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    Campanha anti-Trump remete à brasileira #MeuPrimeiroAssédio

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    10/10/2016 18h50

    "O pai para quem eu trabalhava como babá parou numa estrada escura. Eu: 13 anos. Parou ao perceber que seria pego", diz Martha.

    "Meus meio-irmãos, oito e dez anos. O pai deles gargalhou quando contei e os colocou de novo na cama comigo", conta Rachael.

    "Índia, 12 anos. Cara pega na minha bunda no meio da rua. Eu grito, e uma senhora da idade da minha mãe me recrimina com raiva: 'Por que você está fazendo uma cena?'", compartilha Ramya.

    Não, Donald Trump, não "está ok" —é essa a mensagem que a campanha #NotOkay, com milhares de menções nas redes sociais, quer passar ao presidenciável republicano e a todos que concordam que alusões a abuso sexual por ele ditas há 11 anos.

    As declarações só vieram à tona agora e seriam, segundo Trump, apenas "conversa de vestiário" —daquelas em que homeNS falam besteiras que nunca deveriam vir a público.

    Jim Young/Reuters
    Republican U.S. presidential nominee Donald Trump speaks during the second U.S. presidential town hall debate between Trump and Democratic U.S. presidential nominee Hillary Clinton at Washington University in St. Louis, Missouri, U.S., October 9, 2016. REUTERS/Jim Young ORG XMIT: STL219
    O candidato republicano Donald Trump fala durante debate com a democrata Hillary Clinton

    'PRIMEIRO ASSÉDIO'

    No Brasil, movimento similar, o #MeuPrimeiroAssédio, começou um ano antes, após uma participante de 12 anos do reality "MasterChef" ser alvo de comentários como: "Essa com 14 anos vai virar aquelas secretárias de filme pornô".

    A contrapartida em inglês começou com a escritora canadense Kelly Oxford, que no sábado (8) escreveu no Twitter: "Um velho 'pega' minha 'xoxota' no ônibus e sorri. Eu tinha 12 anos".

    "Quando você é uma estrela, elas [mulheres] deixam [fazer qualquer coisa]. Pegue-as pela xoxota." Eis uma amostra do que Trump disse em 2005, num ônibus do "Access Hollywood", programa então apresentado por Billy Bush, do clã dos ex-presidentes republicanos (que, por sinal, odeiam o atual candidato do partido).

    Divulgada pelo "Washington Post", a conversa privada dava a entender que consentimento não era necessário para "fazer o que quiser" com mulheres. Talvez por isso tenha causado mais danos à campanha do empresário do que outras de suas declarações sexistas –como a vez em que o radialista conservador Howard Stern diminuiu Ivanka, uma das filhas de Trump, a um "baita traseiro", e o pai concordou: "Yeah".

    O presidenciável pediu desculpas e prometeu ser "um homem melhor", mas o ceticismo impera dentro do partido, com defecções que vão do ex-presidenciável John McCain ao presidente da Câmara, Paul Ryan, e também no eleitorado feminino.

    CULTURA DO ESTUPRO

    O #NotOkay também expõe dados sobre o que chama de "cultura do estupro" nos EUA. De cada mil casos reportados no país, a polícia saberá de 344 deles, deterá 63 acusados, 13 serão levados de fato processados, sete condenados e seis acabarão na cadeia.

    Para efeito de comparação, 20 em mil denunciados por roubo acaba encarcerados, mais do que o triplo. Os dados foram compilados pela Rainn (rede nacional de abuso, estupro e incesto).

    No Brasil, entre 2012 e 2014, a polícia registrou 149 mil boletins de ocorrência por estupros no Brasil, e 42,7 mil pessoas foram presas pelo crime (o número não inclui condenações), segundo levantamento da Agência Lupa.

    Lá e cá, há ainda a imensidão de casos que não vêm à tona porque as vítimas não denunciam seus agressores.

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