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    Mãe da cidade de Madaya é 'super-heroína' de HQ sobre a guerra na Síria

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    12/10/2016 17h02

    Divulgação
    Painel da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva
    Painel da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva

    Nem o jornalista Clark Kent nem o herói Superman vivem hoje em Madaya. Cercada pelo Exército e pela milícia libanesa Hizbullah, essa cidade síria definha há mais de um ano, sem nenhuma perspectiva de ser salva da crise humanitária.

    Mas a cidade, próxima a Damasco, é lar de sua própria super-heroína: a intrépida Madaya Mom, ou a "mãe de Madaya" em português. Madaya Mom é a protagonista de um gibi lançado na segunda-feira (10) pela rede americana ABC News em parceria com a editora Marvel, que publica clássicos das revistinhas como o Homem-Aranha e os X-Men.

    A HQ foi desenhada pelo quadrinista Dalibor Talajic a partir dos relatos de uma moradora real de Madaya. O gibi supre, de certa maneira, a ausência de repórteres na cidade para noticiar os dramas cotidianos da cidade.

    Divulgação
    Painel da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva
    Painel da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva

    A pouca informação disponível vem de moradores como a mãe de Madaya, que conversam com a imprensa por telefone ou pela internet.

    A Folha entrevistou recentemente um jovem sírio que, no mesmo local, narrou agruras como ter de comer folhas de eucalipto para enganar a fome no inverno. Madaya esteve por longos meses inacessível à ajuda humanitária, e recebeu alimentos no mês passado pela primeira vez desde abril.

    O cerco foi iniciado em julho de 2015. Desde então dezenas já morreram de fome.

    A heroína do gibi batalha para manter sua família, com cinco filhos, nessas condições extremas. Não há eletricidade, por exemplo, e o fogo é alimentado pelos restos dos móveis desmembrados. A identidade dessa mãe é mantida em sigilo, como a do Superman, para sua própria proteção. A HQ é gratuita e está disponível na rede.

    Divulgação
    Capa da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva
    Capa da HQ 'Madaya Mom', de Xana O'Neill, Rym Momtaz, Dalibor Talajíc e Miroslav Mrva

    PONTO DE VISTA

    Talajic, artista de "Madaya Mom", aproveitou sua própria experiência enquanto desenhava a HQ. Ele cresceu na antiga Iugoslávia durante a sua fragmentação. "Foi fácil me identificar com o ponto de vista civil", diz à Folha.

    "A guerra tem sempre uma perspectiva atraente em um gibi ou em um filme, quase romântica. Mas não há nada de atraente na guerra, principalmente se você é um civil. Você só pode esperar que ou a guerra acabe, ou sua vida acabe. É um sentimento que eu conheço."

    Talajic não teve acesso a imagens da verdadeira Madaya Mom ou da cidade. Ele inspirou-se em fotografias de outros lugares na Síria.

    A realidade e a ficção se alimentam, nesse caso. "Histórias de heróis da vida real nos inspiram a inventar super-heróis imaginários", afirma Talajic. "Ambos têm as mesmas características. Por exemplo, nunca desistem."
    "Me diga então, quem é a maior heroína: a Mulher-Maravilha ou a Madaya Mom?"

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