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    Maior alvo do furacão no Haiti, Jérémie renasce aos trancos

    BRUNO FÁVERO
    DANILO VERPA
    ENVIADOS ESPECIAIS A JÉRÉMIE

    13/10/2016 02h00

    O cenário ainda é de devastação, mas Jérémie, uma das cidades do Haiti mais afetadas pelo furacão Matthew, começa a tentar se reconstruir e retomar sua rotina.

    Nesta quarta (12), quando a Folha visitou a cidade, a maior parte do comércio estava aberto, e muitos moradores refaziam como podiam suas casas danificadas pelos ventos de até 230km/h e pelas chuvas que causaram inundações na altura do pescoço.

    Depinas Jacadrel, que mora na periferia da cidade de 100 mil habitantes, conseguiu pregos com um amigo e tentava refazer o teto de sua casa, destruído pela queda de uma árvore. Sem dinheiro para comprar outros materiais, ele tentava reaproveitar destroços no conserto.

    "Estava em casa e tive muito medo quando o furacão passou, principalmente porque tenho um filho bebê. Quando acabou, tinha perdido tudo: móveis, papeis, roupas, comida, animais", conta.

    Desde então, ele se alimenta de uma reserva de frutas que resistiram à tempestade, como cocos e bananas, enquanto aguarda a chegada de ajuda humanitária.

    É o que também faz Venet Depine, 42, desde que sua casa, já precária antes do furacão, ficou inabitável. Só o que resta são ruínas, sobre as quais repousam poucos móveis estragados pela água; teto e paredes, que eram feitos de retalhos de chapas de metal, foram todos carregados.

    Assim que passou a tempestade na semana passada, ele conta que teve que dormir por dias na casa de um vizinho que foi menos afetado.

    Agora, tenta consertar a casa para poder retornar. O único alimento que tem é o que sobrou das bananas que plantava, mas o estoque, diz, só deve durar mais uns poucos dias —as bananeiras foram também arrancadas pelos ventos fortes.

    Histórias como a dos dois se repetem por Jérémie, onde a paisagem é de terra arrasada por toda parte, mesmo dias após o fim da tempestade que matou mil pessoas no país. Não há uma rua na cidade que não tenha uma pilha de destroços posta de canto de modo a permitir a passagem dos carros.

    COPAS CEIFADAS

    Ter um telhado inteiro sobre a casa virou artigo de luxo —até o da igreja da cidade, feita de alvenaria, despencou. A vegetação também quase não existe mais, se restringe a quilômetros de tocos de árvores que tiveram suas copas ceifadas pela ventania.

    Mesmo quem teve sua casa poupada tem dificuldades para começar a voltar à rotina, como a professora de pré-escola Joanne Joseph, 35.

    Desde que o Matthew passou, ela não foi trabalhar porque parte da escola onde dá aulas foi destruída.

    A recuperação da cidade ainda é lenta e esbarra na falta de recursos. A ajuda humanitária de várias ONGs que atuam no país chega em caminhões, aviões e barcos, mas a distribuição até as pessoas é dificultada pela condição das estradas, que ainda é ruim apesar do esforços do Batalhão Brasileiro de Força de Paz (Brabat) e de militares de outros países que atuam no local.

    No barraco de aproximadamente 10 m² onde mora com o pai e seis irmãos, Crisla Isidore, 24, ajudou a cobrir o buraco no teto com uma lona de plástico, o único material que encontrou. Foi a primeira vez que passou por um furacão, mas lembra que seu avô contava já ter enfrentado um muito forte —em outubro de 1954, o país foi atingido por uma tempestade de força comparável, o furacão Hazel, de categoria 4, que deixou ao menos 400 mortos no Haiti.

    "Tive muito medo de morrer ou de que alguém da minha família fosse decepado. Muitas coisas voavam na nossa direção."

    Editoria de Arte/Folhapress
    Destruição do furacão MatthewTempestades devastaram Jérémie, no sul do país
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