo se preocupem às vezes exclusivamente, com a classe, negligenciando as questões étnicas e a igualdade de gênero.
Ela faz uma revisão do processo de luta por direitos das mulheres nos EUA, do fim da escravidão até o direito ao voto. A luta pelo sufrágio feminino foi um processo pautado pelo racismo, aponta.
Mulheres, Raça E Classe |
Angela Davis |
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Podem soar estranhas ao leitor brasileiro as referências de Davis a personagens e fatos históricos americanos. Mas o leitor estará familiarizado com o passado escravocrata que aproxima os EUA do Brasil e com a contínua disparidade entre brancos e negros na sociedade.
A filósofa faz jus às mulheres que defenderam a igualdade racial de gênero, como Ida B. Wells, jornalista que denunciou os ataques violentos a negros livres por gangues guiadas pela ideologia da supremacia branca.