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    Novo embaixador escolhido por Israel para o Brasil volta a desagradar

    MARCELO NINIO
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    24/09/2016 02h00

    A nomeação do novo embaixador de Israel no Brasil, posto vago há cerca de um ano, está ameaçada por mais uma escolha controversa do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.

    Depois da crise nas relações bilaterais causada pela tentativa de enviar a Brasília um dos líderes dos colonos judeus nos territórios ocupados por Israel, Dany Dayan, Netanyahu optou pelo empresário e ativista político Yossi Sheli, um nome que também desagradou ao governo brasileiro.

    Israel ainda não pediu ao Brasil o agrément (autorização formal) para Sheli, mas o nome vazou na imprensa israelense, que viu com estranheza a escolha de alguém sem experiência diplomática e com potencial de criar novo embaraço nas relações.

    Sheli foi proibido pela Justiça de exercer funções públicas até 2015 depois de ser condenado por fraude e falso testemunho ao omitir que era membro do Likud, partido de Netanyahu, quando foi presidente do conselho de administração dos correios e diretor-geral da Prefeitura de Beer Sheva, no sul de Israel.

    Após admitir a infração, Sheli fez em 2012 um acordo judicial que o proibiu de ter cargos do Estado por três anos, até junho de 2015.

    Segundo a imprensa local, embora Israel ainda não tenha feito pedido formal ao Brasil, Netanyahu comunicou o comitê de nomeações do ministério do Exterior, pasta que acumula com o cargo de primeiro-ministro.

    A escolha de mais um nome controvertido pode complicar os esforços de deixar para trás o mal-estar envolvendo Dany Dayan, apontado em agosto de 2015 para chefiar a embaixada de Israel em Brasília.

    A escolha irritou o governo brasileiro, não apenas pela ligação de Dayan com o movimento de colonos na Cisjordânia mas também pela forma como foi divulgada.

    Ela foi anunciada por Netanyahu em rede social, sem consulta prévia ao Itamaraty, em uma quebra da tradição diplomática.

    Nascido na Argentina, Dayan, 60, liderou entre 2007 e 2013 o conselho que representa os cerca de 500 mil colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, áreas ocupadas por Israel em 1967.

    A diplomacia brasileira é contra a política de ocupação dos territórios palestinos, considerada ilegal pela maioria dos países.

    A reação do Itamaraty à nomeação de Dayan foi postergar indefinidamente a concessão do agrément, na prática rejeitando o nome, algo raro na prática diplomática. O colono acabou sendo nomeado cônsul em Nova York.

    Segundo a Folha apurou, após a rejeição do Brasil, Netanyahu tentou convencer o governo argentino a aceitar Dayan como o embaixador de Israel em Buenos Aires, mas também recebeu um não.

    ENCONTRO

    Nesta semana, o Itamaraty disse que Israel pediu encontro entre Netanyahu e o presidente Michel Temer em Nova York, à margem da Assembleia Geral da ONU, mas ele não foi possível por falta de adequação nas agendas.

    Fontes israelenses confirmaram o interesse à Folha e disseram que o objetivo era virar a página, agora que o Brasil tem governo considerado mais amigável a Israel do que o de Dilma Rousseff.

    Foi essa também a impressão de membros de grupo judaico-americano que se encontrou com o chanceler José Serra nesta semana.

    Um dos integrantes da delegação que participaram da reunião confirmou o incômodo no Itamaraty com o nome escolhido por Netanyahu.

    À Folha Serra disse que de fato espera uma nova fase nas relações com Israel, afirmando que o governo brasileiro fará esforços para ajudar no processo de negociação entre israelenses e palestinos, enquanto mantém a política de apoiar a solução de dois Estados para a região.

    Segundo o chanceler, a decisão de mandar de volta ao Brasil o embaixador em Israel, Henrique da Silveira Sardinha Pinto, apontado em 2013 pelo governo Dilma, nada tem a ver com a controvérsia envolvendo Dany Dayan.

    Tanto que Sardinha será promovido, ponderou Serra. Ele ocupará em Brasília o cargo de subsecretário geral de Comunidades Brasileiras, hierarquicamente superior ao que exercia em Tel Aviv.

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