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    Conselho de Segurança indica ex-premiê português para chefiar ONU

    GIULIANA MIRANDA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA

    05/10/2016 13h29 - Atualizado às 00h28

    O ex-primeiro-ministro de Portugal António Guterres, 67, deve ser oficializado nesta quinta-feira (6) como o próximo secretário-geral das Nações Unidas, após ter sido escolhido com 13 votos a favor e só duas abstenções pelos membros do Conselho de Segurança da organização. Havia dez nomes na disputa.

    Após a resolução ser aprovada pelo Conselho, o nome de Guterres segue para chancela na Assembleia Geral da ONU, o que costuma ser apenas uma formalidade. Se confirmado, Guterres substitui o atual secretário-geral, Ban Ki-moon, em janeiro de 2017.

    A indicação de Guterres, que durante uma década comandou a agência de refugiados da ONU (Acnur), frustra a expectativa e a pressão da opinião pública de ver uma mulher à frente da organização, que em 71 anos só foi liderada por homens.

    Apesar da quantidade recorde de candidaturas femininas e das declarações favoráveis do atual secretário, Ban Ki-moon, a ascensão de uma mulher esbarrou em divergências políticas entre os membros do Conselho, sobretudo entre Rússia e EUA, que têm poder de veto.

    Inicialmente favorita na disputa por ser mulher e do Leste europeu, região da vez no rodízio informal na ONU, a búlgara Irina Bokova, chefe da Unesco (braço cultural da instituição), acabou a corrida em quarto lugar. Na reta final, a candidata foi abandonada até por uma boa parte da delegação de seu país, que lançou uma segunda concorrente, Kristalina Georgieva.

    Com mais de 40 anos de experiência política e diplomática, Guterres soube abrir caminho e vencer as resistências, vendendo-se como uma alternativa equilibrada em tempos de polarizações.

    O agravamento da crise dos refugiados nos últimos dois anos serviu ainda para promover seu trabalho como chefe do Acnur, cargo que ocupou entre 2005 e 2015.

    A costarriquenha Christina Figueres, ex-chefe do programa contra mudanças climáticas da ONU e também postulante à vaga, resumiu o resultado: "É agridoce. Amargo: não é uma mulher. Mas doce: foi, de longe, o melhor homem na disputa", afirmou.

    Embora esta tenha sido a primeira vez que as eleições na ONU apresentaram abertamente seus candidatos, com direito a debate na TV, o processo ainda está longe de ser transparente, com decisões a portas fechadas.

    "Nenhuma reforma na ONU está completa sem uma reforma do Conselho de Segurança", disse Guterres à Folha, em maio, pouco após oficializar sua campanha. Como isso será feito, porém, não foi explicado pelo português.

    PERFIL

    Formado em engenharia, António Guterres começou cedo na vida política. Foi deputado, líder do Partido Socialista e primeiro-ministro (1995-2002).
    Católico fervoroso, o político foi criticado por membros de seu próprio partido por não ter se empenhado na campanha de um referendo, em 1998, para descriminalizar o aborto em Portugal.

    A interrupção voluntária da gravidez, defendida por vários dirigentes, acabou reprovada.

    Só em 2007, após um outro referendo promovido pelo também socialista José Sócrates, o aborto passou a ser permitido no país.

    Até agora, com exceção de alguns artigos na imprensa, os portugueses não têm se aprofundado nas críticas a Guterres. O clima geral, entre os partidos de direita e de esquerda, é de celebração. Até a conclusão desta edição, Guterres não havia se pronunciado sobre sua escolha.

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