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    Após vencer plebiscito na Colômbia, campanha do 'não' enfrenta racha

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    06/10/2016 17h20

    Três dias depois do plebiscito em que o "não" venceu o "sim", derrotando o acordo de paz assinado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os principais líderes do Centro Democrático (partido uribista) passaram a enfrentar uma crise interna.

    Liderados pelo senador e ex-presidente Álvaro Uribe, a agrupação defendeu que o acordo fazia demasiadas concessões às Farc (facilitando anistias e dando acesso direto ao Congresso entre outras coisas). Com isso, logrou vencer o "sim" com uma margem mínima –de 50,2% a 49,7%, ou seja, menos de 60 mil votos.

    Guillermo Legaria/AFP
     Demonstrators hold candles during a march for peace in Bogota, Colombia, on October 5, 2016. Colombian President Juan Manuel Santos said peace with the FARC rebels is "close," but his top opponent -former president Alvaro Uribe- demanded an overhaul of a "weak" deal rejected by voters in a referendum. / AFP PHOTO / GUILLERMO LEGARIA ORG XMIT: GLS367
    Manifestantes participam de protesto em defesa do acordo de paz com as Farc na Colômbia

    Enquanto os uribistas ganham força e exigem que o governo deve insistir em convencer as Farc a renegociar o acordo, corrigindo alguns artigos, dentro da própria força instaurou-se, nesta quinta (6), um racha.

    Um dos porta-vozes do "não", o ex-senador Juan Carlos Vélez, em entrevista ao jornal "La Republica" disse que a estratégia uribista foi "deturpar mensagens" e "deixar de explicar os acordos para para centrar-se em gerar indignação nas pessoas".

    Para isso, acrescentou Vélez, "ouvimos uns estrategistas do Panamá e do Brasil que nos disseram para basear nossa mensagem na ideia da impunidade generalizada, na elegibilidade de criminosos, enquanto que, para os estratos mais baixos, deveríamos insistir na ideia de que o governo daria subsídios aos ex-guerrilheiros (estava prevista uma "mesada" de 90% de um salário mínimo por dois anos). Em cada região usamos uma estratégia. E na costa difundimos a ideia de que o acordo nos levaria a virar um país parecido à Venezuela."

    As declarações do uribista levantaram polêmica dentro e fora do Centro Democrático. Uribe foi o que em mais alto tom advertiu Vélez. "Nossa estratégia se fundamentou em argumentos, em dar a conhecer aos colombianos os conteúdos do que se assinou em Havana, e o que ocorreria se o plebiscito fosse aprovado. Insistimos na ideia de que era necessário reformar o acordo", disse Uribe. "Nossa campanha sempre foi pedagógica", disse o senador Iván Duque.

    ARGUMENTOS

    O Centro Democrático também afirmou que não foram contratados marqueteiros ou estrategistas estrangeiros. "Nós não apelamos a mentiras ou a manipulações, apenas em argumentos. Pedimos às pessoas que se convencessem de que se aprovassem o acordo, estariam apoiando sua incorporação à Constituição", disse Uribe.

    A partir das 17h (19h), a oposição se reuniria para discutir os pontos do acordo que deseja mudar, antes de apresenta-los ao governo para que se envie às Farc. Especificamente, são cinco.

    O primeiro, que haja prisão para os delitos de lesa humanidade –o acordo previa penas de reparação, com "liberdade restringida".

    O segundo, seria impedir que os que tenham cometido tais crimes possam se candidatar, mesmo depois de cumprir pena –o acordo o permitia, mesmo durante o cumprimento das condenações. O terceiro será o de pedir que as Farc entreguem todos os seus bens, algo que não constava no documento originar.

    O quarto, que o narcotráfico seja considerado delito não-anistiável em qualquer caso _o acordo previa que, se fossem comprovadas as ligações do narcotráfico com a necessidade de arrecadar fundos para a guerrilha (o que tecnicamente se enquadraria em "crime de conexão política), poderia ser anistiado.

    E o último ponto de correção ao acordo que pedirão os uribistas refere-se às terras. Pedirão que não se criem novas zonas de reserva para os ex-guerrilheiros, algo previsto no item de "reforma agrária" do acordo.

    As cinco correções são, por ora, totalmente rejeitadas pela guerrilha, que considera que jogam por terra o já pactado. Desde Havana, seus líderes têm mostrado rejeição ao encontro entre Uribe e Santos e a ideia de que o primeiro possa sugerir emendas ao já pactado.

    "Se deixarmos a paz nas mãos de Uribe, o país será levado ao Diabo. É verdade que a Colômbia atravessa um limbo perigoso, uma zona nebulosa, mas estará pior se colocarmos a paz nas mãos de Uribe e do (ex-presidente Andrés) Pastrana (também contrário ao acordo)", disse à revista "Semana".

    No final desta quinta (6), a chanceler María Ángela Holguín, uma das designadas por Santos para fazer uma ponte com os uribistas, deu uma declaração desalentadora: "Se as Farc não quiserem abrir os acordos para as possíveis correções, não há nada que se possa fazer."

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