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    Em cenário apertado, confronto na TV pode ter peso na eleição americana

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    25/09/2016 02h00

    No primeiro debate entre o democrata Al Gore e o republicano George W. Bush, em outubro de 2000, um suspiro mais profundo do primeiro enquanto ouvia a resposta do oponente repercutiu mais do que qualquer proposta sobre a qual Gore tenha falado.

    O desprezo evidente pegou mal para o democrata, e, em uma disputa que já era apertada, o deslize na linguagem corporal contou para que Gore perdesse até três importantes pontos percentuais nas pesquisas.

    Ao subirem no palco da Universidade Hofstra, em Nova York, Hillary Clinton e Donald Trump terão que se lembrar da disputa de 2000 —a que, de longe, mais se assemelha à corrida acirrada deste ano, e a única nos últimos 40 anos em que houve mudança da liderança após os embates televisionados.

    Jewel Samad/AFP
    O republicano Mitt Romney (à esq.) e o democrata Barack Obama em debate da eleição de 2012
    O republicano Mitt Romney (à esq.) e o democrata Barack Obama em debate em 2012

    Segundo especialistas, debates raramente são decisivos na história da corrida presidencial americana, mas, em um cenário apertado, eles podem ter um peso importante.

    Em seu livro "The 2012 Campaign and the Timeline of Presidential Elections" (A campanha de 2012 e a cronologia das eleições presidenciais), o professor da Universidade do Texas Richard Wlezien analisou as pesquisas de intenção de voto antes e depois dos debates nas últimas quatro décadas.

    Verificou que, nas últimas nove eleições (de 1980 a 2012), as pesquisas se moveram muito pouco nos períodos dos debates —cerca de dois ou três pontos percentuais. E que nem sempre é possível apontar se foi realmente o desempenho na TV ou alguma circunstância fora dela que levou à mudança.

    "Os debates têm efeito pequeno, mas numa eleição apertada, pequenos efeitos podem importar. E hoje as pesquisas não são 55% a 45%", disse Wlezien à Folha.

    O professor da Universidade Northeastern (Boston) Alan Schroeder, especialista em debates presidenciais, afirma que há disputas em que os confrontos na TV são mais importantes -e que a de 2016 deve ser uma delas.

    "Os debates tendem mais a reforçar percepções já existentes do que mudar opiniões, mas são importantes para dar ao eleitor a chance de ver como os candidatos se comportam sob pressão", diz.

    Só que os indecisos e os eleitores de Gary Johnson (Libertário) e de Jill Stein (Verde) somam quase 20% dos votos —e estes estarão mais suscetíveis às impressões que Hillary e Trump vão deixar.

    "Hillary é uma debatedora mais profissional e madura, então imagino que ela terá vantagem. Trump usa gestos muito agitados e tem um tom geralmente combativo, o que pode não ser bom para um debate a dois", diz Schroeder.

    O republicano ainda terá que ter um cuidado a mais. Com amplo repertório de declarações polêmicas sobre mulheres, Trump deverá evitar ser visto como sexista.

    "O gênero pode se tornar uma questão, especialmente se Trump tentar intimidar Hillary ou subestimá-la", afirma Schroeder.

    A democrata já mostrou que está disposta a levar esse tema para a disputa ao veicular, na última sexta (23), um anúncio em que reúne declarações machistas do rival.

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