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    eleições nos eua

    Para aliados, vazamento de declaração do IR de Trump mostra genialidade

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    02/10/2016 21h27

    Donald Trump, que se vende como o homem de negócios de que os EUA precisam para prosperar, autor de best-sellers como "Pense Como um Bilionário" e "Como Ficar Rico", declarou prejuízo de quase US$ 1 bilhão em 1995.

    Mais precisamente, US$ 915.729.293, valor tão substancial que seu contador da época teve de inscrever os primeiros dois dígitos à mão -só cabiam sete no software.

    O baque financeiro foi revelado pelo "New York Times", que obteve parte da inédita declaração de 21 anos atrás do Imposto de Renda do candidato. Não é só a mancha no currículo do empresário, contudo, que pôs sua campanha em alerta.

    Quebrando uma tradição de quatro décadas, Trump vem se recusando a divulgar seus dados fiscais, sob o argumento de que primeiro eles precisam ser auditados.

    Mike Segar/Reuters
    Republican presidential nominee Donald Trump appears at a campaign rally in Miami, Florida, U.S., September 16, 2016. REUTERS/Mike Segar TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: MCS120
    Republicano Donald Trump durante ato de campanha em Miami, no mês passado

    No primeiro debate que teve com Hillary Clinton, há uma semana, a democrata sugeriu que ele talvez não seja tão rico ou dê tanto dinheiro para a caridade quanto alega. "Deve ser algo muito importante ou terrível que está tentando esconder."

    Hillary também disse que ele nunca pagou taxas federais. Embora o dado seja incorreto, Trump rebateu: "Isso me faz esperto".

    A esperteza de Trump, na declaração de 1995, seria declarar um prejuízo tão grande que lhe permitisse não pagar US$ 916 milhões em impostos federais por 18 anos (até 2013) -isso graças ao complexo sistema fiscal dos EUA, que envolve pessoas físicas e empresas e, segundo especialistas consultados pelo jornal, beneficia contribuintes mais ricos.

    Ele, de fato, sofreu revertérios financeiros no começo dos anos 1990: quatro pedidos de falência (três cassinos em Atlantic City e o Trump Plaza Hotel de Nova York). A princípio, não há irregularidades identificadas, como sonegação de imposto.

    O documento chegou à caixa de correios de uma repórter do "New York Times". No envelope, nenhum remetente, apenas um endereço: Trump Tower, o QG da campanha republicana.

    Aliados de Trump foram rápidos em tentar invalidar a reportagem. O argumento preferido deles é que o texto envereda pela especulação, pois é impossível dizer se o bilionário evitou impostos (até porque ele não expõe suas declarações).

    Outra tática é criticar um suposto partidarismo do jornal, que publicou editorial pró-Hillary chamando seu rival de "o pior candidato de um grande partido na história moderna americana".

    Vale lembrar que o "NYT" deu o furo de que a ex-secretária de Estado usava e-mail privado quando estava no governo, um dos escândalos que mais afetam a candidatura da democrata.

    Há tempos Trump se diz numa cruzada contra a "grande mídia", que acusa de ser "desonesta" e ajudar sua adversária. A bola da vez é o Google. De acordo com o republicano, o site estaria "suprimindo más notícias contra Hillary".

    Dois aliados de primeiro escalão adotaram outra narrativa. "Essa história é na verdade muito, muito boa para Trump", disse o governador Chris Christie (Nova Jersey). "Este é um cara que lutou para construir uma outra fortuna e criar milhares de novos empregos", completou.

    "Ele sabe como operar o sistema tributário em prol daqueles a quem está servindo", afirmou o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani.

    A lógica: investidores ontem, a população dos EUA amanhã. "O homem é um gênio", declarou.

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