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    Cólera atormenta haitianos após passagem do furacão Matthew

    BRUNO FÁVERO
    DANILO VERPA
    ENVIADOS ESPECIAIS A PORTO PRÍNCIPE

    11/10/2016 02h00

    Diplomatas brasileiros e ONGs que atuam no Haiti preveem novas mortes nos próximos dias nas áreas mais afetadas pelo furacão Matthew, que atingiu o país na última semana e matou ao menos mil pessoas.

    Além de feridos que estão sem assistência médica adequada por conta da destruição de hospitais, muitos sobreviventes estão sem comida e sem água tratada. Segundo a ONU, o desastre é a pior crise humanitária no país desde o terremoto de 2010, que deixou 220 mil mortos.

    Andrew McConnell/Panos Pictures
    Haitianos lavam roupa na foz de um rio em Port Salut, cidade atingida pelo Matthew
    Haitianos lavam roupa na foz de um rio em Port Salut, cidade atingida pelo Matthew

    A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das que trabalham no auxílio às vítimas, disse já ter identificado um número significativo de casos de infecções e de cólera em Jérémie e em Port-à-Piment.

    Sem tratamento adequado, a doença pode matar em horas. A organização está distribuindo kits de higiene para tentar amenizar o contágio.

    Segundo a MSF, em cidades devastadas, como Petite Rivière de Nippes, moradores bebem água dos rios. Centros de saúde e de tratamento de cólera estão danificados por todo o país, relata a entidade.

    De acordo com as agências de notícias, o país começou a enterrar mortos em valas comuns no fim de semana, à medida que o cólera se espalhou por áreas devastadas.

    Segundo a Defesa Civil haitiana, mais de 175 mil pessoas permanecem em refúgios provisórios, quatro estão desaparecidas e pelo menos 246 ficaram feridas.

    'BOMBA NUCLEAR'

    De acordo com o embaixador do Brasil no Haiti, Fernando Vidal, que visitou algumas das cidades afetadas neste fim de semana, plantações de banana, base da alimentação local, e pequenas criações de gado foram completamente arrasadas.

    A situação, somada à dificuldade de levar ajuda a alguns pontos afetados, deve provocar mais mortes, analisa a embaixada.

    "Os mortos diretamente pelo furacão, infelizmente, são só a ponta do problema", afirma Cláudio Medeiros Leopoldino, ministro-conselheiro da embaixada.

    O embaixador Vidal visitou Jérémie, uma das cidades mais atingidas, neste fim de semana, e, como muitos, usa metáforas de guerra para descrever o que viu. "Parece que jogaram uma bomba nuclear. Não há mais árvores nem casas, tudo foi destruído", disse.

    "Muitas pessoas estavam sentadas, completamente em choque, sem saber o que fazer. Outros tentavam salvar os poucos pertences que lhes sobraram ", afirmou Vidal.

    O que torna a situação ainda mais crítica é que há cidades, principalmente na região sudoeste do país, que continuam inacessíveis por terra, apesar dos esforços da Minustah (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti, liderada pelo Brasil) para desbloquear as estradas.

    A situação dificulta a chegada de ajuda humanitária a esses locais. Autoridades preveem que a contagem de mortos deve aumentar significativamente quando esses locais forem acessados.

    Militares brasileiros que trabalham na missão também relataram que nos últimos dias houve pilhagem de caminhões de suprimentos que tentavam chegar às cidades mais afetadas pelo Matthew.

    O furacão, a tempestade mais forte no Caribe em quase uma década, chegou ao Haiti com ventos de 233 quilômetros por hora e chuvas torrenciais que deixaram 1,4 milhão de pessoas com necessidade de ajuda humanitária, informou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

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