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    Imagem de Peres como 'homem da paz' é contestada no Oriente Médio

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    28/09/2016 14h31 - Atualizado às 17h39

    Em meio ao luto pela morte do ex-presidente israelense Shimon Peres, 93, sua imagem de "homem da paz" foi contestada nesta quarta-feira (28).

    Alguns comentaristas, em especial em veículos dedicados ao Oriente Médio, se lembraram dele não por sua participação nos Acordos de Oslo, em 1993, mas por sua responsabilidade nos conflitos regionais e no programa nuclear israelense.

    As críticas não surpreendem. Peres está envolvido na política israelense há décadas, e ocupou os postos mais altos do país. Em sua vida, teve tempo de mudar de rumo em mais de uma ocasião.

    O próprio "Haaretz", um dos principais jornais israelenses, ressaltou as falhas do líder morto. "Não devemos nos unir ao culto", escreveu Gidi Weitz na quarta-feira.

    A revista digital israelense-palestina "+972", que tem versão em hebraico, descreveu o ex-presidente como "o homem que participou de quase todas as decisões ruins na história de Israel".

    O texto foi ilustrado por uma foto de Peres segurando uma arma durante uma visita a uma unidade de combate ao terrorismo em 2011.

    O autor, Haggai Matar, criticou o ex-presidente, por exemplo, por ter incentivado a política de assentamentos na Cisjordânia. Os colonos são considerados, hoje, um dos entraves às negociações entre Israel e palestinos.

    O site Middle East Eye publicou um obituário em que descreveu Peres como um "arquiteto da ocupação".

    O texto citou um porta-voz do grupo terrorista palestino Hamas, Sami Abu Zuhri, que teria dito que a morte de Peres era "o fim de uma fase na história da ocupação e o começo de uma nova fase de fraqueza".

    Tanto a rede Al Jazeera quanto a Al Arabiya, duas das principais no Oriente Médio, publicaram obituários em que se perguntaram se Peres havia sido um pacificador ou um criminoso de guerra. Os textos, em inglês, contrapuseram as facetas.

    Na versão em árabe veiculada pela Al Jazeera, o tom era mais duro. Peres era principalmente lembrado pela morte de civis em Qana, no sul do Líbano, em 1996.

    O jornal libanês "Al-Safir", ligado à milícia radical Hizbullah seguiu a mesma linha, descrevendo Peres como "o açougueiro de Qana".

    O site Al-Monitor, baseado nos EUA mas com diversas parcerias com a mídia árabe, publicou por sua vez uma análise mais elogiosa, com o título "Peres, o último gigante israelense", sobre a importância do ex-presidente.

    "A paz foi e continuou a ser seu maior sonho, mas um sonho não realizado."

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