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    Em plebiscito, colombianos rejeitam acordo de paz do governo com as Farc

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

    02/10/2016 19h33 - Atualizado às 00h07

    De maneira surpreendente, o "não" se impôs neste domingo (2) ao "sim" na Colômbia, por uma diferença de apenas 54 mil votos (50,2% a 49,8%), e fez naufragar nas urnas o acordo de paz assinado entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), de maneira festiva e com a presença de vários chefes de Estado da América Latina, na última segunda-feira (26).

    Os institutos de pesquisa davam vantagem ao "sim", apesar de terem apontado uma tendência de crescimento do "não".

    O presidente Juan Manuel Santos disse, na noite de domingo (2), que "apesar de ter sido por uma margem muito estreita, reconhece o resultado das urnas", mas que buscará "a paz até o último minuto" de seu mandato.

    "Escuto os que disseram 'não' e escuto os que disseram 'sim'", disse, após se reunir com membros de seu gabinete e com a equipe de negociadores do governo.

    O mandatário afirmou que o grupo retornará nesta segunda-feira (3) a Havana, onde há quatro anos o diálogo com as Farc tem sido mediado. Disse também que o cessar-fogo bilateral continua em vigor.

    Santos convocou a oposição, que impulsou o voto ao "não", a participar de uma nova fase de negociações.

    O resultado do plebiscito jogou por terra o que havia sido acertado com as Farc até agora, pois o acordo perdeu validade jurídica.

    O líder da guerrilha, Rodrigo "Timochenko" Londoño, também afirmou que seguirá buscando uma solução pacífica para o conflito e reafirmou sua "disposição de usar somente a palavra como arma de construção para o futuro". E acrescentou: "As Farc lamentam profundamente que o poder destrutivo dos que semeiam ódio e rancor tenha influenciado a opinião da população colombiana".

    A alta abstenção, como se previa, definiu a derrota da proposta do governo. Votou menos de 40% do eleitorado.

    Para sair vitorioso, o "sim" precisava, além de superar o "não" em números absolutos, obter a aprovação de ao menos 13% do eleitorado total da Colômbia, ou 4,5 milhões de votos.

    Esse patamar foi superado com folga, mas em vão.

    O que desde o começo os analistas alertavam é que o número de eleitores que comparecessem às urnas definiria o resultado –uma vez que o voto não é obrigatório na Colômbia e, nas últimas eleições, a abstenção vinha sendo alta.

    O líder da campanha do "não", o ex-presidente Álvaro Uribe, falou no fim da noite. "A democracia da nossa pátria foi superior à pressão oficial de impor o 'sim'". Segundo ele, os apoiadores do "não" querem contribuir a um novo acordo nacional. "Todos queremos a paz."

    A oposição fazia ressalvas especialmente aos pontos da Justiça transicional, que permitiria anistia e indultos para ex-guerrilheiros acusados de delitos graves; também contestavam e o artigo que garantia a participação política, com a concessão de dez cadeiras aos guerrilheiros no Congresso nas duas próximas legislaturas, além de subsídios para a formação do partido das Farc.

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